Ana. Sem título (2020)

Brasil (RJ) – Argentina
Longa-metragem | Ficção
cor, 110 min

Direção: Lucia Murat.
Companhia produtora: Taiga Filmes; Telecine; Canal Brasil; Cepa Audiovisual

Primeira exibição: Moscou (RU), Festival Internacional de Cinema de Moscou, 2 out 2020, sex (première mundial)
Primeira exibição RS: Porto Alegre (RS), Espaço Itaú de Cinema Bourbon Shopping Country Sala 8, 29 jul 2021, qui, 17h20

 

Produzido pela Taiga Filmes, empresa criada pela jornalista e cineasta carioca Lucia Murat, Ana. Sem título é um falso documentário, que mistura as fronteiras entre realidade e ficção. A narrativa aproveita a existência de acontecimentos verídicos, relacionados ao período dos regimes militares na América do Sul, para descrever a trajetória de uma personagem que não existiu. Descrita como uma talentosa artista negra, jovem, libertária e lésbica, ela simboliza a força da mulher latino-americana – que tentou preservar seus valores e seu modo de viver em tempos de repressão política, social e cultural.

O projeto nasce a partir do momento em que uma dramaturga Stella investiga correspondências trocadas entre mulheres artistas do continente. Algumas delas atuam, como a pintora cubana Antonia Eiriz (1929-1995), a cineasta argentina María Luisa Bemberg (1922-1995), a fotógrafa húngara naturalizada mexicana Kati Horna (1912-2000) e a artista visual chilena Luz Donoso (1921-2008). Seu interesse pelo assunto também tem a ver com um trauma familiar: durante a ditadura militar no Brasil (1964-1985), ela viu sua própria irmã desaparecer, sem deixar rastros. O que mais lhe chama a atenção, ao examinar as cartas, é a presença de um mesmo nome, repetido em vários documentos: simplesmente Ana. Natural de Dom Pedrito, no interior gaúcho, e de origem humilde (filha de um borracheiro), Ana se vê obrigada a deixar o Brasil em 1968, após a instalação do AI-5. Vinda de uma pequena cidade, ela encontra novos horizontes na multifacetada Buenos Aires, destacando-se como artista visual e integrando-se à vanguarda.

Fascinada por sua protagonista, a equipe do filme começa a circular por vários países que abrigaram Ana, entrevistando pessoas que teriam conhecido e convivido com ela. O giro inclui Argentina, Cuba, México e Chile – culminando no derradeiro retorno até o Brasil. Desse modo, o espectador ganha a oportunidade de conhecer mais a fundo os bastidores de vários movimentos culturais do período, além de ter mais detalhes sobre episódios traumáticos para a América Latina, como o Massacre de Tlatelolco (quando centenas de mexicanos foram mortos pela polícia, após intensos protestos contra a realização dos Jogos Olímpicos no México, em 1968). Ou o golpe militar contra o presidente do Chile, Salvador Allende (1908-1973), cujo ápice foi a transformação do Estádio Nacional de Santiago em um centro de detenção para prisioneiros políticos – com várias denúncias de abusos e torturas.

A história termina em Dom Pedrito, local para onde Ana teria se dirigido após ter sido obrigada a participar do assassinato da própria namorada, em território chileno. Outrora valorizada por seus pares e dotada de muita energia e personalidade, a protagonista (fictícia) encontra um fim tão melancólico quanto outros nomes importantes de sua geração. As gravações no Rio Grande do Sul mobilizaram cerca de dez profissionais, incluindo a atriz Mirna Spritzer de marcante atuação em inúmeros trabalhos no audiovisual e teatro gaúchos e na formação de gerações de atores como professora de interpretação no DAD-UFRGS. Outro sempre presente é o talentoso diretor de produção Glauco Urbim (de muitos filmes na Casa de Cinema de Porto Alegre, filho de Alice e Carlos Urbim), a diretora de arte Manuela Falcão (dos filmes de Matzembacher e Reolon), o técnico de som Marcos Lopes, entre outros. A Casa de Cinema de Porto Alegre é citada nos agradecimentos, com destaque para a incansável produtora Nora Goulart.

