Férias no sul (1967)
Brasil (RJ)
Longa-metragem | Ficção
35 mm, pb, 105 min / 99 min (YouTube)
Companhia produtora: R. P. B. Filmes
Primeira exibição: Rio de Janeiro (RJ), Maison de France, 26 jun 1967, seg, 21h30 (pré-estreia após entrega de prêmios do Cineclube 70 e Editora Civilização Brasileira)
Primeira exibição RS: Porto Alegre (RS), Guarani, 25 mar 1968, seg, 14h
Férias no sul está para Blumenau como O Preço da ilusão (Nilton Nascimento, 1958) para Florianópolis na história do cinema catarinense. Se a vontade primeira do diretor Reynaldo Paes de Barros era fazer um documentário (cf. seu depoimento a seguir), cinquenta anos depois, Férias no sul mais parece um documentário do que uma ficção. Aqui cabe a expressão cunhada por Bill Nichols: "documentário de satisfação de desejos". Pois é todo um retrato de uma época, do pensamento, das convenções, preconceitos. Consta que a estreia em Blumenau foi um grande sucesso: toda a cidade queria ver, formavam-se filas. No entanto, depois de visto vinha a decepção. O filme, não é muito simpático com a cidade.
O relato da escritora Urda Alice Klueger (escrito em 1997), resgatado por Adalberto Day em seu blog é esclarecedor e ajuda a contextualizar:
"O primeiro frisson foi das pessoas que queriam aparecer no filme: todos queriam (...) diverti-me um monte vendo a antiga juventude blumenauense, hoje transformada em gente sisuda e responsável, a fazer "pontas" no filme, compenetradíssima no seu papel de alguns minutos. Até o nosso austero ex-prefeito Victor Fernando Sasse, que naqueles idos deveria andar pelos 20 anos, aparece em longa cena, dançando num baile do Tabajara, o nosso clube mais tradicional.
Bem, depois do frisson das filmagens, houve o frisson de ver o filme (...) e ninguém perderia, por nada no mundo, de ver aquele filme que se passava na nossa cidade, embora a opinião geral fosse de ele denegrir a imagem de Blumenau. Malhou-se o pau em Férias no sul como nunca se tinha malhado o pau em filme nenhum, em Blumenau, nem mesmo naqueles em que Brigitte Bardot aparecia nua. Lembro-me como Férias no sul foi apresentado em Blumenau no Cine Blumenau, em sessão contínua para dar vazão aos quase oitenta mil blumenauenses que não perderiam de vê-lo por nada, só para depois poder falar mal. A coisa funcionava assim: abriam-se as portas do nosso maior cinema, esperava-se entrar a multidão que o encheria, fechavam-se as portas e rodava-se o filme – quando acabava, as pessoas saíam e a operação se repetia – isso por dias seguidos, sessão após sessão, sem nunca acabar a longa fila de espera que, lembro-me muito bem, ia do Cine Blumenau até onde hoje é o Banco do Brasil, uma fila de quase uns quinhentos metros. O pessoal que esperava na fila ainda não tinha visto o filme, claro – mas falava mal dele com toda a veemência, como se cada um fosse o diretor responsável. E o que é que exasperava tanto os ânimos dos blumenauenses de antanho, que tornava o filme tão terrível, que fazia com que ninguém quisesse perdê-lo?
Revi o filme faz ano e pouco, e morro de rir ao me lembrar. O famoso David Cardoso, aquele mesmo das pornochanchadas, mas que nesse tempo ainda filmava de roupa, vive uma cena de amor com uma moça da nossa cidade. A cena é num baile dum clube de Caça e Tiro, onde os dois se paqueram dançando, e depois dão o fora. A cena seguinte é deles voltando ao salão, a nossa linda moça loira sugerindo que teve suas roupas descompostas, e, oh! o frenesi dos frenesis: nossa atriz de um dia arruma o ombro da sua roupa, e, supra-sumo da sem-vergonhice para a época, deixa ver a alça do seu sutiã!
