Jango no exílio (2024)

Brasil (RS)
Longa-metragem | Não ficção
cor, 105 min

Direção: Pedro Isaias Lucas.
Companhia produtora: Artéria Filmes

Primeira exibição: Porto Alegre (RS), Cinemateca Paulo Amorim-Sala Eduardo Hirtz, 28 mar 2024, qui, 19h30 (comentada com diretor)

 

Jango no exílio apresenta os últimos 12 anos de vida de João Belchior Marques Goulart (1919-1976), o 24º presidente da História do Brasil – removido do cargo pelo golpe militar de março de 1964. Após sair do território nacional, ele e sua família iniciaram uma longa jornada pelo exterior, morando em países como Uruguay e Argentina, sem jamais deixarem de sonhar com a possibilidade de um retorno à terra natal. O diretor Pedro Isaias Lucas constrói um painel, que conta com os depoimentos de pesquisadores e de pessoas que estiveram ao seu lado, incluindo preciosas imagens de arquivo. A câmera também passeia pelos mesmos locais que receberam os Goulart no passado, a fim de atualizar as transformações ocorridas nesses lugares, com o passar do tempo.

Inicialmente, Jango é muito bem recebido no Uruguay, onde compra uma fazenda na região de Tacuarembó – após superar várias dificuldades financeiras, já que seu dinheiro estava retido no Brasil. No novo país, o ex-presidente adquire cabeças de gado, envolve-se com a importação de carne e faz amizade com um grupo de peões – seus funcionários, tratados de igual para igual. Obrigado a respeitar uma regra de não intervenção na política uruguaia, João Goulart é requisitado para conversas com membros de vários partidos e aceita encontrar até mesmo um inimigo: o corvo Carlos Lacerda (1914-1977), que lhe propõe a participação numa frente ampla brasileira contra a ditadura. A iniciativa foi monitorada por agentes da repressão brasileira.

A situação começa a se complicar quando as eleições presidenciais locais são fraudadas – numa antecipação da chegada da ditadura de Juan María Bordaberry (1928-2011). Jango decide partir para a Argentina, onde conta com a admiração e a proteção de Juan Domingo Perón (1895-1974). Sua estratégia de sobrevivência novamente envolve a aquisição de novas terras, agora também aproveitadas para a produção de arroz. No entanto, as limitações impostas pelo desterro, como o afastamento dos amigos e as preocupações com a segurança vão acelerando o seu processo de envelhecimento. A morte de Perón é um outro duro golpe, que oferece a oportunidade de uma viagem para a Inglaterra. Em Londres, ocorre um histórico reencontro com Leonel Brizola (1922-2004), após algum tempo de afastamento.

Em seu último segmento, o documentário aprofunda as discussões sobre o que teria causado a morte de Jango, em 6 de dezembro de 1976. Embora o atestado de óbito indique um ataque cardíaco fulminante, investigações adicionais foram realizadas em 2014, para comprovar ou não a hipótese de envenenamento do ex-presidente. Uma tese sugeria a hipótese de um agente infiltrado ter manipulado os seus remédios para o coração, a fim de acelerar o seu fim – num momento em que um retorno ao Brasil era mesmo cogitado. O laudo final foi inconclusivo, mas apontou a presença de uma substância estranha no organismo: o tetranitrato de eritritol, que pode aparecer em medicamentos para cardíacos, mas também existe em explosivos. A exumação do cadáver contou com representantes de diversos países (como Espanha e Cuba), além do Brasil – um aspecto que foi contestado por especialistas. Fascinado por seu protagonista, o documentário procura valorizar mais os seus acertos do que erros, legitimando ações como a decisão de evitar uma guerra civil no Brasil, em 1964, optando por uma saída honrosa que talvez não tenha lhe gerado uma vida mais feliz.

O documentário Jango no exílio apresenta um perfil humano do presidente exilado, suas referências culturais e seu modo de agir no âmbito privado. O período narrado começa com o momento em que João Goulart deixa de ser uma figura pública no Brasil e passa a ser assunto proibido nacionalmente. Essa interdição causou uma lacuna histórica sobre a trajetória desse homem público. A interrupção da vida pública é o início dos percalços pessoais de um homem banido do seu país, que carregou sobre si o peso da acusação de ser o principal causador do golpe civil-militar de 1964 no Brasil.

