Ana Terra (1971)

Brasil (SP-RS)
Longa-metragem | Ficção
35 mm, cor, 104 min

Direção: Durval Garcia.
Companhia produtora: D. G. Filmes; Cinedistri; Cia. Cinematográfica Vera Cruz

Primeira exibição: Cruz Alta (RS), 17 dez 1971, sex (avant-première)

 

Durval Garcia marcou o ano de 1971 com esta ficção inspirada em O Tempo e o vento, de Erico Verissimo, maior nome da literatura gaúcha também responsável pelo argumento e por diálogos que complementam o roteiro assinado por Pereira Dias. Em Ana Terra, assim como no clássico literário, a protagonista (Rossana Ghessa) é filha de Manuel (Pereira Dias) e Henriqueta (Vania Elizabeth), tendo com Pedro Missioneiro (Geraldo D'El Rey) o filho Pedro Terra (Antonio Augusto Fagundes Filho). No futuro, Pedro Terra terá sua filha Bibiana, que será mulher do Capitão Rodrigo Cambará. Ana Terra é um dos capítulos do livro O Continente, que integra a trilogia O Tempo e o vento ao lado de O Retrato e O Arquipélago. O continente do título faz referência ao Continente do Rio Grande de São Pedro do Sul, um dos nomes atribuídos à terra gaúcha ao longo de sua história.

Com assistência de direção do tradicionalista Antonio Augusto Fagundes, que interpreta o personagem Horácio, e montagem de Carlos Coimbra, Ana Terra foi filmado na região de Cruz Alta. A história vertida para o cinema por Pereira Dias, famoso diretor de longas como Pára, Pedro! (1969), Não aperta Aparicio (1970), Meu pobre coração de luto (1978) e O Gaúcho de Passo Fundo (1978), foi bem recebida por público e crítica, conquistando elogios de Verissimo, como registrou Sérgio Silva na imprensa em 1972. Entretanto, parte do filme desagradou o governo militar ditatorial da época, que restringe o filme a maiores de 18 anos e censura a sequência na qual bandoleiros violentam Ana Terra, ao fim da narrativa. A atriz Rossana Ghessa, que alterna sensualidade e rigor para garantir feminilidade e contundência à personagem que dá nome ao filme, recebeu a placa de ouro e prata no Panorami Internazionali del Cinema, em Napoli, na Itália, em 1972.

Uma primeira tentativa de filmar Ana Terra foi da Vera Cruz, em 1953. As filmagens começariam em outubro, com locação de dois meses na estância de Itapevi, a 18 km de Cruz Alta. Uma nova tentativa se deu em 1964, sob coordenação de Mário Civelli. No mesmo ano de 1971 em que Ana Terra finalmente chegou aos cinemas, outra passagem de O Continente foi levada à tela: Um Certo capitão Rodrigo (A. Duarte). Em 2013 surge uma versão atualizada, O Tempo e o vento (J. Monjardim) desta vez com Thiago Lacerda (Capitão Rodrigo), Cleo (Ana Terra, jovem), Suzana Pires (Ana Terra, adulta). O segmento de televisão também gerou versões da obra de Verissimo. A primeira adaptação para TV de O Tempo e o vento foi a novela de Teixeira Filho, de título homônimo, exibida pela TV Excelsior entre julho de 1967 e março de 1968, com Carlos Zara (capitão Rodrigo) e Geórgia Gomide (Ana Terra). A segunda adaptação foi a minissérie de Doc Comparato com colaboração de Regina Braga e direção de Paulo José. Com locações no Rio Grande do Sul, a minissérie foi exibida pela TV Globo de 22 de abril a 31 de maio de 1985, com Tarcísio Meira (Capitão Rodrigo) e Glória Pires (Ana Terra).