Gente, todo o pau que se quebrou em cima do filme foi por causa dessa cena fugaz, e de uma moça acertando a roupa e deixando entrever a alça de um sutiã! O escândalo foi tão grande que essa moça, que trabalhava numa loja de calçados, teve que ir embora da cidade. (...) As pessoas de hoje deveriam rever o filme, para poderem rir de seus velhos preconceitos".
Além do episódio da alça do sutiã, nos primeiros minutos o personagem do amigo que mora em Blumenau, é perguntado por Celso como é a cidade e Jorge responde: "Cidade chata, de trabalho, de gente que dorme e acorda cedo (...) que não mata a fome de turistas a cata de prazeres mais imediatos como eu (...) as garotas daqui são uma barra muito pesada (...) são umas coisinhas deliciosas, muito civilizadas, mas cama que é bom, é fogo".
Quer dizer, chega uma equipe de cinema numa cidade, mobilizam todo mundo, conseguem apoios, para no final falar mal da cidade, das pessoas, assim é fogo!
Por isso, em vez de Férias no sul este filme poderia se chamar Turismo sexual no sul, evocado na frase de Jorge.
Adalberto Day, um entusiasta do filme – e que trabalhou segundo ele como produtor, não creditado – com várias postagens no seu blog, publicou também o depoimento do jornalista Carlos Braga Mueller, outro colaborador da equipe de produção. Ele não hesita ao dizer que, lamentavelmente, Férias no sul não representou nada para a cultura local. Pelo contrário, as insinuações maldosas que o filme apresentou no roteiro criaram mal estar na comunidade quando ele foi exibido.
O filme foi banido. Hoje é cult.
O roteiro desenvolve um dispositivo que anuncia o que o personagem fará no dia seguinte, uma cadeia de contiguidade que termina na morte de Helga. Bizarro. E aí revela-se todo o conceito de uma época: Helga morre pois Helga não pode ser feliz: ela não é mais virgem! Para a personagem de Elizabeth Hartman não há problema pois é divorciada, então pode transar, fumar, usar biquíni.
Desde os distantes anos 20 a produção gaúcha não teve continuidade sistemática – isso só vai acontecer a partir de Coração de luto. Eventualmente o estado serviu de locação para realizações paulistas ou cariocas e quase sem exceção, esses produtores vem em busca daquela imagem estereotipada do gaúcho de bombacha, chimarrão, "exótico". Férias no sul é o primeiro filme "de fora" que nas suas poucas sequências dedicadas ao RS busca novos olhares sobre a região. Em Caxias do Sul destaque para Alfred Hotel, moderno, recém inaugurado, em 196?; depois o maravilhoso Monumento ao Imigrante, obra do escultor Antonio Caringi (inaugurado em 1954), ruas de Canela e a magnífica Cascata do Caracol.
Os dois atores protagonistas com experiência anterior são o mato-grossense David Cardoso e a gaúcha Elisabeth Hartmann. Cardoso – que viria a ser um dos mais importantes personagens da Boca do Lixo seja como ator, diretor ou produtor – já tinha trabalhado com Mazzaropi: O Lamparina (1963) e Meu Japão brasileiro (1964) ambos de Glauco Mirko Laurelli e também em pontas em dois de Walter Hugo Khouri: Noite vazia (1964) e O Corpo ardente (1965). Férias no sul é a sua primeira oportunidade como protagonista. A parceria com o diretor Reynaldo Paes de Barros se repetirá em Agnaldo – Perigo à vista.
