Domingo de Grenal (1979)

Brasil (RS)
Longa-metragem | Ficção
35 mm, cor, 96 min

Direção: Pereira Dias.
Companhia produtora: Marcos Produções Cinematográficas

Primeira exibição: Porto Alegre (RS), Victoria, 24 set 1979, seg + circuito

 

Este filme apresenta aquela que muitos consideram ser a maior rivalidade do futebol brasileiro, envolvendo os clubes Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense e Sport Club Internacional. Os dois se enfrentam regularmente desde 1909, e se orgulham de terem conquistado os títulos mais importantes, a nível estadual, nacional, sul-americano e mundial. As trajetórias vitoriosas fizeram com que ambas as equipes conquistassem legiões de fãs, sempre prontas para prestar apoio incondicional nos jogos. Ao mesmo tempo, a relação de fidelidade por uma das camisetas costuma representar, quase automaticamente, uma sensação de ódio pela outra. Em Domingo de Grenal, todo esse contexto serve como pano de fundo para apresentar uma história proibida de amor, entre um torcedor colorado e uma torcedora gremista.

Na verdade, o casal formado por Romeu e Julieta – a semelhança não é mera coincidência – consegue se entender bem, e é capaz de colocar sentimentos pessoais acima de preferências clubísticas. O problema é que suas respectivas famílias de classe média são absolutamente fanáticas por Grêmio e Inter, a ponto de não aceitarem a união de algum de seus membros com alguém que prefira outra bandeira. Do lado tricolor, a oposição ao casamento é liderada por Hugo (Paulo Sant'Ana), um corretor de imóveis que tem toda a sua casa pintada em azul, preto e branco. Pelo lado vermelho, quem se mostra irredutível é Juca (Chibé), um operador de guindastes que sempre toca o hino do Inter após cada partida – com vitória ou derrota. A única pessoa a abençoar a união é o padre do bairro (Roberto Gigante), que clama pela paz em um ambiente voltado para o conflito.

O argumento e os diálogos foram escritos pelo jornalista e dramaturgo Sérgio Jockymann (1930-2011), que era colorado. Algumas das falas dos personagens refletem bem a animosidade do Grenal, quando levada ao extremo. Ao chegar de casa após uma ida ao estádio, as duas partes sequer querem conversar: "Nenhuma palavra. É como se eles não existissem". Algumas das tiradas mais espirituosas são: "Na minha frente, ninguém vai chamar a minha filha de colorada", "Não me fale em vermelho nem de brincadeira", ou "Sonhei que nosso filho se casaria com uma gremista; imagine, nosso filho não iria se casar com uma mulher doente". Há espaço até para uma releitura religiosa: "Papai do céu era um homem muito bom, que vivia aqui na Terra. Tinha 12 amigos, e todo mundo gostava dele. Um dia, vieram os gremistas e crucificaram ele".

Comédia de costumes inspirada em William Shakespeare, o filme se passa na Porto Alegre da década de 1970, e inclui muitas cenas documentais, que mostram a ansiedade da população para assistir a pelo menos dois clássicos grenais. O segundo é carregado de maior tensão, na medida em que representa a decisão do Campeonato Gaúcho, e acontece na mesma semana em que o namoro de Romeu e Julieta é exposto. Como registro de uma época, o filme traz imagens de atletas em atividade no período, como Falcão, Batista, Ancheta, André Catimba, entre outros. Também destaca nomes marcantes da imprensa esportiva gaúcha, como Ruy Carlos Ostermann, Armindo Antônio Ranzolin, Lauro Quadros e Haroldo de Souza, que aparecem trabalhando nas cabines da imprensa das rádios Guaíba e Gaúcha.

Os principais jornalistas culturais de então (Goida, Ivo Stigger, Hélio Nascimento) criticaram o filme. Tuio Becker, por exemplo, foi ainda mais incisivo do que de costume, definindo o projeto como "pobre", "carente", "sem imaginação" e "de pouca criatividade", mais adequado para ser curta-metragem ou vinheta. A artilharia mais pesada foi direcionada para o realizador Pereira Dias, mais conhecido como diretor das produções regionalistas de Teixeirinha e José Mendes. Para Becker, Dias ofereceu "uma hora e meia de situações já vistas, mal filmadas e sem qualquer pique cinematográfico". Nomes como Paulo Sant'Ana (1939-2017) e Roberto Gigante (1938-2022), que eram figuras conhecidas da TV porto-alegrense, foram utilizados para tentar atrair o público, mas o resto do elenco não ajudou a elevar a qualidade das interpretações.

