De boca em boca (2017)
Brasil (RS)
Longa-metragem | Não ficção
cor, 61 min
Companhia produtora: WA Wagner Abreu
Primeira exibição: Porto Alegre (RS), IX Semana Acadêmica da Faculdade São Francisco de Assis, Teatro do DC Shopping, 9 out 2017, seg (pré-estreia)
Texto no cartaz: "Um documentário inédito realizado em diversas bocas de fumo da capital gaúcha com depoimentos de traficantes locais, também foi abordado manifestações de moradores de uma comunidade sem voz. Porto Alegre em um ano conturbado, jovens perdendo a vida devido aos crimes violentos, esquartejamento e tortura de pessoas. Foram entrevistados dois vereadores da capital, falando seu ponto de vista sobre os jovens no crime, traficantes em bairros diferentes e um ex-detento que cumpriu 20 anos de prisão por causa do tráfico. De boca em boca foi produzido em morros e vilas das zonas Norte, Leste e Sul de Porto Alegre. Uma abordagem sobre a vida, o que esperam do futuro, o que esperam do tráfico, onde pretendem chegar, pensamentos, lazer, o que gostam de fazer, o que fazem pela comunidade e família. O documentário foi retratado por imagens de vídeo de meninos com alto poder de fogo, dinheiro e drogas".
Direção do estudante do sexto semestre de jornalismo Wagner Abreu. "Eu queria expor para todo mundo... a violência cresce muito no município, então eu quis fazer. Usei técnicas jornalísticas para isso" disse o estudante, que possui 30 anos e mora em região de periferia, no bairro Protásio Alves. A exibição contou com uma plateia de mais de 120 pessoas, sendo, em sua grande maioria, alunos e professores da faculdade. O filme mostra a realidade do tráfico nas áreas mais pobres de Porto Alegre, sob o ponto de vista dos traficantes, outros moradores e até mesmo alguns membros da Assembleia Legislativa. "Por incrível que pareça, eu não fui ameaçado pelos caras que traficam, os traficantes, ladrões, eu fui ameaçado pela polícia".
O jovem também revela que nunca teve qualquer envolvimento com o tráfico, mas que já viu conhecidos morrerem em decorrência do mesmo. "Na infância, no bairro, tinha um time. Esse time tem ainda, o Figueira. Hoje esse time só tem veterano, na sede do clube tem uma foto onde eu e mais 21 eram do time, hoje na foto quem está vivo é só eu e mais quatro". Segundo ele, a produção do documentário foi independente, contando apenas com uma pequena equipe que o auxiliou na edição dos vídeos (Lucas Amaral e Gui Silva). Levou uma semana para conseguir as fontes, um ano para fazer tudo, sendo quatro meses apenas para edição. Não houve qualquer participação ou acompanhamento da instituição de ensino durante esse processo, entretanto, o convite para estrear De boca em boca na abertura da Semana Acadêmica foi feito pela direção da faculdade.
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Sinopse
Letreiros iniciais sob imagem da Prefeitura de Porto Alegre: // Porto Alegre é a 43ª cidade mais violenta do mundo, segundo pesquisa da ONG mexicana Consejo Ciudadano. //
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Ficha técnica
IDENTIDADES
J. R. P. (1982-2017, morto dez meses após as gravações),
A. D. S. S. (1993-2017, morto oito meses após as filmagens),
V. M. R. S. (1999-2017, morto um ano após a entrevista),
Véio PC (1963-2017; 20 anos de cárcere; um ano e dois meses após ser entrevistado, falece por motivos de saúde),
Valter Nagelstein (vereador PMDB), Delegado Cleiton (vereador PDT), MC Biro.
DIREÇÃO
Direção: Wagner Abreu.
ROTEIRO
Roteiro (não creditado): Wagner Abreu.
PRODUÇÃO
Produção: Wagner Abreu.
FOTOGRAFIA
Direção de fotografia (não creditado): Wagner Abreu.
Técnica (não creditado): Ariel Freitas.
SOM
Som: não creditado.
MÚSICA
Trilhas:
• CBZ Black Saint
• Impending Doom Film
• Prolog
• Dark City
• Very Dark Trap Beat
FINALIZAÇÃO
Edição: Joaquim Lima.
Legenda, finalização, som: Lucas Amaral.
EQUIPAMENTOS E SERVIÇOS
Direção de arte: G Designer (Porto Alegre).
MECANISMOS DE FINANCIAMENTO
Companhia produtora: WA Wagner Abreu (Porto Alegre).
AGRADECIMENTOS
Agradecimentos: Douglas Machado, Nahym Karsburg, Carolina Pothin, Flávio Mendes, Guga Freitas, Cinemateca Capitólio, Cinemateca Paulo Amorim, CineBancários, Sala Redenção UFRGS.
FILMAGENS
Brasil / RS, em Porto Alegre, em lugares como: Câmara Municipal, Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul.
ASPECTOS TÉCNICOS
Duração: 1:01:04 (YuouTube)
Som:
Imagem: cor
Proporção de tela:
Formato de captação:
Formato de exibição:
DIVULGAÇÃO
DISTRIBUIÇÃO
Classificação indicativa:
Contato:
OBSERVAÇÕES
Complementação aos créditos: Cartaz do filme.
