Brasil grandioso (1932)
Brasil (RJ)
Longa-metragem silencioso | Não ficção
35 mm, pb
Companhia produtora: Expedição Rickenberg
Primeira exibição (versão completa): Rio de Janeiro (DF), Broadway, 25 dez 1932, dom, 10h (especial para chefe do governo provisório Getúlio Vargas)
Primeira exibição RS:
Brasil grandioso faz parte de uma série não planejada de filmes que registram as principais riquezas naturais do país, filmes esses quase sempre cinematografados por um olhar estrangeiro, como é o caso de seu antecessor, O Brasil maravilhoso (1930), pelo português Alfredo dos Anjos. Muitas sinfonias ufanistas vão surgir ao longo do século XX como as do francês Jean Manzon ou do espanhol Jaime Prades, entre outras. Brasil grandioso, por sua vez, leva a assinatura de um alemão, do qual pouco se sabe. Em fevereiro de 1932, dizem (os jornais) que João Rickenberg foi ex-aviador do exército alemão e que reside há mais de dez anos no Rio de Janeiro. "Dolicocéfalo, louro, olhos azuis, um bigodinho tremulando sobre o lábio, a boca entreaberta, sorrindo sempre. À cabeça, um chapéu a Tom Mix. Uma blusa de caçador, colete e perneiras. Eis o homem. Um gesto de cabeça e um cartão completam a apresentação: 'João Rickenberg, proprietário do filme Brasil grandioso. Filmagem e expedição para todo o Brasil, autorizados pelo exmo. sr. ministro da Guerra'". (Diário da Noite, Rio de Janeiro, 29 ago 1932)
Na mesma reportagem, o depoimento de Rickenberg: "Durante três anos filmei, do Amazonas ao Prata, os mais interessantes aspectos do Brasil, nas suas selvas grandiosas, nos seus rincões onde a natureza, a cada momento, oferece novas maravilhas aos olhos do turista ou do esquisitão que se mete mata adentro, em busca de aventuras. Nas cidades, onde o progresso acompanha a civilização, a minha objetiva não deixou escapar o que pode interessar sob qualquer aspecto mais curioso. Desse modo, consegui fazer o filme mais completo sobre o Brasil, película de grande metragem, em 12 partes, a que intitulei Brasil grandioso. E tal é o meu sincero entusiasmo que me naturalizei brasileiro. Uma vez feito o filme, regressei ao ponto de partida para percorrer, de novo, o caminho palmilhado, já, então, para exibir em todo o país, a produção desses esforços de três anos. E, agora, há um ano e quatro meses, passei por todos os estados desde a Bahia ao Rio Grande do Sul, tendo feito mais de 300 exibições. Só no Rio Grande do Sul, o Brasil grandioso foi projetado 82 vezes!".
O curioso deste filme é que trata-se de um projeto em aberto. Pelo que se lê nos jornais, Rickenberg iniciou sua excursão pela Bahia, esteve em Pernambuco e estados do sudeste.
A partir de agosto de 1931 começou a exibir Brasil grandioso – ainda incompleto – em muitas cidades. Essa nova excursão é pela região sul: além de exibir esta versão, filma novidades a serem incorporadas. Por exemplo, no Rio Grande do Sul, em abril de 1932 filma a inauguração da linha centro do novo tráfego aéreo (Santa Maria-Santa Cruz). É só no final deste ano que tem o filme completo, fazendo exibições no Rio, Vitória ou Niterói. É anunciado que depois ele iria para a Europa mostrar o resultado.