Domingo de Grenal estreou em 24 de setembro de 1979, nas principais salas exibidoras da capital gaúcha, como os cinemas Victoria, Rey, Miramar e Roma. Segundo o jornalista e pesquisador Cristiano Zanella, ficou pouco mais de uma semana em cartaz, indo mal de bilheteria. Zanella apurou que o longa obteve uma sobrevida em 1981, quando foi exibido em São Paulo, com direito até mesmo a um novo título: Amor e... bola na rede. A mudança não alterou muito o quadro geral. Depois disso, cópia única restante foi enviada para a Cinemateca Brasileira, na capital paulista, onde permanece aguardando restauração.

Sinopse


Grêmio e Internacional dividem as preferências futebolísticas dos gaúchos. A cada partida entre os clubes rivais, as discussões são exaltadas e, não raras vezes, chegam à agressão física. Rixa que se renova a cada espetáculo e que tem a mesma duração da partida: noventa minutos. Mas Hugo e sua família são passionais. Sofrem e vivem para o Grêmio. Naquele lar não existe assunto mais importante. As campanhas do Grêmio servem de termômetro para medir os humores e a coesão da família. Mesmo precária essa harmonia, no entanto, é ameaçada diariamente, pois na casa vizinha, a família de Juca é torcedora fanática do Internacional e as provocações são constantes. Aproxima-se a decisão do campeonato estadual e, mais uma vez, Grêmio e Inter disputam o título. Durante a semana decisiva as duas famílias descobrem o romance entre um filho de Juca e uma filha de Hugo, até então acobertado pelo padre do bairro. // Fim //

Ficha técnica


ELENCO
Paulo Sant'Ana (Hugo), Roberto Gigante (Padre), Chibé (Juca),
Vania Elizabeth (Olga), Themis Ferreira (Eulalia),
Participação especial: Ruy Carlos Ostermann, Armindo Antônio Ranzolin, Lauro Quadros, Haroldo de Souza, Larry Pinto de Faria, Enio Mello, José Matzenbacher, Luiz Carlos Bencke.
Apresentando: Rosangela Nicola (Julieta).
Alex Lopes Garcia (Romeu), Luis Eugênio (Carlinhos), Paulo Carneiro (Luiz), Joelso Silva (Neco), Carlos Augusto (Mario), Julio Gonçalves (Beto), Jesus Tubalcain (Vizinho 1), José Gonçalves (Vizinho 2), Ivan Castro (Bispo),
Julio Cesar (Delegado), Luiz Arnóbio (Sargento), Cosmo Antonio (Entrevistado), Hugo Britto (na fila do táxi), Carlos Agne (Freguês), Romilda Machado (Entrevistadora de TV), Atanagildo Branco (Bêbado da macumba), David Camargo (Zelador de carros / Pipoqueiro / Papeleiro com chapéu de palha), Hugo Martins (Motorista de táxi), Sirmar Antunes (Crioulo bêbado), Augusto Biglia (Torcedor gremista), Leleco (Velho do baile), El Condor (Gordo), Dina Perez (Freira).
Não creditados: Celso Gomes; Paulo Roberto Falcão, Batista, Ancheta, André Catimba (jogadores de futebol).

DIREÇÃO
Direção: Pereira Dias.
Assistência de direção: Gina O'Donnell.

ROTEIRO
Argumento e diálogos: Sérgio Jockymann.
Roteiro: Pereira Dias.

PRODUÇÃO
Produção executiva: Antonio Crivelaro.
Direção de produção: Paulo Crespo.
Assistência de produção: Carlos Agne, Antonio Rodrigues.
Secretaria de produção: Gilda Pereira Dias.

FOTOGRAFIA
Direção de fotografia: Ivo Czamanski.
Assistência de câmera: George Krause, Richard ???.
Claquete: Paulo Oliveira.

Eletricista: Helio Martins.
Ajudantes de elétrica: Umberto Masoni, Heron Aguiar.

ARTE
Guarda-roupa: Romilda Machado.
Maquiagem: Judith Cabrera.

MÚSICA
Seleção de músicas incidentais: Pedro Amaro.
Voz de Paulo Rogerius. Violões: Paulo Santos, Joel Moraes.

Músicas:
• "Celeiro de ases" ["Hino do Sport Cub Internacional"] (música, letra: Nelson Silva; marcha-hino)
• "Hino do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense" (música, letra: Lupicínio Rodrigues)
• "Pedra rolada" (Demósthenes González, Antonio Balbê)

FINALIZAÇÃO
Montagem: Pereira Dias.

Correção de cor [Marcação de luz]: Juliano Pizzo.

Técnico de som: Antônio César.
Contrarregragem: Julio Perez Caballar.
Mixagem: Orlando Macedo.

