Jango (1984)
Brasil (RJ)
Longa-metragem | Não ficção
35 mm, cor-pb, 114 min
Companhia produtora: Caliban Produções Cinematográficas
Primeira exibição: São Paulo (SP), Belas Artes Sala Oscar Niemeyer, 27 mar 1984, ter
Primeira exibição RS: Gramado (RS), 12º Festival do Cinema Brasileiro de Gramado [9-14 abr]-Mostra Competitiva Longa-metragem, Cine Embaixador, 11 abr 1984, qua, 20h30
Prolífico cineasta carioca, Silvio Tendler lança em 1984 o contundente Jango. O documentário registra momentos da vida pessoal e pública de João Belchior Marques Goulart, nomeado presidente do Brasil por emenda parlamentarista em 7 de setembro de 1961, deposto por um golpe civil-militar em 1º de abril de 1964 e o único chefe de Estado morto no exílio. Com texto de Maurício Dias, o filme retoma a eleição de João Goulart como deputado estadual no Rio Grande do Sul em 1947, sua trajetória no trabalhismo ao lado de Getúlio Vargas nos anos 1950, seu curto mandato presidencial, somente garantido pela bem-sucedida campanha da Legalidade, liderada pelo então governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, até chegar a sua deposição por ação legislativo-militar, seu exílio no Uruguay, a morte na Argentina em 6 de dezembro de 1976 e o sepultamento na cidade natal São Borja, na fronteira oeste gaúcha. Interessado em delinear o contexto por vezes distorcido que envolveu Jango, sobretudo durante o período presidencial e após os acontecimentos que se sucedem ao golpe ditatorial, Tendler reúne extensa documentação e diversos depoimentos para ressignificar a trajetória do 24º presidente do Brasil no cenário político nacional.
Entre os muitos pontos importantes abordados por Jango, dois se destacam. O primeiro é a visita oficial do então vice-presidente João Goulart à República Popular da China, à União Soviética e a outros países do oriente, momento em que recebe a notícia sobre a renúncia do presidente Jânio Quadros, em agosto de 1961. O fato pega Jango de surpresa. Estando longe de Brasília, não poderia assumir o cargo imediatamente, instigando parte da elite político-militar nacional avessa aos posicionamentos trabalhistas do vice-presidente a tentar impedir sua posse – fato que desencadeia o movimento pela Legalidade, cujas ações inspiram o longa-metragem ficcional de mesmo nome lançado por Zeca Brito em 2019.
O segundo tema fundamental do documentário de Tendler é o empenho de Jango pela aprovação das reformas de base, que pretendiam reduzir as desigualdades sociais no país e que incluíam itens como a democratização do uso da terra, o voto dos analfabetos, o regramento dos aluguéis e do salário-mínimo. Produzido durante dois anos e meio por uma grande equipe da qual fez parte Denize Goulart, filha de Jango, o documentário montado por Francisco Sérgio Moreira e Reginalda dos Santos Rocha, e narrado por José Wilker, procura, às vésperas da redemocratização do Brasil, desvendar a até então pouco conhecida figura de Jango: um sujeito sem o carisma de Getúlio ou de Juscelino Kubitschek e sem a histrionice de Jânio, um político que não aparentava ser um líder, mas sim um substituto, um vice, e que ainda assim anteviu a possibilidade de tornar o Brasil uma nação mais solidária, igualitária e justa. Seus planos foram interrompidos por civis e militares descompromissados com o processo democrático, que acabaram lançando o Brasil em uma ditadura corrupta e violenta que durou 21 anos. Se Jango resgatou a memória política relativa ao homem que deu nome ao filme, quase 30 anos depois o documentário Dossiê Jango (2013), de Paulo Henrique Fontenelle, voltou a recuperar o aspecto humano do ex-presidente, destacando também os resultados da Operação Condor, coordenada entre os regimes militares de Brasil, Argentina, Uruguay e Chile para exterminar dissidentes políticos no Cone Sul, incluindo o presidente do Brasil deposto pelo golpe de 1964.
Documentários longos sobre Jango:
Jango (Silvio Tendler, 1984);
Jango em 3 atos (Deraldo Goulart, 2008);
Dossiê Jango (Paulo Henrique Fontenelle, 2012).