Livremente inspirado na peça Há mais futuro que passado – Um documentário de ficção, o longa teve a sua estreia no Festival Internacional de Cinema de Moscou, e foi selecionado para a 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Em entrevistas, Lucia Murat afirmou o motivo de sua ligação com a obra: "Resolvi fazer desse trabalho um filme porque sabia que nessa busca ia encontrar minha geração. No Brasil, existem mais de 430 mortos ou desaparecidos gerados pela ditadura. Mas, diferente do Chile, os responsáveis nunca foram julgados", em virtude da Lei da Anistia, que perdoou abusos cometidos por agentes do Estado e guerrilheiros que partiram para a luta armada contra o regime.

Lucia Murat nasce no Rio de Janeiro em 1949. Cursa Economia e milita em um grupo estudantil, ficando na clandestinidade após o AI-5, em 1968, e presa em 1971. Estreia na direção de longas-metragens com o docudrama Que bom te ver viva (1989).

Sinopse


Stela, uma jovem atriz brasileira, decide fazer um trabalho sobre as cartas trocadas entre artistas plásticas latino-americanas nos anos 1970 e 1980. Stela viaja para Cuba, México, Argentina e Chile à procura de trabalhos e depoimentos sobre a realidade que essas mulheres viveram durante as ditaduras que a maior parte desses países enfrentaram na época. Ela descobre a existência de uma jovem brasileira que fez parte desse mundo, mas desapareceu. Em 1968, Ana foi do sul do Brasil, de uma pequena cidade do interior, para a efervescente Buenos Aires, que vivia um momento de mudança nas artes e no comportamento. Obcecada, Stela resolve encontrar a personagem e descobrir o que aconteceu.

Cartela final: // A personagem Ana e as cartas trocadas entre as artistas plásticas podem ser semelhantes à realidade, mas são ficção. Uma ficção criada para que melhor pudéssemos chegar à realidade latino-americana. //

Ficha técnica


ELENCO
Stella Rabello (Stela), Roberta Estrela D'Alva (Ana),
Felipe Rocha (Ator de teatro), Renato Linhares (Ator de teatro), Lucas Canavarro (Ator de teatro),
Waldo Franco (Jorge),
Lorenzo Pequeno da Rocha Silva (Bebê),
Mirta Busnelli (Atriz argentina), Maria Fiorentino (Amiga Ana Argentina),
Mauricio García Lozano (Pesquisador México), Concepción Márquez (Sobrevivente México), Emma Dibb (Irmã mais nova México),
Sergio Hernández (Ator chileno), Gloria Laso (Ex-presa chilena),
Mirna Spritzer (Professora gaúcha).
Slam das Minas: Letícia Brito, Gênesis, Carol Dall Farra, Andréa Bak, Rejane Barcelos, Débora Ambrósia.
Figuração (CU): Carlos Almeida, Jesica Vasquez.
Narração – Carta (CU): Margarita Hernandez.

IDENTIDADES
Cuba: Glenda Santiago (guia do Museu), Nelson Herrera (curador de arte).
Argentina: Lita Stantic (produtora), Laura Buccellato (curadora de arte), Madres de la Plaza de Mayo.
México: Elena Poniatowska (escritora), Cristina Kahlo (fotógrafa), Lourdes Grobet (fotógrafa), Norah Horna (filha de Kati).
Chile: Virginia Errázuriz (artista e pesquisadora), Lotty Rosenfeld (artista plástica).
Não creditada: Lucia Murat (também narração).

DIREÇÃO
Direção: Lucia Murat.
Assistência de direção: Ludmila Curi.
Preparação de elenco: Rogério Blat.
Consultoria artística e criação performances Ana: Camilla Rocha Campos.

ROTEIRO
Livremente inspirado na peça Há mais futuro que passado – Um documentário de ficção, idealizado por Clarisse Zarvos e Daniele Avila Small.
Roteiro: Lucia Murat, Tatiana Salem Levy.
Consultoria de roteiro: Gustavo Bragança.
Textos: Virginia Woolf, do livro Um Teto todo seu.

PRODUÇÃO
Produção: Lucia Murat, Felicitas Raffo.
Produção executiva: Isabel Flaksman.
Pré-produção: Gabriela Amadei.
Controle financeiro: Branca Murat.
Administração Taiga: Fernanda Figueiredo.

FOTOGRAFIA
Direção de fotografia: Léo Bittencourt.
Operação de steadicam – Exposição: Ariel Schvartzman.