A narrativa é desenvolvida a partir do testemunho de pessoas que conviveram com Jango no exílio, associadas a imagens de arquivo – de acervos brasileiros, uruguaios e argentinos – e a imagens e sons atuais dos locais onde João Goulart morava, trabalhava ou frequentava durante o desterro, captados sob a luz natural do outono na região sul continental. A forma como foram realizados os registros das fazendas e dos lugares que Jango viveu no exílio aportam dados visuais e sonoros sobre a rotina e o perfil humano do ex-presidente. Essa abordagem do registro – aliada ao trabalho de montagem do filme – também visa sugerir as transformações ocorridas naqueles lugares, com o passar do tempo. A presença espectral do passado evoca a passagem pretérita de Jango por aqueles ambientes.

A produção gaúcha chega aos cinemas no mês em que o golpe militar no Brasil completa seis décadas.

Documentários longos sobre Jango:
Jango (S. Tendler, 1984)
Jango em 3 atos (D. Goulart, 2008)
Dossiê Jango (P. H. Fontenelle, 2012)
Jango no exílio (P. I. Lucas, 2024)

Sinopse


Epígrafe:
" (...) as gerações se envolvem mais nas paixões que na história.
E esquecer se tornava cidadania do vento.
E a sombra da lembrança era mais forte que a lembrança.
E o povo, em vez de reter a memória, retinha a sombra das sombras
Até não reter mais nada,
salvo o acaso".
– Carlos Nejar.

Refugiado no Uruguay após o golpe militar de 1964, o ex-presidente brasileiro João Goulart enfrenta dificuldades financeiras, perseguição política e ameaças de morte. Ele e sua família, no entanto, sempre alimentam o desejo de voltar ao Brasil. Os 12 anos de exílio de Jango em que ficou vivendo entre Uruguay e Argentina são apresentados com imagens e depoimentos inéditos de familiares e amigos. A morte controversa em dezembro de 1976 na fazenda La Villa, em Corrientes.

Ficha técnica


IDENTIDADES
Arquivo: João Goulart 'Jango', Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros, Leonel Brizola, Tancredo Neves, John F. Kennedy, Auro de Moura Andrade (deputado, áudio declarando vaga à presidência da República, 2 abr 1964).
Ordem de identificação: Denize Goulart, Antônio Ávila, Luthero Fagundes, Celeste Penalvo, Óscar López Balestra 'Cacho', Abayubá Valdez, Raul Garay, João Vicente Goulart, Fernando Rios, Orpheu Santos Salles, Pedro Simon, Laquito Leães, Jair Krischke, Maria Thereza Goulart, Dino Lopes, Tarso Genro, Neuza Penalvo, Robert Ulrich 'Peruano', Roger Rodríguez, Francisco Rafael Frezzini Esquenazi, Ernani Azambuja, Pablo Andrés Vassel, João Marcelo Vieira Goulart.
Creditados, mas não identificados: Alem García, Aurélio Gonzalez, Christopher Goulart, Norma Beatriz Espíndola, Capitão Wilson, Najá Padilha Wiedenhoft, José Newton Falcão, Tânia Fragoso Falcão, Clemar Dias, Cleber Dioni Tentardini, Dionete Streck, Carlos Rios Gouegeon, Carmen Celia Fernandez, Juan Carlos Menendez, Juan Carlos Viana Pereira, Seu Guri.
Locução: Carlos Cunha Filho.

DIREÇÃO
Direção: Pedro Isaias Lucas.

ROTEIRO
Roteiro: Pedro Isaias Lucas.
Pesquisa de narradores: Pedro Isaias Lucas.
Assessoria de pesquisa documental e de narradores: Jair Krischke.
Assessoria de pesquisa de fontes e narradores: Neuza Penalvo.

PRODUÇÃO
Produção: Pedro Isaias Lucas.
Produção executiva: Marta Haas.
Direção de produção: Marta Haas.
Contabilidade: Marelice Soares.

FOTOGRAFIA
Direção de fotografia: Pedro Isaias Lucas.
Operação de câmera adicional: Maximiliano Gonzalez.