Sinopse


Em 1778, no Rio Grande do Sul, a família Terra, composta por Manoel, Henriqueta e os filhos Antonio, Horácio e Ana, se dedica ao trabalho duro do campo. Ao longe, percebem que a casa dos vizinhos foi atacada e incendiada. Manoel e os filhos vão até lá, enquanto Henriqueta e Ana se escondem abaixo de uma árvore. Mãe e filha falam sobre os perigos que rondam as mulheres, sempre perpetrados por orientais (uruguaios), bandoleiros, índios e bugres (mestiços). Ana fica pensativa. Manoel é capturado pelo pelotão do major Pinto Bandeira, militar que comandou batalhas em defesa do território português no RS à época da Capitania do Rio Grande de São Pedro, recuperada do domínio espanhol na época do Brasil colonial. O pelotão se aproxima do esconderijo de Henriqueta e Ana, que enfrentam os militares antes de saberem que Manoel já está amigado do grupo. Ana, que vive questionando a prevalência dos homens sobre as mulheres, vai lavar roupas no riacho. O mestiço Pedro Missioneiro chega ferido. A família o ajuda, levando-o para casa. Ana percebe que ele carrega um crucifixo. Ao acordar, Pedro, nascido na Missão de São Miguel, diz ser soldado de Pinto Bandeira. Pedro acaba trabalhando na fazenda, mas sob desconfiança constante da família. Ana se apaixona por Pedro e, depois, engravida do forasteiro. Ela quer fugir com ele, mas o mestiço não aceita. Ele sabe que será morto pelos irmãos dela, pois teve uma visão. A família fica sabendo da gravidez. O pai manda os filhos matarem Pedro. Os meses passam e a barriga de Ana cresce. Ana entra em conflito com a família, sobretudo com o irmão Antônio. Nasce Pedrinho. Anos depois, bandoleiros atacam a fazenda da família Terra. Manoel, Henriqueta e Antonio são mortos. Ana é violentada. Eulália, mulher de Antonio, e Pedrinho escapam escondidos. Eulália constata que elas estão na miséria, mas Ana escondeu dinheiro em uma árvore. Ela disse que resistiu a tudo o que passou "por raiva" e que viverá daqui para frente "com raiva" também.

Ficha técnica


ELENCO
Estrelando: Rossana Ghessa (Ana), Geraldo D'El Rey (Pedro).
Destacando: Pereira Dias (Manoel), Naide Ribas (Antonio), Vania Elizabeth (Henriqueta), Antonio Augusto Fagundes (Horácio).
Carlos Castilhos (Pinto Bandeira), Rejane Schumann (Eulália), Pedro Machado (Chefe bandoleiro), Augusta Jaeger (Vizinha moça), Gilberto Nascimento (Escravo), Antonio Augusto Fagundes Filho (Pedrinho), Alexandre Ostrovski (Chefe carreteiro), Maximiano Bogo (Tenente),
Élbio Souza (Chefe índio), Themis Ferreira (Vizinha velha), Joemy Garcia (2º bandoleiro), Mano Bastos (3º bandoleiro), Vicente Gomes (1º soldado), Luiz Sandini (2º soldado), Sanches Neto (3º soldado)
e o povo de Cruz Alta, Rio Grande do Sul.

DIREÇÃO
Direção: Durval Garcia.
Assistência de direção: Antonio Augusto Fagundes.
Continuidade: Célia Padilha.

ROTEIRO
Da obra de Erico Verissimo O Tempo e o vento.
Argumento e diálogos: Erico Verissimo.
Adaptação: Durval Garcia.
Roteiro: Pereira Dias.

PRODUÇÃO
Produção: Durval Garcia.
Supervisão: Pércio Pinto.
Direção de produção: Pereira Dias.
Gerência de produção: Carlos Castilhos.
Assistência de produção: Pedro Dias, Orual Machado, Acedir Brito, Jairo Corrêa, Maximiano Bogo.
Administração da produção: Severine Dzielinski.

FOTOGRAFIA
Direção de fotografia e operação de câmera: Hélio Silva.
Assistência de câmera: Jorge Pfister Jr..

Eletricista chefe: José Savani.
Maquinista chefe: Luis Carlos Roxo.

Fotografia de cena: Alexandre Ostrovski.

ARTE
Guarda-roupa: Marlene Fagundes, Augusta Jaeger.
Maquiagem: Dorival Cabrera.

MÚSICA
Música e regência: Carlos Castilhos.

Canção tema e solo de violão: Carlos Castilhos.
Conjunto vocal: Os Três Morais.
Solistas: Jane Morais, Roberto Azevedo.

FINALIZAÇÃO
Montagem e edição: Carlos Coimbra.
Assistência de montagem: Jorge Santos.

Letreiros de apresentação [créditos iniciais]: Benicio.
Técnico de som: José Tavares.

EQUIPAMENTOS E SERVIÇOS
Película: Kodak Eastmancolor.
Equipamentos e gravação: Cia. Cinematográfica Vera Cruz (São Paulo).
Laboratório de imagem: Líder Cine Laboratórios S.A..
Estúdio de som: Somil Som e Imagem Ltda. (Rio de Janeiro).

MECANISMOS DE FINANCIAMENTO
Companhia produtora: D. G. Filmes; Cinedistri (São Paulo).
Companhia produtora associada: Cia. Cinematográfica Vera Cruz (São Paulo).