Coincidentemente Elisabeth Hartmann tinha estreado no cinema em A Ilha (1962), também de Khouri e será uma das atrizes favoritas de Mazzaropi tendo atuado em sete de seus 32 filmes. Elisabeth Anna Hartmann nasce em Porto Alegre em 3 de abril de 1939, passa infância numa casa do bairro Bela Vista, tem 13 anos quando a família muda-se para a Av. Farrapos. Nos anos 50 começa a desfilar para os iniciantes estilistas Flávio e Rui Spohr, iniciando uma carreira de manequim (como Lilian Lemmertz na mesma época). Por indicação de Claudio Heemann faz um teste e é escolhida para Seis personagens à procura de um autor, produção amadora dirigida por Carlos Alberto Murtinho, com Luiz Carlos Lisboa (estreia no Theatro São Pedro em 2 de junho de 1956), o que a leva a fazer o vestibular para a primeira turma do Curso de Arte Dramática da UFRGS. Durante os três anos do CAD, entre 1958 e 1960 tem aulas com Ruggero Jaccobi – foi o primeiro diretor – e com Guilhermino César, Gerd Bornheim, Fausto Fuzer – o segundo diretor. Atua em todas as montagens do CAD nestes três anos, é a protagonista de Electra (1959, direção de Jacobbi). Seus colegas de palco neste período são João Carlos Caldasso, Luiz Carlos Magalhães, Ivette Brandalise, Amélia Bittencourt, Marian Kassow, Maria de Lourdes Anagnostopoulos, Glênio Peres, Wolney de Assis, Claudio Heeman, Luthero Luiz, Fernando Peixoto, Ênio Gonçalves, Antonio Carlos Senna. A lista é extensa e maior, mas é oportuno citar estes nomes da primeira geração acadêmico-profissional do teatro gaúcho que vão se destacar em Porto Alegre ou no eixo Rio-São Paulo como é o caso de Hartmann, Assis, Luthero Luiz, Peixoto.
Em 7 de dezembro de 1958 é tema da página central do Suplemento Feminino do Diário de Notícias em reportagem de Celia Ribeiro: "Para Elizabeth Hartmann o dia começa às sete da manhã e termina à uma" (Hemeroteca Digital). No último ano na escola, com a inauguração da TV Piratini é contratada para apresentar duas vezes por semana o programa Desfile e música. Incentivada pela mãe muda-se para São Paulo em fevereiro de 1961 onde constitui dedicada trajetória em teatro, cinema e TV. Sua história está contada por ela em A Sarah dos pampas, da coleção Aplauso.
Além de David Cardoso, outro mato-grossense é o diretor Reynaldo Paes de Barros, e, provavelmente por isso surge a parceria que se concretiza nos dois filmes relacionados à região sul – pelos motivos expostos por Paes naquele depoimento para o jornal – neste e em Agnaldo – Perigo à vista.
Barros faz parte de um não combinado e curioso grupo de cineastas de fora que filmam dois longas (integral ou trechos) no estado: Tetê Moraes, Reichenbach (este nascido em Porto Alegre), Jayme Monjardim, Esmir Filho, Hsu Chien. Fábio Barreto é exceção pois fez três.
Reynaldo Paes de Barros dirige apenas quatro longas, dois deles com sequências no Rio Grande do Sul. Antes da estreia, além de sua formação na UCLA (o filme é muito bem resolvido em temos técnicos e de gramática) ele trabalhou em sete filmes de Tarzan (dois longas e cinco episódios para televisão, filmados na Floresta da Tijuca como se fosse a África) e em outras fitas estrangeiras rodadas no Brasil como Estrada de amor (Weit ist der Weg, Wolfgang Schleif, 1960) com o célebre cantor alemão Freddy Quinn, em Salvador, Brasília e São Paulo. Depois participa como assistente em Palmeiras negras (Svarta palmkronor, Lars-Magnus Lindgren, 1968) e em dois de Jesus Franco: A Mulher do Rio (Die sieben Männer der Sumuru, 1969) e Fu Manchu e o beijo da morte (The Blood of Fu Manchu, 1968).