ARTE
Animação: Lucas Gheller.

SOM
Técnico de áudio: Roberto Corbo.

MÚSICA
Trilha musical original – composição e execução: Johann Alex de Souza.
Produção musical: Augusto Stern, Fernando Efron.

Músicas:
• "Chamamê cone sul" (Johann Alex de Souza) por Johann Alex de Souza
• "Desfile de horrores" (Johann Alex de Souza) por Johann Alex de Souza
• "Estrada de exílios" (Johann Alex de Souza) por Johann Alex de Souza
• "Galope malambo" (Johann Alex de Souza) por Johann Alex de Souza
• "Jazz em dois" (Johann Alex de Souza) por Johann Alex de Souza
• "Legueiro de galope" (Johann Alex de Souza) por Johann Alex de Souza
• "Tema para Aurélio" (Johann Alex de Souza) por Johann Alex de Souza
• "Motivo de tango" (Johann Alex de Souza) por Johann Alex de Souza
• "O Último cortejo" (Johann Alex de Souza) por Johann Alex de Souza
• "Passagem" (Johann Alex de Souza) por Johann Alex de Souza
• "Sem título em Mi Menor" (Johann Alex de Souza) por Johann Alex de Souza

ARQUIVO
Pesquisa iconográfica e licenciamento de imagens: Keter Velho.
Pesquisa iconográfica e sonora: Marta Haas.
Acervos: Família Goulart; Maneco Leães; CDF Centro de Fotografía de Montevideo; Fundação Getúlio Vargas / CPDOC; Arquivo Público do Estado de São Paulo; Museu Casa de João Goulart (São Borja); Memorial da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul; Folha Press; Agência do Estadão; Arquivo Nacional.
Fotógrafos: Luiz Abreu, Antônio Vargas, Aurélio González.

Todos os esforços foram realizados para encontrar, identificar e creditar os detentores dos direitos autorais e patrimoniais contidos neste documentário. Caso tenha havido alguma omissão involuntária de dados e informações relativas à autoria e titularidade, por favor, contate-nos para que possamos retificar os fatos.

FINALIZAÇÃO
Montagem: Pedro Isaias Lucas.

Colorista: Rafael Duarte.

Desenho de som: Augusto Stern, Fernando Efron.
Edição de efeitos: Guilherme Cássio.
Edição de ambientes: Ray Fisch.
Edição de som e mixagem: Augusto Stern.
Check mix: Fernando Efron.

EQUIPAMENTOS E SERVIÇOS
Estúdio de gravação e mixagem da trilha musical: Bunker Sound Design (Porto Alegre).
Estúdio de desenho de som e finalização de som: Bunker Sound Design (Porto Alegre).
Estúdio de check mix: TECNA – Centro de Produção Audiovisual (Viamão).
Estúdio de finalização de imagem: Machina Filmes (Porto Alegre).
Acessibilidade: ETC Filmes (São Paulo).

MECANISMOS DE FINANCIAMENTO
Companhia produtora: Artéria Filmes (Porto Alegre).
Financiamento (BR): Chamada Pública Concurso Produção para Cinema 2018. Recursos públicos geridos pela ANCINE Agência Nacional do Cinema. Investimentos do FSA Fundo Setorial do Audiovisual administrados pelo BRDE Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul. Proponente: Artéria Filmes, Comércio, Prestação de Serviço e Produção Audiovisual Ltda. Valor: R$ 392.000,00.
Apoio: Show Me The Fund [Esta obra foi apoiada pelo Fundo De Volta aos Sets gerido pelo Show Me The Fund]-Brazilian Content-Cinema do Brasil-Projeto Paradiso.

AGRADECIMENTOS
Agradecimentos especiais: Maria Tereza Goulart, João Vicente Goulart, Denize Goulart, Christopher Goulart, Jair Krischke, Movimento de Justiça e Direitos Humanos, Neuza Penalvo, Celeste Penalvo, Ana Rosa Tendler, Silvio Tendler.
Agradecimentos: Show Me The Fund, Secretaria Municipal de Cultura de São Borja, Memorial Casa João Goulart, Remates José A. Valdez y Cía, Pablo Valdez, Néli Balestra, Sergio Fava 'Lillo', Anibal Gonzalez, Nilce Azevedo Cardoso, Norma Beatriz Espíndola, Capitão Wilson, Seu Guri, Rui Noé Lopes Goulart, Celeste Penalvo, Romualdo Paz, Marília Benevenuto, Norma Morandini, Ricardo Alejandro Vassel, Clarice Falcão, Denise Assumpção.