Na primeira viagem de sua empreitada, as notícias e fotos deixam entrever que João está acompanhado da filha Martha Rickenberg e de um operador. Quando vai para a região sul, outra reportagem acrescenta a esposa e cinco empregados, entre eles o ajudante Carlos Christoghlienk. Seria o mesmo citado antes como operador? Todos viajam num carro adaptado, transformado em casa, museu e jardim zoológico. "O seu interior é um bazar. Há ali peles de onças, cobras, jacarés, antas, jaguares e inúmeros outros animais das nossas selvas. São sem conta, também os objetos de uso dos índios botocudos do Espírito Santo e outras tribos de Goiás e Mato Grosso, bem como curiosidades outras, do norte, do sul e do centro do Brasil (...). Há ainda, ali, animais empalhados e, alguns outros, vivos. Dentre estes destacam-se dois filhotes de tamanduá, alguns macacos e saguis, lagartos, jabutis e as terríveis aranhas selvagens, do tamanho de um caranguejo". Não raro há uma foto deste carro nos jornais. Onde chegava, o automóvel era uma atração à parte. Foram rodados mais de 10 mil quilômetros, conforme os anúncios.
"Rickenberg foi, ao mesmo tempo, o operador, o motorista, o revelador e diretor da película. Enquanto ele trabalhava, Carlos Christoghlienk, de arma em punho, vigiava as cercanias, para impedir uma cilada de selvagens ou a investida de feras".
Outra notícia diz que "foi feito exclusivamente para propaganda do Brasil no estrangeiro, e também em nosso país, fê-lo o sr. Rickenberg à sua custa, sem ônus algum para o Estado". (A Noite, Rio de Janeiro, 7 ago 1931)
O crítico da coluna O Mundo da tela, do Correio da Manhã (Rio de Janeiro, 1º jan 1933) aproveitou a estreia definitiva se posicionando: "Neste momento em que num movimento são de patriotismo, se procura unir mais e mais todos os pontos do território nacional, evitando deste modo a desagregação do país, é oportuníssima a exibição deste filme (...)".
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Sinopse
Sinopse curta (versão em desenvolvimento 1931-1932):
Os estados do Brasil, suas indústrias, rios, cascatas, pontes, quedas d'água, índios, paisagens, mata virgem, feras, vaqueiros, colonização, criação de gados, construções de estradas, manobras das esquadras, exército, escolas, cultura de café, da laranja, mate e ricos palácios. (Anúncio. República, Florianópolis, 23 fev 1932, p.5, ano 2, n.405.)
Sinopse curta (versão completa 1932):
Viagem esplêndida desde o Rio de Janeiro até o Rio Grande do Sul, e outra ao norte, ora em navios, ora em trens de ferro, ora em avião.
Versão em desenvolvimento (1931-1932) (cf. anúncio. O Dia, Curitiba, 9 dez 1931, p.3, n.2.413):
Entre outras coisas, o filme apresenta:
Uma jiboia engolindo uma capivara.
Fauna brasileira.
Laçadores no campo.
Índios botocudos no estado do Espírito Santo.
Aspectos de turismo.
Cultura de café, algodão, mate, cana de açúcar, borracha, cacau, fumo etc..
Carvão nacional.
Vida nas fazendas.
Aspectos gerais do interior.
Construções de estradas de rodagem.
Colônias japonesas no estado de São Paulo.
Criação de gado holandês.
Colonização alemã.
Todas as vistas das praças, edifícios, palácios e pontos pitorescos do Rio de Janeiro.
Bahia, cultura do fumo e cacau.
Exportação de madeira nos estados do Espírito Santo e Paraná.
Cachoeira de Sete Quedas no estado de Goiás.
Cachoeira de Iguaçu.
Construção da grandiosa ponte sobre o Rio Doce no estado do Espírito Santo.
A montagem da ponte em Vitória, no estado do Espírito Santo.
A ponte sobre o Rio Pirapora.
Pedra de Itatiba.
Travessia sobre o Rio São Francisco.
Ressaca nas praias do Rio de Janeiro.
Pernambuco, cultura da cana e a sua transformação em açúcar.
Cultura, colheita e embarque de laranjas.
Cultura, colheita e embarque do café.
A chegada do Graf Zeppelin ao Rio de Janeiro.
São Paulo, maior centro comercial do Brasil.
Rio de Janeiro, a maior atração futurista sul americana.
