O Pecado da vaidade (1932)
Brasil (RS)
Longa-metragem silencioso | Ficção
35 mm, pb, (7 partes)
Companhia produtora: Gaúcha Film
Primeira exibição: Porto Alegre (RS), Apollo, 14 dez 1932, qua, "sessões corridas das 19h30 em diante"
Filme desaparecido, O Pecado da vaidade é o canto de cisne da produção gaúcha silenciosa de ficção, fazendo parte dos surtos regionais de produção cinematográfica como o de Cataguases (MG) ou de Campinas (SP). Nesse contexto aparecem no Rio Grande do Sul, nomes como E. C. Kerrigan, Carlos Comelli e Eduardo Abelin. Eduardo Abelin (1900-1984), um jovem de família humilde, nasceu em Cachoeira do Sul. Após a separação dos pais, ele buscou o sustento através de vários empregos, como sapateiro, eletricista, mecânico e até chofer de praça. Sempre apaixonado por cinema, e comparado fisicamente com o ator norte-americano Eddie Polo (1875-1961), tentou engatar uma carreira no Rio de Janeiro – sem sucesso. Ao voltar para Porto Alegre, fundou a sua própria empresa, a Gaúcha Film, na qual desempenhou várias funções (ator, produtor, roteirista, diretor), assinando sete títulos, todos desaparecidos. Seus filmes mais conhecidos são Em defesa da irmã (1926, curta em duas partes), sobre a vingança de um irmão contra o homem que estuprou sua irmã; O Castigo do orgulho (1927, entre 5 e 7 partes), centrado nas reflexões de um pai que tenta impedir o casamento da filha; O Pecado da vaidade (1932, 7 partes), acerca de uma esposa que abandona o marido, vindo a se arrepender; e A Avançada das tropas gaúchas (1930, curta), que documentou a revolução de 1930, seguindo Getúlio Vargas (1882-1954).
Em função do amadorismo ainda presente no cinema nacional, episódios inusitados acompanharam muitas filmagens da época. No caso de Em defesa da irmã, Abelin chegou a perder um dente pivô em cena, pelo fato de seu personagem gritar algo demais no set. Um cavalo também não pôde ser contido, levantando poeira na conclusão de um plano, não editado. No desfecho dessa película, após filmar uma cena de morte, outro artista foi avisado pelo operador de câmera que poderia se levantar do chão. O comando foi seguido, e o indivíduo aproveitou para fumar um cigarro – num movimento captado pelas câmeras. No dia da estreia, essa sequência não foi cortada, sendo exibida na íntegra para o público, gerando comentários maliciosos sobre "o filme do homem que morreu e se levantou para fumar um cigarro".
Dotado de espírito aventureiro e com jeito de galã, Abelin soube fazer uso da publicidade para divulgar os seus filmes, inclusive aplicando "golpes honestos": pedia que amigos se manifestassem durante as exibições, enaltecendo o mérito das produções e pedindo contribuições em dinheiro. O realizador também teve a sua própria escola de atuação, utilizada para revelar talentos. E envolveu-se em curiosas atividades, como a quiromancia e as provas automobilísticas, nas quais ganhou o apelido de Ás do volante por conta dos malabarismos e acrobacias com as quatro rodas. Nos anos 1930, se mudou em definitivo para Niterói, onde sobreviveu como exibidor itinerante de filmes em praças públicas, quando isso ainda era permitido. Também ganhou dinheiro como Professor Edu, mestre em Ciências Ocultas, sem jamais alcançar o sucesso de outrora.
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Sinopse
Sete partes. Ernesto, vendedor na praça, é casado com Norma. Vida modesta de classe média. A mãe de Norma, vaidosa, aconselha a filha a fazer exigências e quando Ernesto chega em casa trazendo frutas, Norma pede joias. O marido explica que não pode dar luxo. A situação fica tensa e Ernesto acaba mandando a mulher embora. A mãe tinha estabelecido relações com um tal de Falcão, que a espera num restaurante, junto com a filha. Falcão lhe promete de tudo, luxo e joias. O tempo passa. Ernesto tem outra mulher, Ivone. Falcão dá o fora. Norma fica só. Se encontra com outros homens. Tempos depois, já envelhecida e decadente, trabalha como lavadeira. Ernesto enriqueceu, desce de um hidroavião com a segunda mulher. Depois, no Palacete, com sua criança. No portão uma velha pedindo esmola, que a criança vem trazer. A velha vê e reconhece Ernesto. A mãe de Norma pensa: "Eis o pecado da vaidade". Relembra os momentos em que ela dava conselhos para a filha.