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Sinopse
A carreira de João Goulart, único presidente morto no exílio, é acompanhada desde sua eleição a deputado estadual, em 1947, até seu sepultamento em 1976, na cidade natal de São Borja. Jânio Quadros renuncia à presidência da República em agosto de 1961. Fora do país, em visita oficial à China, o vice-presidente recebe a notícia com serenidade e enfrenta as primeiras dificuldades de sua chefia da nação. Grupos políticos não desejavam que Jango fosse presidente. Armou-se uma forte resistência pela legalidade no Rio Grande do Sul. No Congresso Nacional votou-se a emenda parlamentarista e ele assume a presidência em 7 de setembro de 1961. Durante seu governo, abriu espaços para a organização dos trabalhadores rurais e urbanos. Como reação a essa caminhada para as reformas sociais estabeleceu-se uma forte luta ideológica. Uma bem estruturada articulação civil-militar conspirava contra o seu governo. Foi essa articulação que, assustada com a revolta dos marinheiros e o comício da Central, deflagrou o movimento que se iniciou em Minas, em 31 de março de 1964, e terminou por levar Jango ao exílio.
Intertítulos (antes dos créditos finais): // "Os acontecimentos daqueles dias ainda estão claros na memória: fechado no escuro do quarto, querendo fugir do mundo que me chegava pelo rádio, eu pouco mais que um menino, chorava como se fosse morte a viagem-fuga do presidente Jango. / Os anos passados, a maturidade, e a visão diária da injustiça e do ódio, da opressão, da mentira e do medo, me levam, agora, adulto, em nome da verdade e da história, a reafirmar o menino: as lágrimas derramadas em 64 continuam justas". Fernando Brant. //
Capítulos (cf. menu do DVD): A formação do Jango político. / Jango vice-presidente. / Do parlamentarismo ao presidencialismo. / As reformas de base e o golpe militar. / O exílio.
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Ficha técnica
IDENTIDADES
Ordem de identificação: Afonso Arinos de Melo Franco (ex-ministro das Relações Exteriores), Raul Ryff (jornalista), Antonio Carlos Muricy (general de Exército), Leonel Brizola (ex-governador do Rio Grande do Sul), Aldo Arantes (ex-presidente da UNE), Gregório Bezerra (ex-dirigente do PCB), Francisco Julião (fundador das Ligas Camponesas), Maria Vitória Benevides (socióloga), Francisco Teixeira (major brigadeiro cassado pelo golpe militar), Celso Furtado (ex-ministro do Planejamento), Bocayuva Cunha (ex-líder do PTB no Congresso), Magalhães Pinto (ex-governador de Minas Gerais), Marcos Sá Correa (jornalista), Frei Betto (frade dominicano), Denize Goulart (filha do ex-presidente João Goulart).
Arquivo: João Goulart, Jânio Quadros, Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Sukarno (presidente da Indonésia), Maria Thereza Goulart, Mao Tse Tung, Vinicius de Moraes (em 1968), Tônia Carrero (em 1968).
Narração: José Wilker.
DIREÇÃO
Direção: Silvio Tendler.
Assistência de direção: José Olívio Júnior.
Consultoria de imagem: Cosme Alves Netto, Valêncio Xavier.
Consultoria de som: Jairo Severiano, Lula Vieira, Nilson Filho, Nirez, Xodó.
ROTEIRO
Roteiro: Silvio Tendler.
Texto: Maurício Dias.
PRODUÇÃO
Produção associada: Denize Goulart, Hélio Paulo Ferraz, Rob Filmes, Antonio José da Mata, Francisco Sérgio Moreira, Geraldo Ribeiro, José Wilker, Lúcio Kodato, Maurício Dias, Milton Nascimento, Silvio Tendler, Wagner Tiso.
Equipe de produção: Cássia Araújo, Maria Muricy, Nilson Filho, Eduardo Chuahy; Maria Paula Araújo, Toninho Muricy, Sergyo Rocha.
FOTOGRAFIA
Direção de fotografia: Lúcio Kodato.
Operação de câmera adicional: Edgar Moura, Nonato Estrela.
Fotografia de cena: Américo Vermelho.
SOM
Som: Geraldo Ribeiro.
MÚSICA
Trilha sonora original: Milton Nascimento, Wagner Tiso.
Músicos de Milton Nascimento: Paulinho Carvalho, Neném, Marcos Viana, Paulinho Santos, Túlio Mourão, Sérgio Alves.
Músicos de Wagner Tiso: Ari Sperling, André Sperling, Mauro Senise.