Manobras da Esquadra Brasileira na Ilha Grande.
Grande parada militar no Rio de Janeiro.
Palácio Guanabara.
Visitas ao Pão de Açúcar, Corcovado, Petrópolis e Teresópolis [Therezopolis].
Saco de São Francisco.
O Dedo de Deus.
Caça aos jacarés.
Evoluções do Graf Zeppelin sobre a Baía de Guanabara e Avenida Rio Branco.
Inúmeros outros aspectos impossíveis de descrever.
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Ficha técnica
DIREÇÃO
Direção: João Rickenberg.
PRODUÇÃO
Produção: João Rickenberg.
Ajudantes: Martha Rickenberg, Carlos Christophlienk.
FOTOGRAFIA
Operação de câmera: João Rickenberg.
FINALIZAÇÃO
Montagem: João Rickenberg, provavelmente.
MECANISMOS DE FINANCIAMENTO
Companhia produtora: Expedição Rickenberg (Rio de Janeiro).
FILMAGENS
Brasil /
ES, em Vitória; Rio Doce;
Rio São Francisco;
SP, Rio Pirapora; Pedra de Itatiba;
RJ, no Rio de Janeiro, lugares como Palácio Guanabara, Pão de Açúcar, Corcovado, Baía de Guanabara, Avenida Rio Branco; Ilha Grande; Petrópolis; Teresópolis; Dedo de Deus, na Serra dos Órgãos;
Saco de São Francisco;
BA;
PR, Salto de Sete Quedas; Cataratas do Iguaçu;
PE.
Versão completa ainda inclui:
PR;
SC;
RS.
ASPECTOS TÉCNICOS
Duração:
Metragem: 3.500 metros (versão em desenvolvimento)
Número de rolos: 8 partes (versão em desenvolvimento) / 10 ou 12 partes (versão completa)
Som: silencioso
Imagem: pb
Proporção de tela: 1.33
Formato de captação: 35 mm
Formato de exibição: 35 mm
DISTRIBUIÇÃO
Classificação indicativa:
Contato:
OBSERVAÇÕES
Filme desaparecido.
Títulos alternativos: O Brasil grandioso (a maioria dos anúncios), mas cf. declaração do diretor, seria sem o artigo...
Grafias alternativas: João Rickenberg Filho ou Rickemberg ou Richenberg ou Richemberg | Carlos Christoghlienk ou Christophlienk
BIBLIOGRAFIA
Noticiário:
A propaganda do Brasil no estrangeiro – Uma completa filmagem das riquezas naturais do Brasil para ser exibida na Europa. A Noite, Rio de Janeiro, 24 jul 1931, p.5 [BN, p.8], ano XXI, n.7.062. [Legenda da foto: O sr. João Rickenberg e sua gentil filha, ao lado do automóvel feito especialmente para a excursão + o operador segurando a câmera]
As riquezas naturais do Brasil – O filme organizado pelo sr. João Richenberg numa longa excursão através do nosso país. O Jornal, Rio de Janeiro, 24 jul 1931, p.5, ano, n.3.899. [foto do carro, João e a filha]
Um filme sobre riquezas do Brasil – A sua exibição, na próxima terça-feira, no Departamento Nacional do Comércio. A Noite, Rio de Janeiro, 7 ago 1931, p.5 [BN, p.8], ano XXI, n.7.076.
Theatros e cinemas: Th. Avenida – O Brasil grandioso. O Dia, Curitiba, 8 dez 1931, p.5, n.2.412.
Anúncio. O Dia, Curitiba, 9 dez 1931, p.3, n.2.413.
O Brasil grandioso. O Estado, Florianópolis, 22 fev 1932, p.6, ano XVII, n.5.526. [mesma foto do JB, 28 ago 1932, com mais qualidade]
Brasil grandioso. A Federação, Porto Alegre, 8 mar 1932, p.4, ano XLIX, n.54.