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Ficha técnica
ELENCO
Eduardo Abelin (Ernesto), Norma Santos (Norma),
Ernestina Machado (mãe de Norma), Ivone Campos (Ivone), Sebastião Confoloni (Falcão??), Antonio Nunes (Cínico??), Jayme Portugal, Canguru.
DIREÇÃO
Direção: Eduardo Abelin.
ROTEIRO
Roteiro: Eduardo Abelin.
PRODUÇÃO
Produção: Eduardo Abelin.
FOTOGRAFIA
Fotografia: Paulo Pavessi.
FINALIZAÇÃO
Revelação e copiagem: Carlos Pavessi.
MECANISMOS DE FINANCIAMENTO
Companhia produtora: Gaúcha Film (Porto Alegre).
ASPECTOS TÉCNICOS
Duração: (7 partes)
Metragem:
Número de rolos:
Som: silencioso
Imagem: pb
Proporção de tela: 1.33
Formato de captação: 35 mm
Formato de exibição: 35 mm
FILMAGENS
Brasil / RS, em Porto Alegre.
DISTRIBUIÇÃO
Classificação indicativa: "Impróprio para senhoritas e menores" (cf. anúncio).
OBSERVAÇÕES
Trechos sonorizados por uma belíssima partitura musical. Discos acompanhavam a projeção.
Cartaz: reproduzido em: A Tela, Porto Alegre, 1932 e em: Correio do Povo, Porto Alegre, 15 fev 1973, p.15, ilustrando reportagem sobre Antonio Nunes;
Cf. Antonio Jesus Pfeil, 1994, cópia foi entregue a "um tal Boaventura".
Na noite de 22 de fevereiro de 1978, durante o 6º Festival de Gramado, com a presença de Eduardo Abelin e Antonio Nunes, foi descerrada uma placa de bronze com a inscrição seguinte: "A Eduardo Abelin, pioneiro do cinema gaúcho, e Antonio Nunes, intérprete de seu filme Pecado da vaidade, a homenagem do Festival de Gramado. Fevereiro de 1978".
Títulos alternativos: O Fim da mulher vaidosa
Grafias alternativas: O Peccado da vaidade
BIBLIOGRAFIA
ANDRADE, Rudá de; GALVÃO, Maria Rita. Eduardo Abelim. In: Cinema brasileiro: 8 estudos. Rio de Janeiro: Embrafilme / Funarte / MEC, 1980, p.51-87.
PFEIL, Antonio Jesus. Os Caminhos que levaram Eduardo Abelin a um sonho sem fim. Canoas: Ed. do Autor, 1994. 32p. il.
Noticiário:
Cinematografia brasileira. Cine Luz – Revista Cinematographica, Pelotas, 16 out 1932 [BN, p.16], ano I, n.2.
LUIZ, Gilberto. O nosso cinema. Cine Luz – Revista Cinematographica, Pelotas, 16 out 1932, [BN, p.18], ano I, n.2.
O Pecado da vaidade. Correio do Povo, Porto Alegre, 4 nov 1932, p.10.
O Pecado da vaidade, ainda este mês, no Apollo. Correio do Povo, Porto Alegre, 10 nov 1932, p.16.
O filme O Pecado da vaidade já está concluído. Correio do Povo, Porto Alegre, 20 nov 1932, p.14.
O Pecado da vaidade, dentro de poucos dias nesta capital. Correio do Povo, Porto Alegre, 29 nov 1932.
Anúncio. Cine Luz – Revista Cinematographica, Pelotas, 11 dez 1932, [BN, p.10], ano I, n.10.
Anúncio. Correio do Povo, Porto Alegre, 14 dez 1932, reproduzido em PFEIL, 1994.
TUIA [Arthur Oscar GERHARDT]. Cocktail cinesco. Cine Luz – Revista Cinematographica, Pelotas, 1º jan 1933, ano I, n.13.