Músicas:
• "Abertura" (música: Milton Nascimento)
• "Tema de 'Che' Guevara" (música: Milton Nascimento)
• "Versão de San Vicente" (música: Milton Nascimento)
• "Tema final" (música: Milton Nascimento)
• "Enterro de Getúlio Vargas" (música: Wagner Tiso)
• "Samba de Brasília" (música: Wagner Tiso)
• "Jango na América" (música: Wagner Tiso)
• "Lacerda na América" (música: Wagner Tiso)
• "Valsa da Central" (música: Wagner Tiso)
• "Tema do golpe" (música: Wagner Tiso)
• "Noites de Moscou" (Soloviev, Sedoy). Arranjo especial: Wagner Tiso
• "O Encouraçado Potemkin" (música: Dmitri Shostakovich). Arranjo especial: Wagner Tiso
• "Menino" (Milton Nascimento, Ronaldo Bastos) // Gentilmente cedida pela EMI-Odeon
• "Trem mineiro" (Wagner Tiso) // Gentilmente cedida pela EMI-Odeon
• "Enquanto seu lobo não vem" (Caetano Veloso) // Cedida pela Polygram
ARQUIVO
Cinejornal: Visita à China de João Belchior Goulart, vice-presidente da República dos Estados Unidos do Brasil. Estúdios Centrais de Notícias e Documentários da República Popular da China. Pequim, agosto de 1961.
Filme: O Encouraçado Potemkin (Sergei Eisenstein, 1925).
Material fotográfico e documentação da época cedidos por: Arquivo Nacional; Arquivo 'Nosso Século' / Editora Abril; Arquivo Sonoro da Rádio Jornal do Brasil; Arquivo Sonoro do Senado da República; Biblioteca Nacional; Biblioteca da Música / Consulado Geral dos Estados Unidos; Centro de Memória Social; CPDOC / Fundação Getúlio Vargas; Cinemateca do Museu Guido Viaro (Curitiba, PR); Cinemateca do MAM (Rio de Janeiro); Jornal do Brasil; Odilon Lopez; revista Manchete; Silvio Da-Rin; TV Gaúcha [RBS TV]; Tribuna da Imprensa; Última Hora.
FINALIZAÇÃO
Montagem: Francisco Sérgio Moreira.
Montagem de negativo: Reginalda dos Santos Rocha.
Edição de som: Francisco Sérgio Moreira.
Mixagem: Roberto Carvalho.
EQUIPAMENTOS E SERVIÇOS
Equipamento de câmera: Última Filmes.
Laboratório de imagem: Líder Cine Laboratórios (Rio de Janeiro).
Laboratórios de som: Rob Filmes (Rio de Janeiro); Álamo (São Paulo).
Trucagens: Lynxfilm (São Paulo); Truca (São Paulo).
Animação e [créditos de] apresentação: Prisma.
MECANISMOS DE FINANCIAMENTO
Companhia produtora: Caliban Produções Cinematográficas (Rio de Janeiro).
AGRADECIMENTOS
Agradecimentos especiais: Caetano Veloso, Eduardo Chuahy.
Agradecimentos: Ana Margarida, Afonso Arinos de Melo Franco, Alberto Shatovsky, Aldo Arantes, Aldo Lins e Silva, Alex Viany, Alice Gonçalves, Alzira do Amaral Peixoto, Antonio Balbino, Antonio de Oliveira Castro, Armando Nogueira, Arthur Lima Cavalcanti, Aspásia Camargo, Beatriz Horta, Benício Medeiros, Bocayuva Cunha, brigadeiro Francisco Teixeira, brigadeiro Ricardo Nicoll, Carlos Augusto Calil, Carlos da Cunha, Celina Moreira Franco, Celso Furtado, César Romero Jacob, Cláudio Bojunga, Cláudio Braga, Clovis Molinari, coronel Ademar Scaffa, coronel Donato Machado, coronel Kardec Leme, coronel Rui Moreira Lima, Elizabeth de Fiori, Everardo Rocha, Fernando Brant, Fernando Sant'Anna, Flávio de Moraes Rodrigues, Francisco Julião, Frei Betto, general Amaury Kruel, general Antonio Carlos Muricy, Giselle Goldoni, Gregório Bezerra, Hélio Fernandes Filho, Hélio Silva, Heloisa Frossard, Hércules Correa, Hildebrando Pontes Neto, Hugo de Araújo Faria, Isaac Kerstenetzky, Antonio Jesus Pfeil, Joaquim Marques