FILMAGENS
Brasil / RS, em Porto Alegre; Itaqui (Fazenda Cinamomo);
Uruguay, em Montevideo (Hotel Alhambra); Tacuarembó (Estância El Rincón);
Argentina, na Ciudad Autónoma de Buenos Aires (Hotel Palermo); na Provincia de Corrientes, Mercedes (Estância La Villa).

ASPECTOS TÉCNICOS
Duração: 1:45:24
Som:
Imagem: cor
Proporção de tela:
Formato de captação:
Formato de exibição:

DIVULGAÇÃO

DISTRIBUIÇÃO
Classificação indicativa: 14 anos.
Distribuição: Synapse Distribution; Caliban Produções Cinematográficas. Direção: Silvio Tendler. Diretora assistente: Lilia Souza Diniz. Produção executiva: Ana Rosa Tendler. Assistência de produção executiva: Diego Tavares. Produção: Maycon Almeida. Coordenação de pós-produção: Taynara Mello. Assistência de pós-produção: Lukas Hoekstra.
Contato: Artéria Filmes.

OBSERVAÇÕES
O filme conta com muitos depoimentos em voz over, sem que haja a respectiva identificação do nome da pessoa que está falando.

Grafias alternativas: Óscar 'Cacho' López Balestra | Maria Tereza Goulart | Pablo Vassel | Juan Roger Rodríguez | Caliban – Cinema e Conteúdo | Show Me The Found | Centro de Fotografia de Montevidéu | Carlos Cunha
Grafias alternativas (funções): Narradores

BIBLIOGRAFIA
Noticiário:
ALMEIDA, Guilherme Fumeo. Jango revisitado – Com imagens até então inéditas, documentário revê o cotidiano de João Goulart em seus 12 anos de exílio. Zero Hora, Porto Alegre, 23-24 mar 2024, Doc., p.13.
ZATT, Carol. A definição de recorte no documentário. Patrimônio Vivo, Porto Alegre, 31 mar 2024.
[https://vivopatrimonio.wordpress.com/2024/03/31/a-definicao-de-recorte-no-documentario/]

Exibições


• Porto Alegre (RS), Cinemateca Paulo Amorim-
Sala Eduardo Hirtz,
28-31 mar, 2, 3 abr 2024, qui-dom, ter, qua, 19h30 (dia 28, comentada com diretor)
4-7, 9, 10 abr 2024, qui-dom, ter, qua, 17h45
Sala Norberto Lubisco,
11-14, 16, 17 abr 2024, qui-dom, ter, qua, 14h15

• Porto Alegre (RS), Espaço de Cinema Bourbon Shopping Country Sala 2, 28-31 mar-1º-3 abr 2024, qui-qua, 21h

• São Paulo (SP), Espaço Itaú de Cinema Shopping Frei Caneca (R. Frei Caneca, 569, 3º piso, Consolação) Sala 5, 28-31 mar-1º-3 abr 2024, qui-qua, 16h

• Rio de Janeiro (RJ), Espaço Itaú de Cinema Botafogo Sala 2, 28-31 mar-1º-3 abr 2024, qui-qua, 17h30

• Porto Alegre (RS), Cinemateca Capitólio, 1º abr 2024, seg (comentada)

• Porto Alegre (RS), Mostra Memórias do Golpe [17-20, 22, 23 out], CineBancários, 22 out 2024, ter, 19h

Como citar o Portal


Para citar o Portal do Cinema Gaúcho como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
Jango no exílio. In: PORTAL do Cinema Gaúcho. Porto Alegre: Cinemateca Paulo Amorim, 2025. Disponível em: https://cinematecapauloamorim.com.br//portaldocinemagaucho/2313/jango-no-exilio. Acesso em: 31 de maio de 2025.