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Exibições
• Porto Alegre (RS), Apollo, 14 dez 1932, qua, "sessões corridas das 19h30 em diante"
• Porto Alegre (RS), Palacio, 21 mar 1933, ter
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Arquivos especiais
Noticiário e crítica:
LUIZ, Gilberto. O nosso cinema. Cine Luz – Revista Cinematographica, Pelotas, 16 out 1932, [BN, p.18], ano I, n.2.
O Rio Grande do Sul, também trabalha ativamente pelo engrandecimento do "nosso" cinema.
A Gaúcha-Film, sob a direção de Eduardo Abelin, está filmando O Pecado da vaidade.
Uma história simples, sobre a vida moderna, que os conhecimentos novos da moderna técnica cinematográfica que Eduardo Abelin adquiriu no Cinédia, farão uma grande produção.
O Pecado da vaidade será mais uma pequena contribuição do Rio Grande, para o "nosso" cinema.
O Pecado da vaidade. Correio do Povo, Porto Alegre, 4 nov 1932, p.10.
A Gaucha Film de Eduardo Abelin, vai apresentar na primeira quinzena deste mês, a sua última produção, intitulada O Pecado da vaidade. Filme confeccionado nesta capital, sob a direção de um cinematografista rio-grandense e com elementos exclusivamente nossos, O Pecado da vaidade revela, antes de tudo, o esforço de um patrício que, tendo iniciado, há poucos anos, a produção de películas de enredo no Rio Grande do Sul, viu seu trabalho coroado de êxito e hoje já dispõe, para a sua vitoriosa fábrica, de um studio modelar e de excelente aparelhamento técnico. O Pecado da vaidade, que já se encontra quase pronto para entrar em exibições, virá demonstrar o quanto já conseguimos no terreno difícil da cinematografia e assinalar para a Gaucha Film, o marco de uma brilhante vitória.
O Pecado da vaidade, ainda este mês, no Apollo. Correio do Povo, Porto Alegre, 10 nov 1932, p.16.
Ainda este mês exibirá o Apollo O Pecado da vaidade, um filme feito nesta capital, sob a direção de Eduardo Abelin e que promete muito agradar.
O filme O Pecado da vaidade já está concluído. Correio do Povo, Porto Alegre, 20 nov 1932, p.14.
Após ingentes esforços, que certamente hão de ser coroados de êxito, já se encontra concluída a confecção de O Pecado da vaidade, o filme produzido por Eduardo Abelin para a Gaucha Film, desta capital. Ultimados os derradeiros retoques e feitas as correções definitivas, que ainda exigirão alguns dias de trabalho, será fixada a data da première, que se realizará no Cine Theatro Apollo. Em O Pecado da vaidade os nossos fans poderão apreciar o quanto já progredimos em matéria de cinema. Desculpadas algumas falhas, que só o tempo e uma melhor aparelhagem técnica poderão corrigir, O Pecado da vaidade agradará, certamente, a quantos comparecerem às suas exibições. Com um enredo atraente, boas cenas, encantadoras vistas de Porto Alegre, ele possui muita cousa para levar ao Cine Theatro Apollo uma assistência numerosa. E isso representará uma grande vitória para a cinematografia rio-grandense, que agora inicia sua fase decisiva sob os melhores auspícios.
Anúncio. Cine Luz – Revista Cinematographica, Pelotas, 11 dez 1932, [BN, p.10], ano I, n.10.
... e depois de perambular, miseravelmente, pelos bas-fonds da cidade, Carmen, a vaidosa, recolhe-se enferma, a um hospital de misericórdia, onde vem a morrer, consolada pelo perdão do marido abandonado.
Foto legenda: Emocionante cena do filme brasileiro O Pecado da vaidade da Gaúcha-Film de Porto Alegre.
Correio do Povo, Porto Alegre, 14 dez 1932.
Finalmente, hoje, quarta-feira, no Apollo, será satisfeita a curiosidade pública com a apresentação de O Pecado da vaidade, da Gaúcha-Film, de Eduardo Abelin.
Esse filme foi confeccionado nesta capital, vendo-se no seu desenrolar os mais bonitos aspectos da nossa linda cidade.
O seu argumento é bastante atraente e, por vezes, emocionante, tendo como principal intérprete o seu produtor e diretor, Eduardo Abelin, que já produziu aqui O Castigo do orgulho e Em defesa da irmã.
O Pecado da vaidade também terá sua sincronização, como todos os filmes modernos, sendo, para esse filme, contratado competente técnico.
Sessões corridas das 19h30 em diante.