ARTE
Direção de arte: Elsa Romero e Dina Salem Levy.
Figurino: Ines Salgado, Maria Alice Salgado.

Criação e fotos de Ana: Nina Franco Lins.

SOM
Técnica de som: Andressa Clain Neves.

EQUIPE Performances
Direção de fotografia 16 mm: Dudu Miranda.
Primeira assistência de câmera: Jorge Bernardo.
Segunda assistência de câmera: Júlia Drebtchinsky, DAFB.
Fotografia super 8 mm: Rodrigo Sousa & Sousa.
Primeira assistência de câmera: Júlia Drebtchinsky, DAFB, Kin Guerra.
Som direto adicional: Altyr Pereira.
Contrarregragem: Jayro Botelho, Marcio de Cerqueira Gomes.
Figurinista adicional: Cris Rose.
Maquiagem de efeito: Mari Figueiredo.
Cabeleireira: Marcella Jennifer.
Visagista: Debora Amancio.
Quadros na performance gentilmente cedidos por Nuno Ramos e Elisa Bracher.

EQUIPE Rio Grande do Sul
Assistência de direção: Carolina Silvestrin.
Direção de produção: Glauco Urbim.
Produção de elenco: Simone Buttelli.
Motoristas: Cristiano Conceição, Toni Manara.
Direção de arte: Manuela Falcão.
Assistência de arte: Gustavo Poester.
Contrarregragem: Victoria Melgarejo.
Gaffer: Guilherme Kroeff.
Técnico de som: Marcos Lopes.

EQUIPE Cuba
Companhia produtora: Producciones de la 5ta Avenida.
Assistência de direção e produção: Tessa Maria Hernández Pascual.
Direção de produção: Claudia Carolina Calviño.
Chefe de produção: Alejandro Tovar.
Som direto adicional: Esteban Bruzón.
Gaffer: Dario Colina.
Motoristas: Eddy Hernandez, Guillermo Encalada, Lester Ruiz.
Despachante de alfândega: Lissette Peña.

EQUIPE Argentina
Produção: Felicitas Raffo.
Coordenação de produção: Pamela Livia Delgado.
Chefe de produção: Marcelo Rey.
Gaffer: Tobias Tosco Galloni.
Maquiagem: Daniela Perez.
Transporte: Norberto Iannino.
Seguros: Carlos Meira.
Despachante de alfândega: Juan F. Etcheberry.
Locação de equipamento: Lumen Cine.

EQUIPE México
Companhia produtora: MotZorongo.tv, S.A. de C.V.
Produção geral: Carlos Sánchez Sosa.
Gerência de produção: Paty Aguilar.
Assistência de produção: Yazmin Araujo.
Gerência administrativo: Eusebio Sánchez Rosas.
Assistência técnica: Jesús Mortera.
Transporte: Javier Téllez.

EQUIPE Chile
Companhia produtora: Brutastuta Audiovisual (Santiago).
Produção: Joaquín Vallejo Correa, Romina Forno Fargo.
Gaffer: Igor Valdés Ramírez.
Operação de drone: Gonzalo Puelles Molina.
Transporte: Guillermo Mandiola.
Alimentação: Francisca Álvarez Zapata, David Miño Martínez.
Locação de equipamentos: Jaime Rojas.

MÚSICA
Trilha sonora: Livio Tragtenberg.

Músicas:
• "Me gritaron negra" (Victoria Santa Cruz) por Victoria Santa Cruz
• "Vete de mí" (Virgilio Expósito, Homero Expósito; bolero) por Bola de Nieve // Álbum: Ay mamá Ines / Orfeon S.A.
• "Nosotros" (música, letra em espanhol: Pedro Junco Jr.) por Omara Portuondo // Álbum: Soy cubana / Orfeon S.A.
• "Ur-Tango" (Livio Tragtenberg), por Livio Tragtenberg
• "Sabor a mí" (música, letra em espanhol: Álvaro Carrillo; bolero) por Pepe Jara // Álbum: Una Noche bohemia / Orfeon S.A.
• "Te recuerdo Amanda" (música, letra em espanhol: Victor Jara) por Victor Jara
• "Vamos mujer" por Quilapayun // Álbum: El Reencuentro – Cantata Santa María Vol.1 / Warner Music
• "Areia fina" (Lucas Vasconcellos) por Alice Caymmi // Álbum: Electra / Joia Moderna
• "Sete anos apenas" (Roberta Estrela D'Alva; slam) por Roberta Estrela D'Alva e Slam das Minas
• "Rap sem palavras" (Livio Tragtenberg), por Livio Tragtenberg

ARQUIVO
Pesquisa iconográfica: Antonio Venancio.
Pesquisa digital: Rubens Takamine.