Episódio triste e lamentável do obscurantismo e ignorância da ditadura envolve a estreia do filme, resgatado em duas notas do Jornal do Brasil:
Férias no sul é retirado de cartaz por telefonema do brigadeiro Presser Belo – O filme Férias no sul foi retirado de cartaz, segundo afirma seu produtor, sr. Reinaldo Paes de Barros, por um simples telefonema do chefe da Divisão de Fiscalização e Estatística do Instituto Nacional de Cinema, brigadeiro Rui Presser Belo, que considerou alguns trechos desprestigiosos para as Forças Armadas, apesar de a censura o ter liberado. (Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 21 set 1967, p.16, ano LXXVII, n.143)
E: "Milicos" – No Rio, militares do gabinete do ministro do Exército disseram ontem que o termo milico, por si só, não ofende a função militar, não sabendo explicar porque o filme Férias no sul, em que ele é empregado em alguns diálogos, foi retirado do cartaz.
Férias no sul, que vinha sendo exibido desde a segunda-feira num cinema da Cinelândia, foi suspenso sob a alegação de que continha "expressões depreciativas às Forças Armadas". Ontem a Censura informou que o filme não atendia à exigência de boa qualidade.
Protesto da ABRAF
A Associação Brasileira de Autores de Filmes distribuiu ontem uma nota de protesto "diante da arbitrariedade cometida contra o filme Férias no sul, intempestivamente retirado de cartaz por iniciativa de um funcionário do Instituto Nacional do Cinema, depois de liberado pela Censura Federal".
Acrescenta a ABRAF que "não pode deixar de repudiar como irregular e autocrática a medida irresponsável que tantos danos causou aos produtores, realizador, distribuidor e exibidor do filme. Para se desenvolver e continuar no seu caminho de afirmações, o cinema brasileiro precisa antes de tudo de liberdade". (Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 22 set 1967, p.10, ano LXXVII, n.144)
Retornou ao cartaz e cumpriu singelas exibições em todo o país sem cair nas graças do público.
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Sinopse
Celso Teles chega no aeroporto de Itajaí onde Jorge o espera. O amigo o convidara para passar as férias em Blumenau. Celso é paulista e está cursando o último ano de Economia no Rio de Janeiro. Jorge precisa encontrar os pais em Porto Alegre e depois ir a Buenos Aires e Bariloche e partirá no dia seguinte deixando a casa para o amigo. Em Blumenau entram na Catedral São Paulo Apóstolo e na saída encontram Trude que convida Celso para um baile amanhã no Clube Tapejara. À noite vão à boate do Grande Hotel e Celso é apresentado para Isa Martins.
Segundo dia: Jorge vai embora. Celso sai a andar de bicicleta, é atropelado – sem sequela – por Helga. Ele vai estudar na Biblioteca Dr. Fritz Mueller e na saída encontra Isa. Ela é carioca e está escrevendo um livro técnico, apresenta a amiga Odete que o convida para a festa da colônia amanhã. À noite, no Tapejara com Trude e o namorado Rolf, Celso encontra Helga, dançam e olham-se intensamente.
Terceiro dia: Ele liga para Helga mas ela foi para Brusque. À noite vai à festa com Isa e Odete, fica com outra garota e passa mal.
Quarto dia. Ele acorda na casa de Isa em Balneário Camboriú. Os dois caminham na praia. Ele tinha 17 anos quando morou na California fazendo o terceiro ano do científico no programa de intercâmbio Exchange. Ela também morou nos Estados Unidos, quatro anos. Ele é a favor da livre empresa, da igualdade entre os sexos, da pílula e do divórcio. De volta a Blumenau, Helga o espera no Tapejara. Helga fez a universidade em Curitiba, voltou há seis meses, era noiva. Beijam-se. À noite vão ao Cine Busch, combinam de se encontrar amanhã no Tapejara. Ele deixa Helga em casa e vai para a boate onde encontra Isa. Vão para Camboriú e transam.
Quinto dia: Helga mostra Blumenau para ele. À noite fica com Isa, que chora depois do sexo.
Sexto dia: Por telefone, Helga o convida para um passeio amanhã, feriado, numa praia perto dali.