EQUIPAMENTOS E SERVIÇOS
Os atores vestem Lee Indústria de Confecções.
Rosangela Nicola usa modelos Falk's.
Película: Kodak Eastmancolor.
Laboratório de imagem: Líder S.A..
Estúdio de som: Odil Fono Brasil (São Paulo).

MECANISMOS DE FINANCIAMENTO
Companhia produtora: Marcos Produções Cinematográficas (Porto Alegre).

AGRADECIMENTOS
Agradecimentos: Governo do Estado do Rio Grande do Sul, Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul, Cúria Metropolitana, Rede Brasil Sul de Comunicações, Administração do Porto de Porto Alegre.

FILMAGENS
Brasil / RS, em Porto Alegre.

ASPECTOS TÉCNICOS
Duração: 96 min
Metragem: 2.470 metros
Número de rolos:
Som:
Imagem: cor
Proporção de tela:
Formato de captação: 35 mm
Formatos de exibição: 35 mm

DIVULGAÇÃO
Lobby card: 21,2 x 30 cm, cor. Três exemplares diferentes na Coleção G. Póvoas.
Cartaz: 81 x 53,5 cm. Desenho: Ronaldo. Exemplar na Cinemateca Brasileira + Coleção G. Póvoas.
Trailer: cópia com Dipa Filmes; exibido na mostra "Histórias de futebol", em Porto Alegre, Sala P. F. Gastal, 23-29 maio 2002

DISTRIBUIÇÃO
Certificados: CPB n.318 em ago 1979.
Classificação indicativa: 10 anos.
Contato: Cinemateca Brasileira.

OBSERVAÇÕES
Complementação aos créditos: Guia de filmes acrescenta: Companhia produtora e distribuição: Marco Produções Cinematográficas. Cenografia: Pereira Dias. // FDC acrescenta ao elenco: Kleber Antonio, André Forster, José Martins, Roberto Matielo, Terezinha Morango, Joelson Santos, Júlio Renard, Luis Batti, Luis Carlos Neto, Avitos.
Falta a primeira parte dos créditos iniciais e a última parte dos créditos finais na cópia disponível, analisada. (com 76 min)
David Camargo: cópia VHS, obtida a partir de gravação direta em vídeo de projeção de uma cópia 16 mm de Dipa Filmes (origem da cópia visionada).

Títulos alternativos: Amor e... bola na rede
Grafias alternativas: Julio Caballar | Davi Camargo | Antonio Cezar | Alex Garcia | Paulo Santana | Regina O'Donnell | Armindo Ranzolin (cf. créditos)
Nomes completos: Julio Cesar Vellinho | Luis Eugênio Vasconcelos

BIBLIOGRAFIA
Guia de filmes – Lançados no Rio de Janeiro e em São Paulo entre 1 de janeiro e 31 de dezembro de 1979, Rio de Janeiro, 1981, p.19 e p.73, n.79.

Noticiário:
BECKER, Tuio. Comprovando a indigência do cinema gaúcho. Folha da Manhã, Porto Alegre, 28 set 1979, p.34.
Jornal de Caxias, Caxias do Sul, 29 set 1979, p.8, n.346.
ZANELLA, Cristiano. Domingo de Grenal – O filme!. Zanella, Cristiano, 21 out 2009 (originalmente publicado no site Final Sports).
[https://cristianozanella.blogspot.com/2009/10/domingo-de-gre-nal.html]
PACHECO, Emílio. Domingo de Grenal. Blog do Emílio Pacheco, 2011.
[https://emiliopacheco.blogspot.com/2011/06/domingo-de-gre-nal.html]

Exibições


• Porto Alegre (RS), Victoria, 24 set 1979, seg, 14h, 16h, 18h, 20h, 22h

• Porto Alegre (RS), Rey, 24 set 1979, seg, 20h, 22h

• Porto Alegre (RS), Roma, 24 set 1979, seg, 20h, 22h

• Porto Alegre (RS), Miramar, 24 set 1979, seg (+ O Monstro de Pequim)

• Caxias do Sul (RS), Cine Imperial, 28 set-4 out 1979, sex, 20h15, sab, dom, 19h30, 21h30, seg-qui, 20h15

Como citar o Portal


Para citar o Portal do Cinema Gaúcho como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
Domingo de Grenal. In: PORTAL do Cinema Gaúcho. Porto Alegre: Cinemateca Paulo Amorim, 2024. Disponível em: https://cinematecapauloamorim.com.br//portaldocinemagaucho/194/domingo-de-grenal. Acesso em: 22 de novembro de 2024.