AGRADECIMENTOS
Agradecimentos: BRDE Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul, Prefeitura Municipal de Cruz Alta, Viação Ouro e Prata, Transportadora Tresmaiense, Brigada Militar do Rio Grande do Sul, CEEE Companhia Estadual de Energia Elétrica, Auto Locadora Gaúcha, Instituto de Beleza Cleópatra, Corpo de Bombeiros de Cruz Alta, 17º Regimento de Infantaria de Cruz Alta, Mercedes Benz (Cruz Alta), Anderson Clayton S.A. (Cruz Alta), Delegacia de Polícia de Cruz Alta, Dr. Antonio Carlos Nunes, Lindonor Amaral, Carlos Maidana, Enio Hernandez, Mauro Mello.

FILMAGENS
Brasil / RS, em Capela do Cadeado, Cruz Alta.
Período: a partir de 4 de fevereiro de 1971.

ASPECTOS TÉCNICOS
Duração: 104 min
Metragem: 2.730 metros
Número de rolos:
Som: Sistema sonoro Westrex.
Imagem: cor
Proporção de tela:
Formato de captação: 35 mm
Formatos de exibição: 35 mm

DIVULGAÇÃO
Divulgação: Mauricio Kus.
Cartaz: 113 x 75 cm. Desenho: Benicio. Exemplar na Cinemateca Brasileira.
Cartazete: Exemplar no Museu Hipólio.

DISTRIBUIÇÃO
Certificados:
Censura Federal 63744 de 11 nov 1971, 18 anos, 15 cópias, 95m, trailer.
Censura Federal de 23 mar 1972, que indica: "cortar na última parte onde o chefe dos bandoleiros violenta Ana, até o final do ato sexual".
Classificação indicativa: 18 anos.
Distribuição: Cinedistri Cia. Produtora e Distribuidora de Filmes Nacionais.
VHS: Distribuição: São Paulo: CIC, s.d.; capa reproduz desenho do cartaz original.
// Art Films apresenta //
Contato: Cinemateca Brasileira.

PREMIAÇÃO
• Prêmio Adicional de Qualidade, INC, 1971.
• Panorami Internazionali del Cinema 1972: placa de ouro e prata para Rossana Ghessa.
• Prêmio Adicional de Renda, INC, 1972.

OBSERVAÇÕES
Cartaz reproduzido em pb, IN: JUNIOR, 2006, p.167.
Custo: Cr$ 520.000,00
Renda de dezembro de 1971 a dezembro de 1973: Cr$ 868.337,50 com 393.219 espectadores.
Inaugurou a aparelhagem cinematográfica do Palácio Farroupilha.
Uma primeira tentativa de filmar Ana Terra foi da Vera Cruz, em 1953; as filmagens iriam começar em outubro, "com locação de dois meses na estância de Itapevi, a 18 km de Cruz Alta" (Zenaide ANDRÉA, O que eu vi nos estúdios, Cinelândia, Rio de Janeiro, 2ª quinzena set 1953, p.49, n.21). // Nova tentativa empreendida por Mário Civelli, em 1964 (Zenaide ANDRÉA, Ana Terra no cinema, Cinelândia, Rio de Janeiro, 1ª quinzena mar 1964, p.50-53, n.272).
Durval Gomes Garcia, gaúcho, ex-presidente do INC.
Complementação aos créditos: Companhia produtora: D. G. Filmes.

Grafias alternativas: Maximiliano Bogo | Carlos Castilhos (ator e gerência de produção) e Carlos Castilho (música) | Geraldo D'el Rey [Geraldo D'El Rey aka Geraldo Del Rey] | Joemir Garcia (cf. créditos)

BIBLIOGRAFIA
Erico Verissimo
VERISSIMO, Erico. O Tempo e o vento – O continente. Porto Alegre: Globo, 1950. 639p. "Ana Terra", p.72-152.
Guia de filmes. Rio de Janeiro, mar-abr 1972, p.25, ano VI, n.38.
PAIVA, Salvyano Cavalcanti de. História ilustrada dos filmes brasileiros 1929-1988. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1989, p.150 + cartaz verso da capa.

Noticiário:
Filmagens de Ana Terra iniciam hoje. Correio do Povo, Porto Alegre, 4 fev 1971, Secções, p.10.
HOHLFELDT, Antonio. Correio do Povo, Porto Alegre, 21 dez 1971.
A saga de Ana Terra no cinema. Correio do Povo, Porto Alegre, mar 1972.
Folha da Tarde, Porto Alegre, 8 mar 1972.
Ana Terra na Assembleia. Folha da Tarde, Porto Alegre, 9 mar 1972.
Zero Hora, Porto Alegre, 16 mar 1972.