Sétimo dia: Com a lambreta emprestada de Rolf passam o dia nesta praia (Itajaí?). Ele diz que não casaria em igreja nem crê em amor eterno. Depois de algumas tentativas para transar, ela diz que ele não é o primeiro. Ele reage chamando-a de "virgenzinha de araque". À noite na boate com Isa. Ela diz que vai subir a serra e ir a Porto Alegre no dia seguinte e ele pede para ir junto.
Oitavo dia: À tarde chegam em Caxias do Sul, hospedam-se no Alfred Hotel, tiram fotos no Monumento ao Imigrante, visitam uma vinícola, vão até Canela e Gramado, Hotel das Hortênsias onde se hospedam.
Nono dia: Passeios na região: Cascata do Caracol, em Canela. Ele vê ou acha que vê Helga, desiste de ir com Isa para Porto Alegre e volta para Blumenau, encontra-se com Helga no Tapejara. Ela não disse antes porque não queria perdê-lo, falam sobre virgindade. Separam-se, mas Celso volta e se declara.
Décimo dia: Felizes, os dois na lambreta, quando um caminhão surge. Helga morre no acidente.
Décimo-primeiro dia: Celso e Trude no cemitério. O caixão é colocado na cova.
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Ficha técnica
ELENCO
David Cardoso (Celso Teles), Elisabeth Hartmann (Isa Martins).
Apresentando: Dagmar Heidrich (Helga Schneider), Claudio Vianna (Jorge).
Sheila Weickert (Trude), Marly Busch, Otilia Kohlbach, Ruth Vieira, Heinz Ruscheweyh, Elfriede Englert, Heinz Tallmann (Pai de Helga), Gunter Deeke, Walmor Reis, Mara Heidrich, Eliane Pereira, Virginia Ramos, Franz Pult,
Carmem Krueger, Bernadette Cruz, Deocélia Cunha, Maria H. Pimenta, Maura Souza, Suely Weidgenant, Linda Schwab, Rosa A. Mosimann, Beatriz Schneider, Gertrude Knihs, Pedro Reis, Hélio Telles, Ingrid Heckmann.
DIREÇÃO
Direção: Reynaldo Paes de Barros.
Assistência de direção: Álvaro Guimarães (1ª parte), Sheila Weickert (2ª parte).
Continuidade: Sheila Weickert.
ROTEIRO
História e roteiro: Reynaldo Paes de Barros.
PRODUÇÃO
Produção: Reynaldo Paes de Barros.
Direção de produção: Geraldo Mohr.
Secretaria: Magrid Heidrich.
FOTOGRAFIA
Direção de fotografia: Edgar Eichhorn, Jorge Veras.
Operação de câmera: Roberto Pace.
Eletricista chefe: José Vieira.
Eletricistas: José Dias, Zvonimir Morovie.
Maquinista: Arthur Leão.
ARTE
Maquiagem: Nena.
SOM
Técnico de som: Celso Muniz.
MÚSICA
Música: Remo Usai.
FINALIZAÇÃO
Montagem: Ismar Porto.
Montagem de negativo: Paula Gracel.
EQUIPAMENTOS E SERVIÇOS
Maquiagem: Produtos Artez-Westerley.
Laboratório de imagem: Líder Cinematográfica.
Som: Estúdio Hélio Barroso.
MECANISMOS DE FINANCIAMENTO
Companhia produtora: R. P. B. Filmes (Rio de Janeiro).
AGRADECIMENTOS
Agradecimentos:
Santa Catarina: Antonio Reinert, José Ferreira da Silva, Heinz Tallmann, Laercio Cunha e Silva, Cia. Melhoramentos de Blumenau, Prefeitura Municipal. CELESC, 23º R. I., Palmital, ??, ??, Rádio Piloto, Móveis ??.
Rio Grande do Sul: Guilherme Schultz, Mario Gardelin.