Durante a produção do longa De boca em boca, Wagner produziu outros dois documentários curtos, com títulos homônimos, selecionados para os seguintes festivais:
Cine Bodó Amazonas,
Ro de Janeiro (RJ), 6º Curta UERJ
Belém (PA), 3º Toró Belém do Pará,
Santa Maria (RS), Cinest 4º Festival Internacional de Cinema Estudantil,
Festival Curta Cerrado de Minas Gerais,
Guaíba (RS), Cinestudantil 16º Festival Nacional de Cinema Estudantil de Guaíba [6-14 nov]-Mostra Alternativa, Colégio Gomes Jardim, 9 nov 2017, 19h
Salvador (BA), Cine Favela Brasil 1ª Mostra de Cinema da Periferia [9-11 mar], Espaço Cultural Alagados (R. Silvino Pereira, Uruguai), mar 2018 [versão 2017, com 20 min]
Jaraguá do Sul (SC), 1º Festival de Cinema de Jaraguá do Sul [17-19 maio], maio 2018 [como curta e data de 2016]
São Carlos (SP), Mostra SeIS 18ª Semana de Imagem e Som-Os novos caminhos do audiovisual, UFSCar-Teatro Florestan Fernandes, jun 2018 [versão 2017, com 20 min]
Itajaí (SC), 7º Festival Nacional de Cinema Universitário Tainha Dourada [3-5 jul], Campus Itajaí da UNIVALI-Auditório do bloco E1, jul 2018
São Gonçalo (RJ), Cine Tamoio 3º Festival de Cinema de São Gonçalo [11-15 set], 8º Seção, Teatro Carequinha, 13 set 2018, 20h [versão com 20 min]
Alvorada (RS), FECEA 4º Festival de Cinema Escolar de Alvorada [20-22 nov]-Competição, nov 2018
Cariri (CE), 2º Festival Cine Cariri [19-26 jan]-Competição Documentários, jan 2019
finalista do 59º Prêmio ARI de Jornalismo.
PREMIAÇÃO (como curta)
• Festival Nacional de Cinema, Tainha Dourada, 2018: melhor direção + roteiro.
• 4º FECEA-RS/AL: melhor documentário universitário (Prêmio Eduardo Coutinho) [Faculdade São Francisco de Assis].
• 2º Cine Cariri, CE: menção honrosa.
• 1º Festival de Cinema de Jaraguá do Sul: menção honrosa curta experimental.
Grafias alternativas: G Designer (créditos iniciais) e G Dsigner (finais).
BIBLIOGRAFIA
FLECK, Giovana. 'Não é mais problema do morro': Documentário dá voz aos protagonistas do tráfico em Porto Alegre. Sul21, Porto Alegre, 14 abr 2018.
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Exibições
• Porto Alegre (RS), IX Semana Acadêmica da Faculdade São Francisco de Assis, Teatro do DC Shopping, 9 out 2017, seg (pré-estreia)
• Porto Alegre (RS), Cinemateca Capitólio, 11 out 2017, qua, 20h
• Porto Alegre (RS), CineBancários, 16 out 2017, seg, 19h30
• Porto Alegre (RS), Cinemateca Paulo Amorim-Sala ??, 28 nov 2017, ter, 19h30
• Porto Alegre (RS), Sala Redenção, 16 maio 2018, qua, 19h
• Porto Alegre (RS), Cinemateca Capitólio,
21-24, 26 jun 2018, qui-dom, ter, 15h30
28 jun, qui, 18h30 + 29 jun, 1º, 4 jul, sex, dom, qua, 14h
• YouTube, disponível
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Arquivos especiais
FLECK, Giovana. 'Não é mais problema do morro': Documentário dá voz aos protagonistas do tráfico em Porto Alegre. Sul21, Porto Alegre, 14 abr 2018.
O documentário De boca em boca reúne depoimentos sobre uma realidade que pode chocar – mas que, sob outro olhar, está nos noticiários todos os dias. Com um celular, uma câmera DSLR, dois tripés e um microfone, Wagner Abreu percorreu mais de 20 bocas de fumo para contar as histórias de quem trafica na cidade. Produzido, filmado e editado de forma independente, De boca em boca é uma resposta ao argumento do senso comum de que 'bandido bom é bandido morto'. "Algumas pessoas me procuraram querendo saber porque eu decidi dar 'voz para vagabundo'. Mas isso é problema pra todo mundo, nós não podemos ser hipócritas e achar que também não participamos desse processo".
O documentário mostra os anseios das comunidades em torno das bocas. Das denúncias de corrupção e violência policial aos relatos de abandono, evasão escolar e esquecimento do poder público. Um dos entrevistados, no sofá de sua casa, reflete sobre o que quer para o futuro. "Traficante é quem mais mata e traficante é quem mais morre. Se eu puder, vou partir pro roubo que dá mais dinheiro. Daí posso dar condições melhores pra minha família", diz.