Filho, João Vicente Goulart, Jorge Oscar de Melo Flores, Jorge Otero, José Antonio Nascimento Brito, José de Almeida, José Grégori, José Joffily, José Pelúcio Ferreira, José Penha, Leonel Brizola, Leon Ziwiga, Luiz Fernando Goulart, Magalhães Pinto, Manuel Wambier, Marcelo Alencar, Marcos Sá Correa, Márcio Ferreira, Marcílio Goulart Loureiro, Maria Regina do Nascimento Brito, Maria Thereza Goulart, Maria Vitória de Mesquita Benevides, Mário Martins, Marta Lima Cavalcanti, Maribel Portinari, Max, Doralice e Helena Brando, Miguel Pereira, Moniz Bandeira, Murilo Melo Filho, Nelson Werneck Sodré, Paulo César de Azevedo, Paulo Cunha, Percy Penalva, Pontifícia Universidade Católica (Rio de Janeiro), Prisma Cinema Especial S/C Ltda., Raul Alves Nascimento, Raul Ryff, René Dreyfuss, Roberto D'Avila, Roberto Saturnino Braga, Ronald James Watters, Ronaldo Bastos, Sérgio Augusto, Taba Filmes, Teresa Cesarino, Teresa Valcácer, Vicente Trevas, VS Escala, Wladimir Saccheta, Zetas Malzoni.
Dedicatória: A Chris Marker, Joris Ivens, Ana Rosa e Raul Ryff. In memoriam Gregório Bezerra e Olney São Paulo.
FILMAGENS
Brasil / RS, no município de São Borja, na Granja São Vicente; em São Borja, no túmulo de João Goulart no Cemitério Jardim da Paz.
Os locais onde foram filmados os depoimentos não estão creditados.
ASPECTOS TÉCNICOS
Duração: 1:54:38 (DVD)
Metragem: 3.211 metros
Número de rolos:
Som: Dolby Digital 5.1 (DVD)
Imagem: cor (São Borja e depoimentos), pb (arquivo)
Proporção de tela: 1.33
Formato de captação: 35 mm
Formato de exibição: 35 mm
Legendas (DVD): Português, español, english, français, esperanto.
DIVULGAÇÃO
Programação visual: Tatiana Junod, Lula Vieira.
Release: Lula Vieira, Tatiana Junod, VS Escala, Miguel Pereira, assistido por Káthia Pompeu.
Divulgação: José Antônio Pinheiro.
www.caliban.com.br
PREMIAÇÃO
• Margarida de Prata / CNBB Conferência Nacional dos Bispos do Brasil 1984.
• 12º Festival do Cinema Brasileiro de Gramado 1984: prêmio especial do júri + melhor música original (Milton Nascimento, Wagner Tiso) // melhor filme (júri popular).
• 6 Festival Internacional del Nuevo Cine Latinoamericano de La Habana 1984: prêmio especial do júri para documentário.
• Festival de Nova Delhi, 1985: melhor filme (público).
DISTRIBUIÇÃO
Certificado de Produto Brasileiro: 730, de 13.02.1984.
Certificado de Produto Brasileiro: B0400172300000, de 04.01.2005.
Classificação indicativa: Livre.
Distribuição: Caliban.
DVD: Distribuição: CALIBAN00002, © 2000. Autoração: 14 jun 2007. Extras.
Contato: Caliban.
EXTRAS DVD
Entrevistas atuais com:
• Produtores: Denize Goulart [duração: 01:23], Hélio Ferraz [01:18].
• Equipe de realização: Silvio Tendler [10:10], Francisco Sérgio Moreira [04:41], Wagner Tiso [03:44].
• Opiniões sobre o filme: Miguel Pereira (professor e crítico de cinema; 05:00), Rodrigo Fonseca (jornalista e crítico de cinema; 01:59), Joel Rufino dos Santos (historiador; 02:14), Maria Vitória Benevides (socióloga; 03:41), Ricardo Kotscho (jornalista político; 01:26), Evaldo Mocarzel (documentarista; 03:31).
• Biografia dos entrevistados do filme.
OBSERVAÇÕES
Complementação aos créditos: Ficha técnica. In: TENDLER; DIAS, 1984, p.111-114.
É vedada a reprodução deste filme, em parte ou em todo, sem autorização expressa dos detentores dos direitos sobre o filme.