FILMAGENS
Brasil / SC, em
Itajaí, em lugares como o aeroporto, ruas;
Blumenau, em lugares como: fachada da casa da viúva Frau Peiter, na Alameda Rio Branco, já demolida (no filme é a casa de Jorge) e as internas em outra casa, no castelinho de Antonio Reinert, na R. Namy Deeke, 111; na Igreja Matriz São Paulo Apóstolo; Tabajara Tênis Clube; na Alameda Rio Branco, em frente ao antigo Correio; em frente ao Cine Busch (o filme que estava em cartaz era Doutor Jivago); na boite do Grande Hotel Blumenau; no Morro do Aipim (cena do acidente); na Caixa d'Água; na reserva florestal nos fundos da Cia. Hering, ruas;
Balneário Camboriú;
Brasil / RS, em
Caxias do Sul, em lugares como: Alfred Hotel, Monumento ao Imigrante;
Gramado, no Hotel das Hortênsias;
Canela, na Cascata do Caracol.
Período: novembro-dezembro de 1966.
ASPECTOS TÉCNICOS
Duração: 1:38:46 (YouTube)
Metragem: 3.075 metros
Número de rolos:
Som:
Imagem: pb
Proporção de tela: 1.33
Formato de captação: 35 mm
Formato de exibição: 35 mm
Idioma: Falado em português, com alguns diálogos em alemão.
DISTRIBUIÇÃO
Classificação indicativa:
Certificados:
Censura Federal 31549 entre 23.05.1967 e 03.10.1967, proibido para menores de 18 anos.
Censura Federal 31550 entre 23.05.1967 e 03.10.1967, proibido para menores de 18 anos.
Censura Federal 305 de 11.09.1967.
Distribuição: Paranaguá Produtora e Distribuidora.
Contato: Cinemateca Brasileira.
OBSERVAÇÕES
Dagmar Heidrich, Miss Blumenau 1965.
O filme sofreu cortes nas seguintes passagens de texto: "milico", "puxar o saco deles", "eles estão por cima", "quem gosta de milico é fuzil", "sacanear é a frase" e "um presidente civil eleito pelo povo".
Grafias alternativas: Nara Heidrich | Margrit Heidrich (i)
DISCOGRAFIA
LP: O Fino da música no cinema brasileiro. MIS Museu da Imagem e do Som MIS 023, 1970. Faixas dos filmes O Cangaceiro, Os Deuses e o mortos, A Penúltima donzela, Mar corrente, Os Senhores da terra, Marcelo zona sul, Riacho de sangue, Férias no sul (B1: Tema de abertura), O Meu pé de laranja lima, O Grito da terra, Estranho triângulo, Mandacaru vermelho, Ganga Zumba, Deus e o diabo na terra do sol.
BIBLIOGRAFIA
Guia de filmes. Rio de Janeiro, set 1967, p.15, n.9.
Noticiário:
RIBEIRO, Celia (reportagem); TAVARES, E. (fotos). Para Elisabeth Hartman o dia começa às sete da manhã e termina à uma. Diário de Notícias, Porto Alegre, 7 dez 1958, Suplemento Feminino, p.8-9 [BN, p.60-61], ano XXXIV, n.237.
Férias no sul. Cine-TV-lândia, Rio de Janeiro, 1967, p.20 [BN, p.15], n.323.
A loura gaúcha de Férias no sul. Cine-TV-lândia, Rio de Janeiro, 1967, p.56-57 [BN, p.49-50], n.324.
Anúncio. Diário de Notícias, Porto Alegre, 24 mar 1968, 3º Caderno, p.6 [BN, p.22], ano XLIV, n.21.
Anúncio e dias de exibições. O Estado de Mato Grosso, Cuiabá, 26 abr 1968, p.4, ano XXVIII, n.5.240.
Reynaldo Paes de Barros fala sobre Férias no sul. O Estado de Mato Grosso, Cuiabá, 28 abr 1968, p.5, ano XXVIII, n.5.241.
Anúncio e dias de exibições. O Estado de Mato Grosso, Cuiabá, 28 abr 1968, p.8, ano XXVIII, n.5.241.