"Eu me perguntava quem era essa gurizada, porque acabaram fazendo isso. Ninguém dá voz a eles. Não tem como saber sem ir falar com eles", defende Wagner. Além de atuar como repórter, ele dirigiu o longa. "Se a gente fala em aumento da violência no Centro, na periferia é onde se entra em um carro com um fuzil e atira sem olhar onde a bala vai pegar". Por isso, Wagner explica ter insistido no tema. "São três ou quatro facções de Porto Alegre que são os bichos ferozes. E um ataca o outro de formas cada vez mais brutais. E hoje não é mais problema do morro. Por quê?", questiona o diretor.
Apenas alguns personagens são identificados no documentário. Com uma camiseta amarrada no rosto, um jovem de 16 anos é questionado sobre o tempo que está no tráfico. "Há quatro anos", responde. Ele começou aos 12, como 'vapor', quando a pessoa vende menores quantidades. "E aonde tu quer chegar com o tráfico?", pergunta Wagner. Não há resposta.
"Ali tu vê a realidade, não é o que a TV mostra". Antes de dirigir o documentário, Wagner – que é estudante de Jornalismo – estagiava em uma emissora local. Chegava na redação às 11h e fazia a chamada 'ronda policial', em que ligava de batalhão em batalhão atrás de informações sobre as ações da polícia. "Toda hora, a mesma coisa. Apreensão de drogas, operação com tantos presos". De lá, foi trabalhar como assessor redigindo textos na Seção de Comunicação Social da Brigada Militar (EMBM-PM5). "Ali, eu percebi que o tráfico é um clã fechado. E me deu a curiosidade de saber como esses caras viviam".
Em 2016, Wagner decidiu pegar a câmera e conversar com 'os frentes' de uma boca perto de onde morava. Por viver próximo há muito tempo, tinha uma noção de quem poderia encontrar por ali. Chegou perguntando pelos nomes. Ouviu como resposta um: "Quem é tu? ". "Expliquei que morava na rua de baixo, e me perguntaram o que eu queria com os caras. Disse que eu queria entrevistar. E me disseram que a boca agora era deles, que 'correram os caras'". Nervoso, Wagner explicou a ideia, disse que precisava de apoio.
"Eu fui bem claro, não era denúncia. Não era 'Tim Lopes'. Não queria saber quem ele era, queria saber o que ele tem pra dizer". Wagner conseguiu entrevistas em três zonas de Porto Alegre: Norte, Sul e Leste. Sozinho. "Meu medo era que passassem os 'atirantes'. Daí não interessa quem tu é, vai junto", diz, se referindo aos assassinatos em massa, geralmente provocados por disputas de território entre facções.
Wagner se fez conhecido entre eles. Chegava nos vendedores, conversava. Falava de si e do projeto. Até que, em determinado momento, chegava no dono da boca. "Eu tinha que chegar no 'homem'. O tráfico é uma empresa, não adianta". Segundo ele, o que mais chocou no processo de captação foi justamente essa noção de normalidade. "Se teu pai ou tua mãe trabalham numa empresa, tu cresce achando isso natural. No tráfico é assim. E tem muita criança muito perto", explica.
Entre as principais críticas do documentário está a falta de políticas públicas. Cenas mostrando o Palácio Piratini ilustram falas e questões colocadas pelos próprios traficantes.
Joaquim Lima foi o editor do documentário. "A essência do que a gente quer é promover esse debate sobre segurança pública de uma maneira transparente e sem hipocrisia. É justo, né", afirma. Fora ele, outras três pessoas participaram da sonorização, distribuição, assessoria e direção de arte. Joca começou a editar em 2016, concluindo o projeto em 2017. "De lá pra cá, só os personagens trocaram. O jogo não muda, mudam os jogadores", diz.
Wagner complementa contado de sua experiência na polícia. "A Brigada prendia, prendia, prendia. Mas que efeito tinha isso?" Para Joca, a solução está no debate que inclua todos. "Não é só pra uma camada, uma classe. Temos que ser honestos porque o bandido não é só negro, pobre. O branco que vende em bairro nobre já não é traficante. Quando é pego, é pra consumo próprio. E se continuar assim, nada muda".
Além de editor, Joca é rapper. Ele acredita em transformação pela cultura; afirma ter visto muitas pessoas mudarem de rumo por esse caminho. "Costumo dizer que o hip hop faz muito mais que muito político por aí. A gente acredita que as pessoas merecem uma segunda, até uma terceira chance. E se a gente tiver políticas públicas, mais fácil ainda".
Final do filme. Alguns sons de espanto baixinhos são ouvidos no fundo do cinema. Um dos entrevistados é questionado sobre o fim do tráfico. "Morre vagabundo. Morre policial. E o crime não vai parar", responde.
Depois dos últimos depoimentos, tela preta. Quatro entrevistados morreram até o início das exibições. Suas cenas, censuradas, aparecem com data de nascimento e falecimento. Apenas um morreu por questões de saúde. "Um morreu queimado, outro, decapitado. Fiquei sabendo quando fui levar o documentário pronto pra eles, e as mães me contaram. Dois tinham menos de 22 anos".