Grafias alternativas: José Olívio Jr. e José Olívio Petit (contracapa DVD) | Afonso Arinos | Odilon Lopes | Alberto Schatovski | Artur Lima Cavalcanti | Jesus Pfeil | José Renha | Leon Ziniga | Luis Fernando Goulart | Álamo Laboratórios | Mauro Senize
Grafias alternativas (funções): Fotografia adicional
BIBLIOGRAFIA
TENDLER, Silvio; DIAS, Maurício. Jango. Porto Alegre: L&PM Editores, 1984. 118p. il. Texto (narração e depoimentos) do filme de Silvio Tendler.
BOJUNGA, Claudio [entrevista]. A reconstrução da memória – Silvio Tendler e o resgate da história política recente através da emoção. Filme Cultura, Rio de Janeiro, abr-ago 1984, p.20-29, n.44.
CODATO, Adriano Nervo. Uma história política da transição brasileira: da ditadura militar à democracia. Revista de Sociologia e Política, Curitiba, 1º nov 2005, p.83-106, n.25.
TAVARES, Flávio. 1964, o golpe. Porto Alegre: L&PM, 2014.
FANTINEL, Danilo. O Ovo da serpente, o mito do golpe de Estado positivo e a queda: do documentário histórico ao imaginário antropológico da ditadura militar brasileira. Porto Alegre: Programa de Pós-graduação em Comunicação e Informação-FABICO Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação-UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2015. 144p. Orientação: professora dra. Ana Taís Martins Portanova Barros. Dissertação de mestrado.
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Exibições
• São Paulo (SP), Belas Artes Sala Oscar Niemeyer, 27 mar 1984, ter
• Rio de Janeiro (RJ), Leblon II (R. Ataulfo de Paiva), 30 mar 1984, sex, 14h, 16h, 18h, 20h, 22h
• Gramado (RS), 12º Festival do Cinema Brasileiro de Gramado [9-14 abr]-Mostra Competitiva Longa-metragem, Cine Embaixador, 11, 12 abr 1984, qua, 20h30, qui, 9h30
• Caxias do Sul (RS), Cine Theatro Central, 27 abr-3 maio 1984, sex-qui, 20h15
• La Habana (CU), 6 Festival Internacional del Nuevo Cine Latinoamericano [8-18 dez], dez 1984
• Porto Alegre (RS), Mostra de filmes premiados em Gramado [12-17 maio], Cinemateca Paulo Amorim, 13 maio 1985, seg, 21h
• Porto Alegre (RS), O Cinema de Silvio Tendler / Homenagem aos presidentes Jango e JK, Cinemateca Paulo Amorim-Sala Eduardo Hirtz, 28 abr-3 maio 1992, ter-dom, 16h, 20h30
• Porto Alegre (RS), Cine Santander Cultural, 8-14 nov 2003, sab-sex, 14h
• Porto Alegre (RS), Mostra Memórias do Golpe [17-20, 22, 23], CineBancários, 17 out 2024, qui, 19h
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Arquivos especiais
Fora do Brasil, em visita oficial à China, à União Soviética e a outros países do Oriente, o vice-presidente João Goulart recebe a notícia sobre a renúncia do então presidente Jânio Quadros em agosto de 1961, em Singapura. Grandes desafios se impuseram desde aquele momento para assegurar a posse de Jango na Presidência da República tendo em vista setores políticos, militares e empresariais que se opunham ao perfil esquerdista e trabalhista de Jango, que já era conhecido dos donos do poder desde que havia se tornado Ministro do Trabalho do governo de Getúlio Vargas, em 1953. A carreira política de Jango teve início na década anterior. Advogado, filho de fazendeiros gaúchos, Jango trilhou um percurso político direcionado a questões sociais. Com apoio de Vargas, obteve uma vaga na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) em 1947. Em 1950, foi eleito para a Câmara dos Deputados com quase 40 mil votos. Após exercer o cargo de secretário de Estado de Interior e Justiça, na gestão do governador Ernesto Dornelles, foi nomeado ministro do Trabalho do governo Vargas em 1953. Enfrentando o lobby empresarial brasileiro, que barrava o reajuste do salário-mínimo desde o governo do presidente Eurico Gaspar Dutra (1946-1951), Jango consegue aprovar um aumento de 100% para o mínimo. A forte reação negativa entre empresários e militares, que lançaram manifesto público de repúdio ao ato, forçou o desligamento do ministro em fevereiro de 1954. Presidente nacional do PTB, Jango tornou-se o principal nome trabalhista do país após o suicídio de Vargas em 24 de agosto de 1954. Em 1955, foi eleito vice-presidente do Brasil na coligação PTB/PSD, obtendo