GASTAL, P. F.. Ana Terra. Folha da Tarde, Porto Alegre, 17 abr 1972, p.69. Reproduzida em: GASTAL, P. F.. Cadernos de cinema de P. F. Gastal. Porto Alegre: Unidade Editorial, Coordenação de Cinema, Vídeo e Fotografia-Secretaria Municipal da Cultura-Prefeitura de Porto Alegre, 1996. 270p. il. (Escritos de Cinema, 1) p.206. 
MERTEN, Luiz Carlos. Considerações à margem de Ana Terra. Folha da Manhã, Porto Alegre, 21 abr 1972. Reproduzida em: MERTEN, Luiz Carlos. Um Sonho de cinema. Porto Alegre: Unidade Editorial, Coordenação de Cinema, Vídeo e Fotografia-Secretaria Municipal da Cultura-Prefeitura de Porto Alegre; Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2004. 362p. il. (Escritos de Cinema, 9) p.88-90.

Exibições


• Cruz Alta (RS), 17 dez 1971, sex (avant-première)

• Porto Alegre (RS), Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul, 8 mar 1972, qua (avant-première)

• Porto Alegre (RS), em cartaz a partir de 17 abr 1972, seg

• São Paulo (SP), 20 mar 1972, seg (estreia)

• Napoli (IT), Panorami Internazionali del Cinema, maio 1972

• Rio de Janeiro (RJ), Metro-Boa Vista (R. do Passeio, 62), 17-23 ago 1972, qui-qua, 14h, 16h, 18h, 20h, 22h

• Rio de Janeiro (RJ), Metro-Copacabana (Av. Copacabana, 749), 17-23 ago 1972, qui-dom, 14h, 16h, 18h, 20h, 22h, seg 14h, 16h, 18h, 20h, 22h, 24h, ter, qua, 14h, 16h, 18h, 20h, 22h

• Rio de Janeiro (RJ), Metro-Tijuca (R. Conde de Bonfim, 366), 17-23 ago 1972, qui-qua, 14h, 16h, 18h, 20h, 22h

• Rio de Janeiro (RJ), Lagoa Drive-in (Av. Borges de Medeiros, 1.426), 17-23 ago 1972, qui-qua, 20h30, 22h30

• Rio de Janeiro (RJ), Imperator-Méier, 17-20 ago 1972, qui-dom, 14h, 16h, 18h, 20h, 22h

• Rio de Janeiro (RJ), Pirajá (R. Visconde de Pirajá, 303), 17-22 ago 1972, qui-ter, 14h, 16h, 18h, 20h, 22h

• Rio de Janeiro (RJ), Paissandu (R. Senador Vergueiro, 35), 23-27 set 1972, sab-qua, 14h, 16h, 18h, 20h, 22h

• Rio de Janeiro (RJ), Ópera (Praia de Botafogo, 340), 26 fev-4 mar 1973, seg-dom, 14h, 16h, 18h, 20h, 22h

• Petrópolis (RJ), D. Pedro, 25 mar 1973, dom, 13h30, 15h30, 17h30, 19h30, 21h30

• Recife (PE), São Luiz, 25-27 mar 1973, dom-ter, 15h30, 17h40, 19h50, 22h

• Recife (PE), Albatroz (Casa Amarela), 23, 24 maio 1973, qua, qui, 18h20, 20h30

• Recife (PE), Eldorado (Afogados), 29, 30 maio 1973, ter, qua, 18h30, 20h30

• Recife (PE), Cinema de Arte Coliseu, 6-9 jun 1973, qua-sab, 19h, 21h

• Recife (PE), Império (Água Fria), 31 jul, 1º ago 1973, ter, qua, 18h30, 20h30

• Recife (PE), Brasil (Av. Caxangá, Cordeiro), 7, 8 ago 1973, ter, qua, 18h30, 20h30

• Olinda (PE), Duarte Coelho (Praça João Lapa), 14, 15 ago 1973, ter, qua, 18h30, 20h30

• Gramado (RS), 26º Festival de Gramado – Cinema Latino e Brasileiro [8-15 ago]-Mostra Paralela,
Centro Municipal de Cultura Prefeito Arno Michaelsen (R. Leopoldo Rosenfeld, 818)-Teatro Elisabeth Rosenfeld, 10, 13 ago 1998, seg, qui, 14h30
Distrito Industrial de Várzea Grande, 12 ago 1998, qua, 20h

Como citar o Portal


Para citar o Portal do Cinema Gaúcho como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
Ana Terra. In: PORTAL do Cinema Gaúcho. Porto Alegre: Cinemateca Paulo Amorim, 2024. Disponível em: https://cinematecapauloamorim.com.br//portaldocinemagaucho/161/ana-terra. Acesso em: 22 de novembro de 2024.