Obras de arte BR: da exposição Mulheres radicais: arte latino-americana, Pinacoteca de São Paulo (2018).
Filme AR: El Mundo de la mujer (María Luisa Bemberg, 1972, AR, cm, doc) // Cenas gentilmente cedidas por Cristina Miguens.
Obras de arte MX:
Fotografias de Kati Horna: Série Muñecas del miedo; Quarto de Frida Kahlo e Guerra Civil Espanhola.
Fotografias de Lourdes Grobet: série Lutadoras.
Fotos Olimpíadas: Getty Images.
Obras de arte CL:
Vídeos e fotografias do CADA gentilmente cedidos.
Fotografia dos Carabineiros: AFP.
Bombardeio do La Moneda: Progress Film.
Aviões bombardeiam La Moneda: Juan Ángel Torti.

FINALIZAÇÃO
Montagem: Mair Tavares, Marih Oliveira.

Produção de finalização: Marih Oliveira.

EQUIPE pós-produção performances
Revelação e digitalização super-8: Coletivo Mundo em Foco / Super Off, Felipe Neves, Ivan Salomão, Rodrigo Sousa & Sousa, Nayana Ferreira, Vini Campos.
Revelação 16 mm: Coletivo Mundo em Foco / Super Off, Rodrigo Sousa & Sousa, Vini Campos, Gabriel Lucena.
Digitalização: Afinal Filmes (Rio de Janeiro).

EQUIPE pós-produção de imagem
Direção geral de pós-produção: Paulo Barcellos.
Atendimento: Claudia Reis, Regiane Cruz.
Coordenação geral de pós-produção: Leonardo Puppin.
Coordenação de pós-produção: Alexandre Seara.
Colorista: Fábio Souza.
Composição: Fernando Andrade, Rafael Rodrigues.
Conform: Angelo Nery, Lucas Martinelli, Márcio Fernandes, Patrick Souza.
Masterização DCP: Francesco de Angelis.
TI: Davison Serpa, Richard Matos.

EQUIPE pós-produção de som
Pré-mixagem: Breno Poubel.
Foley: Nerina Valido.
Edição de foley: Constanza Pando.
Edição de som: Simone Petrillo, Ney Fernandes.
Mixagem: Emmanuel Croset.

EQUIPAMENTOS E SERVIÇOS
Estúdio de pós-produção de imagem: O2 (São Paulo).
Estúdio de gravação [de foley]: Cubic Post (Ciudad Autónoma de Buenos Aires).
Estúdio de edição de som e mixagem: Meios e Mídia Comunicação Ltda. (Rio de Janeiro).

MECANISMOS DE FINANCIAMENTO
Companhia produtora: Taiga Filmes (Rio de Janeiro).
Coprodução: Cepa Audiovisual (Ciudad Autónoma de Buenos Aires).
Coprodução: Telecine – Seu momento cinema (Rio de Janeiro); Canal Brasil (Rio de Janeiro).
Financiamento (BR): Recursos públicos geridos pela ANCINE Agência Nacional do Cinema. Investimentos do FSA Fundo Setorial do Audiovisual administrados pelo BRDE Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul.