Brasil grandioso – Um filme revelador da nossa terra e da nossa gente. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 28 ago 1932, p.23, ano XLII, n.205. [Legenda da foto: O sr. João Rickenberg na estação de Mafra, fronteira entre o Rio Grande do Sul e Santa Catharina.]
Através do Brasil – Vinte minutos de palestra com um trota-mundo que palmilhou a nossa terra dentro de um automóvel-museu-jardim zoológico – O que é o filme Brasil grandioso – Peripécias que não se contam em uma semana.... Diário da Noite, Rio de Janeiro, 29 ago 1932, Terceira Edição, p.2 [BN, p.12], ano IV, n.795. [Legenda para duas fotos: O auto-museu-jardim zoológico do cinematografista João Rickenberg, cercado de curiosos, e o sr. João Rickenberg e seu ajudante Carlos Christophlienk, que tem na mão um jabuti de 80 anos de idade, e quando falavam ao nosso repórter]
A maior obra de propaganda nacional – O Brasil grandioso é o documento mais expressivo do nosso progresso e das nossas riquezas. O Radical, Rio de Janeiro, 29 ago 1932, p.7, ano I, n.82. [foto do sr. João Rickenberg]
O Mundo da tela: O Brasil grandioso amanhã na tela do Eldorado. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 1º jan 1933, p.12, ano XXXII, n.11.680.
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Exibições
Versão em desenvolvimento (1931-1932):
• Rio de Janeiro (DF), Salão de exibições do Departamento Nacional do Comércio (Av. das Nações), 11 ago 1931, ter, 10h (especial para o governo, altas autoridades e imprensa)
• São Paulo (SP), Santa Helena,
4 set 1931, sex (especial para imprensa)
7-10 set 1931, seg-qua, 19h30, 21h30, qui, 14h30, 19h30, 21h30
16, 17 set 1931, qua, qui
• São Paulo (SP), Fenix, 2, 3 out 1931, sex, sab
• Curitiba (PR), Theatro Avenida, 9 dez 1931, qua, 20h30 (sessão corrida; “Um filme em 8 partes magníficas que nenhum brasileiro ou estrangeiro deve deixar de assistir!”)
• Curitiba (PR), Theatro Palácio, 16 dez 1931, qua, 20h30
• Joinville (SC), Palace Theatro, 26, 27 jan 1932, ter; qua, matinée (para estudantes da escola alemã)
• Brusque (SC), Cine Guarany, fev 1932
• Florianópolis (SC), Cine Palace, 22, 23, 26 fev 1932, seg, 20h15, ter, 19h, 21h, sex, 14h, 16h
• Porto Alegre (RS), Ypiranga, 10-16 mar 1932, qui-qua
• Porto Alegre (RS), Guarany, 30, 31 maio 1932, seg, ter
• Porto Alegre (RS), Apollo, 7-10 jun 1932, ter-sex
• Porto Alegre (RS), Thalia, 15, 16 jun 1932, qua, qui
• Porto Alegre (RS), Capitólio, 22 jun 1932, qua
Versão completa (1932):
• Rio de Janeiro (DF), Broadway, 25 dez 1932, dom, 10h (especial para chefe do governo provisório Getúlio Vargas)
• Rio de Janeiro (DF), Cine Eldorado, 2-8 jan 1933, seg-dom, a partir das 14h
• Rio de Janeiro (DF), Edison, 13 jan 1933, sex
• Rio de Janeiro (DF), Madureira, 6 fev 1933, seg
• Rio de Janeiro (DF), Fluminense, 15, 16 fev 1933, qua, qui
• Vitória (ES), Polyteama, 6 mar 1933, ter, 20h
• Niterói [Nictheroy] (RJ), Eden Cine Theatro, 7, 8 mar 1933, ter, qua (10 partes)
• Vitória (ES), Polyteama, 15 mar 1933, qui, 20h
• Juiz de Fora (MG), Glória, 16 jun 1933, sex, 10h30 (especial, por ocasião de visita do ministro alemão Schmidt Elskop)