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Exibições
• Rio de Janeiro (RJ), Maison de France, 26 jun 1967, seg, 21h30 (pré-estreia após entrega dos prêmios do Cineclube 70 e Editora Civilização Brasileira)
• Rio de Janeiro (RJ), Palácio, 18-20 set 1967, seg-qua, 14h, 16h, 18h, 20h, 22h
• Rio de Janeiro (RJ), Ricamar, 18-20 set 1967, seg-qua, 14h, 16h, 18h, 20h, 22h
• Rio de Janeiro (RJ), Miramar, 18-20 set 1967, seg-qua, 16h, 18h, 20h, 22h
• Rio de Janeiro (RJ), América (Tijuca), 18-20 set 1967, seg-qua, 14h, 16h, 18h, 20h, 22h
• Rio de Janeiro (RJ), Palácio, 11-17 dez 1967, seg-dom, 14h, 16h, 18h, 20h, 22h
• Rio de Janeiro (RJ), Ricamar, 11-17 dez 1967, seg-dom, 14h, 16h, 18h, 20h, 22h
• Rio de Janeiro (RJ), América (Tijuca), 11-17 dez 1967, seg-dom, 14h, 16h, 18h, 20h, 22h
• Rio de Janeiro (RJ), Tijuca, 11-17 dez 1967, seg-dom, 16h, 18h, 20h, 22h
• Rio de Janeiro (RJ), Éden, 13 dez 1967, qua
• Rio de Janeiro (RJ), Botafogo, 17-19 dez 1967, dom-ter
• Recife (PE), São Luiz, 20-23 mar 1968, qua-sab, 14h, 16h, 18h, 20h, 22h
• Florianópolis (SC), Cine São José, 20-24 mar 1968, qua-dom, 15h, 20h
• Porto Alegre (RS), Guarani, 25-31 mar 1968, seg-dom, 14h, 16h, 18h, 20h, 22h
• Porto Alegre (RS), Presidente, 25-31 mar 1968, seg-dom, 19h30, 21h30
• Porto Alegre (RS), Miramar, 25-31 mar 1968, seg-dom, 20h (+ Erik, o viking)
• Florianópolis (SC), Roxy, 26 mar 1968, ter, 16h, 20h
• Florianópolis (SC), Rajá, 27 mar 1968, qua, 20h
• Florianópolis (SC), Glória, 29 mar 1968, sex, 17h, 20h
• Florianópolis (SC), Império, 29 mar 1968, sex, 20h30
• Cuiabá (MT), Cine Tropical, 30 abr 1968, ter, 20h
• Cuiabá (MT), Cine Teatro Cuiabá, 1º maio 1968, qua, 19h, 21h
• Cuiabá (MT), Cine Bandeirantes, 2 maio 1968, qui, 20h
• Cuiabá (MT), Cine São Luiz, 3, 4 maio 1968, sex, sab, 20h
• Recife (PE), Central (Afogados), 9-11 jun 1968, dom, 14h30, 16h30, 18h30, 20h30, seg, ter, 18h30, 20h30
• Cuiabá (MT), Cine Bandeirantes, 27 jan 1971, qua, 20h30
• YouTube, disponível desde 21 dez 2014, com partes fora de sinc
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Arquivos especiais
Depoimento do diretor Reynaldo Paes de Barros dá uma ideia muito clara do processo de produção do filme.
Transcrição integral do texto localizado na Hemeroteca Digital:
Reynaldo Paes de Barros fala sobre Férias no sul. O Estado de Mato Grosso, Cuiabá, 28 abr 1968, p.5, ano XXVIII, n.5.241.
A ideia de fazer um documentário no sul do Brasil nasce em 1963, quando eu ainda estudava na Universidade da California, em Los Angeles.
No sul do Brasil, as colônias de imigrantes europeus (russos, ucranianos e poloneses no Paraná; alemães e italianos em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul) não sofreram o mesmo processo de "assimilação" de outras regiões do país.