AGRADECIMENTOS
Agradecimentos especiais: Arcelia Ramírez, Beatriz Bracher, Casa de Cinema de Porto Alegre (Porto Alegre), Centro Municipal de Artes Hélio Oiticica (Rio de Janeiro), Como manda o figurino, Galeria Athena, Herdeiros Victor Jara, Jochen Volz, Julia Murat, Nasaindy Barret de Araújo, Maria Carlota, Matias Mariani, Nora Goulart, Pinacoteca São Paulo, VideoFilmes (Rio de Janeiro).
Agradecimentos:
Brasil: Ana Amelia Aquino, Anderson Coutinho, João Marcos Mancha, Júlia Motta, Kaya Rodrigues, Lenice Pequeno da Silva, Leticia Vitoria Pequeno da Rocha Silva, Luis Franke, Muriel Alves, Nickolas Caprio, Priscila Alves, Tainã Ottoni, Thais Gouvea.
Argentina: Adriana Yurkovich, Ariana Blanco, Biblioteca ENERC / Adrian Muoyo, Café Los 36 Billares, Cinematográfica Horacio Sereno, ENERC Escuela Nacional de Experimentación y Realización, Librería Los Argonautas (Sucursal Av. de Mayo 637).
México: Alejandro Pelayo (diretor geral da Cineteca Nacional), Casa Museo Frida Kahlo-Casa Azul, Cineteca Nacional, CCUT Centro Cultural Universitario Tlatelolco, CUEC Centro Universitario de Estudios Cinematográficos, Dora Moreno (diretora de acervos da Cineteca Nacional), Eunice Hernández (diretora do Memorial de 68), Hilda Trujillo (diretora de Museo Frida Kahlo), María del Carmen de Lara (diretora do CUEC), Mauricio Hanna, MUAC Museo Universitario de Arte Contemporáneo, Nelson Carro (diretor de difusão e programação da Cineteca Nacional), Sol Henaro (curadora de acervos documentais do MUAC), Secretaria de Cultura del Gobierno Federal, UNAM Universidad Nacional Autónoma de México.
Chile: AFEP Chile Agrupación de Familiares de Ejecutados Políticos, Andrea Avendaño, Pablo Aravena, Jaime Vindel, Cementerio General de Santiago, Centro Cultural Estación Mapocho, Centro Cultural GAM Gabriela Mistral, Corporación Estadio Nacional, Memoria Nacional, Lucia Franchi Gaudenzi, Moviecenter, Museo de la Memoria y los Derechos Humanos, Parque Metropolitano de Santiago, Restaurante "Donde Augusto", Mercado Central.

A produtora Taiga Filmes não poupou esforços no sentido de localizar os titulares dos direitos autorais e de imagem retratados nesse filme. Os direitos não obtidos estão devidamente reservados aos seus titulares.

FILMAGENS
Brasil / SP, em São Paulo;
Argentina, na Ciudad Autónoma de Buenos Aires;
Chile, em Santiago;
México, na Ciudad de México;
Brasil / RS, em Dom Pedrito.

ASPECTOS TÉCNICOS
Duração: 1:49:40
Som: Dolby 5.1
Imagem: cor
Proporção de tela:
Formato de captação:
Formato de exibição: HD

DIVULGAÇÃO
Programação visual: Fernanda Kassar, Priscila Lopes / Vento Estúdio (Rio de Janeiro).

PREMIAÇÃO
• 21º Grande Prêmio do Cinema Brasileiro [cerimônia de premiação: Rio de Janeiro, ago 2022]: indicação: roteiro adaptado.

DISTRIBUIÇÃO
Classificação indicativa: 14 anos.
Distribuição: Imovision (São Paulo).
Contato:

OBSERVAÇÕES
// Todos os direitos reservados à Taiga Filmes e Vídeo – © 2020 //
Grafias alternativas: Cristiano Lima da Conceição | Levistone Manara | Alvaro Carrilo | Maria Luiza Bemberg | Centro Cultural Helio Oiticica
Grafias alternativas (funções): Controller | Catering | Artista de foley

BIBLIOGRAFIA
ZARVOS, Clarisse; SMALL, Daniele Avila; BARCELOS, Mariana. Há mais futuro que passado – Um documentário de ficção / There's more future than past – A docufiction play. Belo Horizonte: Editora Javali, 2018. 120p. (Coleção Teatro Contemporâneo) Edição bilíngue português-inglês. Tradução: Catharina Silva.
Noticiário:
LERINA, Roger. A voz das artistas silenciadas ecoa em Ana. Sem título. Matinal, Porto Alegre, 29 jul 2021.

