Sacanagens bestiais dos arcanjos fálicos (1998)

Brasil (RS)
Longa-metragem | Ficção
VHS, cor, 80 min

Direção: Petter Baiestorf.
Companhia produtora: Canibal-Mabuse Produções

Lançamento: VHS 1998

 

Este filme marca um ponto de virada na trajetória da Canibal-Mabuse Produções – empresa com cnpj em Porto Alegre fundada em 1998, formada por uma parceria entre os cineastas independentes Petter Baiestorf e Cesar Coffin Souza. O catarinense e o gaúcho estavam juntos desde 1995, produzindo fitas VHS que obtinham boa tiragem no mercado alternativo e underground. A produtora sempre teve o objetivo de chocar o público, mesclando gêneros cinematográficos como o terror, o experimental e o pornô – mas parece ter atingido o seu ápice a partir de 1998, quando iniciou uma safra de títulos transgressores ao extremo como Gore gore gays (P. Baiestorf) e este Sacanagens bestiais dos arcanjos fálicos. Nestes trabalhos, há uma grande quantidade de cenas de sexo explícito, em narrativas que dialogam com o primitivismo, a crueza, a contestação, o deboche e a ironia acerca de todas as convenções sociais (família, igreja, exército).

O enredo é bem básico: um psiquiatra recebe a missão de examinar a sanidade mental de dois pacientes, internados em um hospício. O padre Cristiano Rot (29 anos) e o fotógrafo Nelson Barbosa (40 anos) estão presos pelos crimes de assassinato e consumo de carne humana. Ao longo das investigações, surgem mais detalhes sobre a conduta dos indivíduos, envolvidos em toda sorte de perversões, taras e fetiches. Rot, em especial, demonstra não ter respeitado o celibato, citando inúmeras experiências sexuais com várias parceiras e/ou até mesmo animais. Já Barbosa, questionado sobre outras atitudes extremas como incendiar animais, cobra as autoridades religiosas que queimaram pessoas vivas – durante a Inquisição, na Idade Média (476-1453). Os relatos são capazes de enlouquecer o próprio médico.

No livro Canibal Filmes – Os bastidores da gorechanchada (2020), Baiestorf revela que a ideia do filme partiu de um colaborador seu, responsável por distribuir os conteúdos da Canibal-Mabuse na região sul do Brasil. Ele prometeu ampliar as vendas para todo o território nacional, imaginando que um filme erótico traria mais retorno do que o normal. Porém, o negociante desistiu da empreitada ao perceber que o projeto fugia do tom erótico tradicional. As cenas oferecem dinâmicas de sexo anal, chuva dourada (golden shower), podolatria, necrofilia, zoofilia, agalmatofilia e canibalismo, entre outras excentricidades. As atrizes eram quase todas garotas de programa, recrutadas em prostíbulos locais. Uma análise do pesquisador Lúcio dos Reis Piedade indicou que a obra é "um pornô grotesco, com cenas repulsivas, que serve de veículo às inquietações de Baiestorf e suas críticas e ataques às instituições". Apesar disso, Piedade sugere que o artista era o cineasta maldito mais famoso do país, na época, podendo ser classificado como um adepto do Cinema de Transgressão – termo cunhado por Jack Hunter em Deathripping – The Cinema of Transgression.

A música gaúcha "O Cancioneiro das coxilhas", dos Irmãos Bertussi, consta na trilha sonora. As filmagens se dividiram entre dois estados. Uma sequência não autorizada aconteceu em um camping da Polícia Federal, localizado na divisa entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Trazia uma cena de sexo anal envolvendo um personagem militar. Segundo um membro da equipe: "Se tivéssemos sigo pegos, certamente teríamos algum tipo de problema legal com o exército, mas provocar era o objetivo e foi importante para nós". Já uma das partes mais polêmicas (o casamento de um ribeirinho com uma égua, celebrado pelo padre), foi totalmente gravada no RS: "Passamos dois dias num rancho isolado, no meio do nada, com os peões da fazenda que, diante do nosso estilo bonachão, ficaram muito à vontade. Depois que liberamos várias garrafas de uísque para eles, alguns se revelaram zoófilos e outros, homossexuais. Em certo momento, dois dos peões começaram a contar como era ruim trabalhar ali no rancho, isolado, e, na falta de mulheres, como faziam sexo com éguas e, muitas vezes, entre eles mesmos. Mas juraram que não eram gays, inclusive se mostravam homofóbicos toda vez que algum de nós defendia a homossexualidade", disse Baiestorf.