No Vale do Itajaí, em Santa Catarina, por exemplo, os imigrantes alemães expandiram-se por uma vasta área e lhe deram uma feição tipicamente germânica, que difere bastante das regiões de cultura luso-brasileira tradicional. Achei que isso era excelente material para um documentário.
De volta ao Brasil, em 1964, estive em Santa Catarina e Rio Grande do Sul, sondando as possibilidades de fazer o documentário. Cheguei à conclusão que, por razões comerciais, o projeto era impraticável. Decidi, então, fazer um longa-metragem cuja ação transcorresse no sul. Lentamente, ao longo de dois anos e novas viagens àquelas paragens, escrevi o roteiro.
A oportunidade para rodar o filme só surgiu em 1966. Organizei rapidamente uma equipe no Rio e, em fins de outubro, rumamos para Blumenau (SC), que iria ser o nosso quartel-general no sul.
Rodamos lá o primeiro take no início de novembro e o último no dia 31 de dezembro, no Rio Grande do Sul. Tínhamos já percorrido uma vasta área e filmado em sete cidades e vários outros locais dos dois estados.
Isso dá bem uma ideia do que o filme exigiu da equipe em termos de mobilidade. Acrescente-se ainda o grande número de figurantes exigidos em várias sequências (duas sequências de bailes, três de boite, uma de restaurante, uma de praia, incluindo um grupo com lambretas etc.), muitas das quais fotografadas à noite. Várias das referidas sequências só puderam ser rodadas em fins de semana, já que era praticamente impossível conseguir figurantes em Blumenau nos dias úteis.
Eu já tinha uma razoável experiência de cinema, inclusive como diretor de fotografia, antes de acumular as funções de argumentista-roteirista-produtor-diretor de Férias no sul. Posso dizer seguramente que o filme duplicou minhas experiências. Além da equipe ser pequena (oito pessoas, reduzidas a sete após vinte dias de filmagens), tivemos que trabalhar sempre com atores (exceto os dois principais) sem nenhuma experiência de cinema, que exigiram da direção cuidados especiais.
Um outro problema: após fotografar 1/3 da fita, o diretor de fotografia e câmera, Jorge Véras, teve que regressar ao Rio. Substitui-o Edgar Eichhorn, um veterano e excelente fotógrafo, mas que não opera a câmera. Vi-me, assim, na necessidade de operar a máquina em todas as cenas que envolviam correção de foco. Obviamente, um diretor não pode ver e dirigir a ação com a mesma eficiência, através de um visor. Surpresas desagradáveis e reações não desejadas apareceram nos copiões vistos posteriormente,
O pior problema que enfrentamos, porém, foi o da demora dos copiões graças às péssimas conexões com a ponte aérea Rio-São Paulo-Florianópolis. Assistíamos o copião de uma cena em Blumenau geralmente 10 ou mais dias depois de ter sido filmada. Isso realmente nos trouxe alguns aborrecimentos. Tive, contudo, um fator de grande valia: uma segunda máquina (câmera) após 15 dias de trabalho. Em todas as sequências que envolviam grande número de figurantes, ganhei tempo e metragens preciosos, "catando" detalhes com a câmera na mão, colhendo planos mais distantes da ação. Em resumo, foi um filme difícil, mas valeu.
Ao contrário do que o título possa sugerir, Férias no sul não é apenas um travelogue superficial sobre o sul. Se há em todo o filme uma intenção evidente de revelar a beleza do ambiente e mostrar o que é típico e diferente, isso é sempre feito em função da história e dos conflitos entre os seus personagens. Acho que o primeiro filme de um diretor é sempre uma experiência difícil porque ele toma contato e tem que manipular uma série de novas coordenadas.
Julgando que – antes de tentar grandes voos – é mais importante dizer bem coisas simples, fiz o filme sem maiores pretensões que a de contar uma história. Quero dizer, contá-la convincentemente, em termos de cinema.