Exibições


• Moscou (RU), Festival Internacional de Cinema de Moscou, 2 out 2020, sex (première mundial)

• São Paulo (SP), 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo [online; 22 out-4 nov 2020]-Mostra Brasil

• La Habana (CU), 42º Festival Internacional del Nuevo Cine Latinoamericano [3-13 dez]-Concurso de ficción Largometrajes, dez 2020

• Santiago (CL), FEMCINE 11º Festival Cine de Mujeres [23-28 mar]-Panorama, mar 2021

Lançamento comercial BR: 29 jul 2021, qui

• Porto Alegre (RS), Espaço Itaú de Cinema Bourbon Shopping Country
Sala 8, 29-31 jul-1º-4 ago 2021, qui-qua, 17h20
Sala 2, 5-11 ago 2021, qui-qua, 13h30

• Montevideo (UY), 39º Festival Cinematográfico Internacional del Uruguay [4-12 dez], 7 dez 2021

• Canal Brasil, 29 dez 2021, qua, 19h

• Rio de Janeiro (RJ), Cineclube FGV: Ciclo Democracia em foco, FGV Fundação Getúlio Vargas (Praia de Botafogo, 190, auditório 318), 8 set 2022, qui, 17h30 (debate com diretora)

Arquivos especiais


LERINA, Roger. A voz das artistas silenciadas ecoa em Ana. Sem título. Matinal, Porto Alegre, 29 jul 2021. [gentilmente cedido para o Portal do Cinema Gaúcho]

Ana. Sem título (2020), novo filme da diretora Lucia Murat, chega aos cinemas nesta quinta-feira (29/7). O longa foi selecionado para a 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e teve sua première mundial no Festival Internacional de Cinema de Moscou.

Livremente inspirado na peça Há mais futuro que passado – Um documentário de ficção, o road movie que mistura documentário e ficção apresenta artistas plásticas mulheres da América Latina por meio da ótica de Stela (Stella Rabello), jovem atriz de teatro que resolve fazer um trabalho sobre cartas trocadas entre elas durante os anos 1960 e 1970.
Stela viaja então para Cuba, México, Argentina e Chile à procura de seus trabalhos e de depoimentos sobre a realidade que elas viveram durante as ditaduras que a maior parte desses países enfrentaram na época, a partir dos rastros reticentes deixados por Ana (Roberta Estrela D'Alva), uma jovem brasileira negra que fez parte desse mundo, mas desapareceu misteriosamente.
Oriunda de uma pequena cidade do interior gaúcho, a artista visual Ana ganhou o mundo, apresentando seu trabalho em grandes metrópoles latino-americanas e engajando-se em movimentos artísticos, culturais e políticas de vanguarda na época nesses lugares. Obcecada por essa figura fascinante e fugidia, Stela resolve refazer a trajetória de Ana e descobrir o que aconteceu com ela.
"Resolvi fazer desse trabalho um filme porque sabia que nessa busca ia encontrar minha geração. No Brasil, existem mais de 430 mortos desaparecidos durante a ditadura. Muitas mulheres. Mas, diferente do Chile, os responsáveis nunca foram julgados", comenta a diretora Lucia Murat.
Ana. Sem título foi rodado nas capitais latino-americanas Havana, Buenos Aires, Cidade do México e Santiago do Chile – além de Dom Pedrito, no interior do Rio Grande do Sul. O roteiro de Murat e da escritora Tatiana Salem Levy adapta para o cinema o texto dramatúrgico de Daniele Avila Small, Clarisse Zarvos e Mariana Barcelos. No filme, mais uma vez a cineasta demonstra habilidade para borrar os limites entre o documentário e a ficção, trafegando entre ambos os registros com desenvoltura e criando uma narrativa híbrida – um recurso que Murat exercita desde sua estreia premiada com Que bom te ver viva (1989).
Ao tentar retraçar o percurso de vida e arte de Ana, cheio de lacunas e perguntas sem resposta, Stela é acompanhada por uma equipe de filmagem, que inclui a própria diretora Lucia Murat, registrando entrevistas com artistas, curadores, pesquisadores e outras pessoas que teriam conhecido a brasileira e testemunhado a ligação dela em suas viagens pela América Latina com figuras como a pintora cubana Antonia Eiriz, a cineasta argentina María Luisa Bemberg, a fotógrafa húngara radicada mexicana Kati Horna e a artista visual chilena Luz Donoso. Todas artistas integrantes da excelente exposição Mulheres radicais: Arte latino-americana, 1960-1985, exibida na Pinacoteca de São Paulo em 2018.