mais votos que o presidente eleito, Juscelino Kubitschek. Naquela época, as votações para presidente e vice eram separadas. Na eleição de 1960, foi novamente eleito vice-presidente, concorrendo pela chapa de oposição ao candidato Jânio Quadros, do Partido Democrata Cristão (PDC) apoiado pela União Democrática Nacional (UDN). Jânio venceu o pleito. No entanto, liderou um governo apático, que não completou os primeiros sete meses. Ele deixou o poder alegando a pressão de "forças terríveis". Sua renúncia teve importantes consequências, pois a veia trabalhista de Jango não era bem vista pela elite civil-militar. Atentos à "luta ideológica" no Brasil, como afirma o ex-general do Exército Antonio Carlos Muricy em entrevista, chefes militares observavam friamente o envolvimento do presidente com classes operárias, movimentos sindicais e ligas campesinas. Conforme Muricy, generais ligados à Escola Superior de Guerra e ao Estado Maior do Exército fizeram circular entre as Forças Armadas um manifesto alertando para o que o entrevistado chamou de “esquerdização” do Brasil. A posse presidencial só foi garantida pela bem-sucedida Campanha da Legalidade, liderada pelo então governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola. Com apoio do 3º Exército, da Região Sul, Brizola liderou uma resistência política armada desde a capital gaúcha, cuja reivindicação de posse por Jango se espalhou pelo Brasil via rádio. A União Nacional dos Estudantes (UNE) decretou greve nacional e deslocou sua sede para a cidade para participar ativamente do movimento. A pressão popular, mobilizada pela Legalidade, e a divisão interna nas Forças Armadas provocaram o recuo da junta militar temporária que havia ocupado o governo federal após a renúncia de Jânio. O Congresso Nacional retomou o controle do processo político com uma solução de compromisso, aprovando uma emenda que permitiu a posse de João Goulart sob regime parlamentarista. Ainda assim, uma bem estruturada articulação civil-militar conspirou contra seu governo com apoio dos Estados Unidos. Fatos como a revolta dos marinheiros e o Comício de Jango na Central do Brasil, no Rio de Janeiro, chamavam a atenção das elites. Atuando novamente sob o regime presidencialista, mas pressionado por uma base governista dividida, pela economia enfraquecida e por setores que exigiam a execução das reformas, como o Comando Geral dos Trabalhadores (CGT) e a UNE, Jango assina a desapropriação de terras improdutivas e regulamenta a lei de remessa de lucros. Depois disso, na sexta-feira, 13 de março de 1964, o presidente reúne cerca de 200 mil pessoas para o Comício da Central do Brasil, quando falou sobre redução de desigualdades sociais, democratização do uso da terra, voto dos analfabetos, regramento dos aluguéis e do salário-mínimo. Inquietos com o contexto político-social de Jango, grupos oposicionistas ao presidente deflagraram o golpe civil-militar em Minas Gerais em 31 de março de 1964. Tropas se dirigiram ao Rio de Janeiro, chegando à cidade no dia seguinte. O governo Jango não ofereceu resistência. Com a Presidência da República declarada vaga pelo então presidente do Congresso Nacional, Auro de Moura Andrade, enquanto Jango ainda encontrava-se no Brasil, uma junta militar composta pelo tenente-brigadeiro Francisco de Assis Correia de Melo, pelo general Artur da Costa e Silva e pelo almirante Augusto Rademaker declara Ranieri Mazzili presidente interino do Brasil. Em seguida, os militares instauram o Ato Institucional nº 1 (AI-1) em 9 de abril de 1964, que desestabilizou o cenário político nacional e consolidou a junta militar. Em 11 de abril de 1964, o Congresso Nacional realiza eleições presidenciais indiretas, das quais o general Castelo Branco sai vitorioso. O presidente deu início a um período de intolerância política e de repressão social que assumiria proporções dramáticas nos anos seguintes, chegando ao ponto de tornar a tortura e o assassinato dos dissidentes políticos uma política de Estado. João Goulart morreu em Mercedes, na Argentina, em 6 de dezembro de 1976. O corpo retornou ao Brasil somente 12 anos depois.