Sinopse


Médico psiquiatra estuda a cabeça de dois pervertidos e uma sucessão de imagens de mau gosto desfila em sua máquina de ler pensamentos.

Ficha técnica


ELENCO
Carli Bortolanza (padre Cristiano Rot),
Cesar Coffin Souza (Nelson Barbosa),
Petter Baiestorf (Psiquiatra), Antonio Viola (Militar), Madame Z, Lady Fuck (Demônia), Eliane (Esposa do Militar),
Ícara (Beata abençoada), Tânia Masô (Puta do Padre), Munique V, Ana Rabão,
Marcírio Albuquerque (Noivo), J. Montanha, Andréia (Mulher na banheira).
Não creditada: Valeska Black (Vítima / Garota do hospital).

DIREÇÃO
Direção: Petter Baiestorf.

ROTEIRO
Roteiro: Petter Baiestorf, Carli Bortolanza, Jorge Timm, Cesar Coffin Souza.

PRODUÇÃO
Produção: Cesar Coffin Souza, Jorge Timm. Não creditados: Petter Baiestorf, Carli Bortolanza.
Motoristas (não creditados): Claudio Baiestorf, Jorge Timm.

FOTOGRAFIA
Direção de fotografia: Petter Baiestorf.
Iluminação (não creditado): Claudio Baiestorf.

ARTE
Maquiagem gore: Carli Bortolanza.

SOM
Som direto: não creditado.

MÚSICA
Seleção musical: Petter Baiestorf.
Consultoria: Vlad & Coxinha.

Músicas (não creditadas):
• "The Creature from the Black Lagoon" por The Monsters
• "Hang on" por The Monsters
• "Closing my coffin" (Rodrigues, João Urban, Huczok) por Os Catalépticos
• "Cannibal holocaust" (Rodrigues, João Urban, Huczok) por Os Catalépticos
• "Someone's gonna get their head kicked tonight" por Los Gatos Lobos
• "O Cancioneiro das coxilhas" (Honeyde Bertussi, Adelar Bertussi; samba campeiro) por ator
• "Eu me tornei um mutante" ao vivo por Zumbis do Espaço
• "New born son of satan" por Nekromantix
• "Shanty tramp" por Joseph P. Mawra
• "Cadillac podreira" por Ovos Presley
• "Voodoo" por Ovos Presley

FINALIZAÇÃO
Edição: Petter Baiestorf, Carli Bortolanza, Cesar Coffin Souza.
Animatronics: Otávio Buechieler.

EQUIPAMENTOS E SERVIÇOS

MECANISMOS DE FINANCIAMENTO
Companhia produtora: Canibal-Mabuse Produções (Porto Alegre).

FILMAGENS
Brasil /
SC,
RS, numa fazenda.
Período: 1998.

ASPECTOS TÉCNICOS
Duração: 1:20:14
Som:
Imagem: cor
Proporção de tela: 1.33
Formato de captação: VHS
Formato de exibição: VHS

DIVULGAÇÃO

DISTRIBUIÇÃO
Classificação indicativa: 18 anos.
Contato: Canibal Filmes (Palmitos, SC).

OBSERVAÇÕES
Músicas identificadas pelo aplicativo Shazam.

Grafias alternativas: Uzi Uschi (elenco), Uzi Uschi Jr. (música), Chumbinho Freak (direção de fotografia), pseudônimos de Petter Baiestorf | Coffin Souza (elenco) e C. Souza ou Souza ou Cesar Souza (outras funções) | C. B. Rot (elenco) e C. Bortolanza ou Carli Bortolanza ou Bortolanza (outras funções) | Timm e Jorge Timm | P. Baiestorf e Baiestorf | Marcírio Hend e Marcírio Hendrix | Tânia | Viola Holmes

BIBLIOGRAFIA
BAIESTORF, Petter. Canibal Filmes – Os bastidores da gorechanchada. Pinhais, PR: Sangue TV; Pitomba!, 2020. 545p. il. [sobre Sacanagens bestiais dos arcanjos fálicos, p.220-228]

Exibições


• comercializado em VHS a partir de 1998

• disponível para download gratuito em:
https://canibuk.wordpress.com/

Como citar o Portal


Para citar o Portal do Cinema Gaúcho como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
Sacanagens bestiais dos arcanjos fálicos. In: PORTAL do Cinema Gaúcho. Porto Alegre: Cinemateca Paulo Amorim, 2025. Disponível em: https://cinematecapauloamorim.com.br//portaldocinemagaucho/2387/sacanagens-bestiais-dos-arcanjos-falicos. Acesso em: 19 de julho de 2025.