Na entrevista exclusiva a seguir, Lucia Murat explica como foi filmar Ana. Sem título em diversas cidades latino-americanas, comenta a respeito da mistura de ficção e documentário em seu trabalho e lamenta que o Brasil não tenha seguido o exemplo de outros países do continente confrontando seu passado autoritário: "Porque justamente pelo fato de o Brasil nunca ter feito isso e ter se preocupado com a memória justifica muito a tragédia que estamos vivendo. Justifica uma pessoa que fez loas a um torturador, que defende a tortura, ao invés de ter sido preso, ter sido eleito presidente".

Ana. Sem título reúne imagens captadas em diversos lugares de várias cidades latino-americanas, além de entrevistas com muitas pessoas nesses locais. Como foi o trabalho de pré-produção para selecionar locações e personagens?
Ana. Sem título é um road movie que se passa em diversas cidades latino-americanas. Mas, para fazer esse filme, a gente partiu primeiro de uma estrutura, de um roteiro, de uma investigação a partir da exposição Mulheres Radicais, que trabalhava com artistas latino-americanas dos anos 1960 e 1970, de onde a gente selecionou algumas artistas. A partir daí, eu fui a todas essas cidades e, junto a um produtor local, definimos quem seriam as pessoas entrevistadas, quais seriam as locações e os atores que participariam do filme. Então, foi um processo bastante demorado, mas, ao mesmo tempo, quando a gente filmou, estávamos abertos. Como tinha uma parte documental muito forte, estávamos abertos às interferências.

Como foi a construção do roteiro com a escritora Tatiana Salem Levy?
O roteiro parte de uma peça de teatro que eu tinha visto que tinha um dispositivo muito interessante, que era o fato de as artistas latino-americanas se escreverem. Eu e a Tatiana partimos daí, mas é cinema, que é outra coisa. Então, a primeira coisa que a gente decidiu é que o filme é um road movie, a gente pode ir aos lugares. Segundo, quem vai dirigir toda essa equipe pelos países são as cartas, elas é que vão dizer aonde a gente estará indo à procura de Ana. E a construção do personagem Ana fez parte desse processo também. É muito bom trabalhar com a Tatiana. Ela até ficou um pouco receosa de que, quando o filme ficasse pronto, ela não reconhecesse o roteiro. Mas ela reconheceu o roteiro. É uma mistura de ficção e documentário, mas a estrutura dele foi dada no roteiro que a gente fez.

Uma característica interessante do filme é a mistura de lembranças autênticas com memórias inventadas envolvendo Ana na fala dos personagens. Como foi esse processo de criação e interpretação de um discurso híbrido com os não-atores?
Essa mistura de ficção e documentário é uma coisa que eu trabalhei desde o meu primeiro filme, mas acho que com Ana foi muito mais radical, até eu mesma me espantava. Acho que o grande desafio foi filmar de uma maneira que o espectador acredite o tempo todo que é verdade, quer dizer, que é um documentário e tudo ali é verdadeiro. Acho que esse foi o desafio para mim e o Léo (Bittencourt), que fez a fotografia: qual o enquadramento, qual é a luz. A ponto de, por exemplo, terem algumas cenas ficcionais que na montagem caíram porque era ficção demais e isso não tinha nada a ver com o filme. Buscar uma maneira em que tanto os atores quanto os entrevistados reais se apresentassem para o espectador de uma maneira documental foi o grande desafio.

Como se deu a escolha de Roberta Estrela D'Alva para o papel da enigmática Ana?
Acho que muito desse filme tem a ver com a explosão dos movimentos identitários. É a existência do movimento negro que me faz buscar que eu, como branca, tenho de ter pessoas negras dentro da equipe e do elenco. Da mesma forma o movimento feminista: eu conheci a Roberta Estrela D'Alva em um festival de mulheres. Então, no momento em que a conheci, pensei: ela é incrível, carismática, tem talento, preciso dela em algum filme, nesse filme que eu já estava pensando em fazer. O papel então foi muito criado para ela.

As performances de Ana que aparecem no filme foram criadas por você?
Toda a consultoria de artes plásticas do filme foi feita pela artista Camilla Rocha Campos, carioca, negra e curadora, uma pessoa extremamente articulada e inteligente. A consultoria dela foi fundamental para tudo, para as performances e as partes de artes plásticas no filme.

O envolvimento de sua filha, a realizadora Julia Murat, com as artes visuais em seu trabalho, como nos filmes Histórias que só existem quando lembradas e Pendular, influenciou você de alguma maneira em Ana. Sem título?
Eu acho que o trabalho da Julia e o meu têm uma influência muito grande um sobre o outro. É muito bom ter uma filha tão talentosa quanto eu tenho. A Julia fez faculdade de desenho industrial, que era ligada às belas artes, e se interessou muito por artes plásticas. Eu também, a gente frequentou museus desde que ela era criança. Em vários filmes meus essa questão já estava presente, como em A Memória que me contam. No caso de Ana. Sem título, ele parte de uma exposição que, quando a gente escreveu o roteiro, só tinha sido apresentada em Los Angeles e Nova York. Mas a gente conseguiu com a curadoria da exposição o catálogo e, a partir daí, selecionamos as artistas. Por uma coincidência extremamente boa para o filme, em 2018 a exposição Mulheres Radicais foi apresentada na Pinacoteca de São Paulo, e a gente conseguiu filmá-la.

Por que a cidade gaúcha de Dom Pedrito foi escolhida como a terra natal de Ana?
A escolha de Dom Pedrito foi interessante. Eu tinha um grande amigo que era de lá, acho o nome incrível. Ao mesmo tempo, é um nome muito carinhoso, que não tem a ver com os pampas. Visualmente, é uma paisagem muito interessante para o filme. O fato também de que você tem uma região extremamente racista e machista, de onde sai uma personagem rebelde. Acho que Ana nos representa, todas as mulheres rebeldes, todas as mulheres que quiseram se impor, que tentaram se impor, mas que muitas vezes não conseguiram.

Há passagens particularmente emocionantes no filme, como a visita ao Estádio Nacional do Chile. O que significou para você confrontar durante a rodagem sua experiência de presa política torturada com locais, episódios e pessoas conectados de alguma forma com seu passado?
A ideia do filme nessa parte documental era que a equipe seria parte do filme e as nossas emoções estariam presentes. Daí, por exemplo, eu relaciono uma obra da Luz Donoso, no começo do filme, sobre os desaparecidos chilenos com a história dos desparecidos e desaparecidas no Brasil. No Estádio Nacional, foi uma coisa muito emocionante. Quando a gente foi filmar lá o camarim das mulheres, tinha uma marcação, a Stella tinha que passar naquelas pequenas celas, onde tinham os textos sobre as mulheres. Quando terminou, a gente já tinha desligado a câmera e a Stella ficou muito emocionada e começou a chorar. Obviamente, eu falei para o Léo: "Vamos filmar". Depois eu pedi licença a ela se a gente podia usar, porque era uma emoção real, não estava colocada no roteiro. Acho que um dos momentos mais emocionantes do filme é aquele choro da Stella, que é verdadeiro. Como a questão da Andressa (Ferreira, assistente do filme) ter sido detida no México por racismo, porque não acreditavam que uma negra pudesse ser técnica de som de um filme. Ela perdeu o voo para Havana, foi muito ruim. Da mesma maneira, a gente colocou isso no filme.

Ana. Sem título recupera a história política e social da América Latina nos anos 1960 e 1970, mas muitos aspectos autoritários, machistas e discriminatórios que marcavam a realidade do continente seguem presentes ainda hoje. Como você vê o Brasil de hoje e no futuro próximo?
Uma das coisas que mais nos impactou como equipe foi a existência em todos esses países de uma preocupação com a memória, a existência de museus dos direitos humanos, a preocupação com a educação dos jovens e de que a história tem de ser revisitada. Ao contrário, o Brasil não tem nada disso. Quando fomos filmar, no início de 2019, Bolsonaro já tinha sido eleito. Acho então que essa questão da memória e dos museus dos direitos humanos acabaram tomando uma proporção muito grande no filme, porque justamente pelo fato de o Brasil nunca ter feito isso e ter se preocupado com a memória justifica muito a tragédia que estamos vivendo. Justifica uma pessoa que fez loas a um torturador, que defende a tortura, ao invés de ter sido preso, ter sido eleito presidente.

Como citar o Portal


Para citar o Portal do Cinema Gaúcho como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
Ana. Sem título. In: PORTAL do Cinema Gaúcho. Porto Alegre: Cinemateca Paulo Amorim, 2025. Disponível em: https://cinematecapauloamorim.com.br//portaldocinemagaucho/2220/ana-sem-titulo. Acesso em: 23 de fevereiro de 2025.