O Marido fera ou O Crime de Bagé (1913)
Brasil (RS)
Longa-metragem silencioso | Não ficção [natural]
35 mm, pb, c.40 min (4 partes)
Companhia produtora: Fábrica de Fitas Cinematográficas Guarany
Primeira exibição: Pelotas (RS), Coliseu Pelotense, 17 out 1913, sex
Filme desaparecido.
As informações mais corretas até então conhecidas sobre O Marido fera ou O Crime de Bagé estão em Santos e Caldas. As informações destes autores, no entanto, são mais sobre o crime em si do que sobre a narrativa do filme. Em todas as sinopses conhecidas sobre este filme lê-se a história do crime; mas seria isso que o filme mostrou? Jornal O Diário (Rio Grande, 29 out 1913) publica em sua coluna cinematográfica o que seria o conteúdo (ver Sinopse). A notícia de jornal como um libreto para o público; note-se que o filme acompanha o que está acontecendo; os antecedentes da história, o que é passado, aparentemente não está no filme; interessava mostrar os lances do momento, porque todos já conheciam os detalhes do crime através da imprensa e do boca-a-boca. Ou seja, o filme não se detém em detalhes do crime em si (como aparece nas pesquisas sobre a película); talvez cartelas explicassem os antecedentes. O filme parece ocupar-se de outros aspectos. Esses outros aspectos, como sugere a descrição dos "14 quadros" que compõem a fita, são altamente descritivos dos principais locais do acontecimento, detalhes que a imprensa vinha esquadrinhando: "O crime de Bagé – O operador cinematográfico Francisco Santos tirou diversas fitas do local em que foi encontrada a vítima". Segundo o jornal, o quarto é baixo, verdadeiro chiqueiro pestilento, tendo uma única abertura, e está provido de forte grade de ferro, sob a qual havia uma tela de arame. O solo do quarto era de barro, havendo imundice em decomposição. Um pouco de palha servia de leito para a vítima. Via-se ainda uma banheira, dentro da qual a infeliz era colocada. (Jornal de Notícias, Santa Maria, 9 out 1913)
Era um quarto que parecia um chiqueiro; não se fala em porcos, mas em "imundice em decomposição". No entanto, Nilo Ruschel escreveu: "No município de Bagé, um estancieiro duvidando da infidelidade da esposa prendeu-a num chiqueiro, onde na companhia dos porcos viveu durante 16 anos". Há mais erros do que acertos nesta frase, como se viu. E de mais a mais, a história real tinha acontecido no espaço de quatro anos e não 16. Uma fonte confiável como o é Santos e Caldas também incidiu na corrente: "(...) Santos produziu o longa-metragem O Marido fera (também conhecido por A Mulher do chiqueiro)"; quando o mais correto daqui pra frente talvez fosse pensar algo como "equivocadamente também conhecido por A Mulher do chiqueiro".
O Marido fera ou O Crime de Bagé, ao lado da produção seguinte da Fábrica Guarany – O Crime dos Banhados (1914) – fazem parte de uma série de "filmes criminais" brasileiros do período, tais como o carioca Os Estranguladores (Antonio Leal, 1908), o paulista O Crime da mala (Alberto Botelho, G. Sarracino, 1908) e os dois A Mala sinistra (versões cariocas por Antonio Leal e Julio Ferrez, 1908) ou Um Crime sensacional (Paulino Botelho, 1913). "Filmes criminais" (BERNARDET, 1995, p.98 e seguintes) seria uma espécie de gênero seminal do Primeiro Cinema no Brasil. A feitura de tais filmes se dá no contexto mesmo em que estes crimes se dão, daí o interesse imediato, sendo a imprensa o programa das imagens que os cineastas se encarregavam de produzir.
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Sinopse
Com os quadros:
1) O rancho de José Alves da Silva, sitiado pela polícia.
2) A única janela do calabouço.
3) A prisão de dois cúmplices.
4) O açude onde a vítima era lançada de noite amarrada de pés e mãos.
5) Vergilina Alves Barbosa, na ocasião de ser presa.
6) A partida dos prisioneiros para a cidade.
7) A chegada à Intendência.
8) Ansiedade do povo à porta da Intendência.
9) Os retratos de Vergilina e do marido, "os verdugos".
10) O povo esperando a saída da vítima.
11) A vítima ao ser transportada para a Santa Casa.
12) A vítima chorando.
13) A vítima recebendo palavras de conforto do vigário Hypolito Costabille.
14) D. Leonidia Rabello, a "heroica" que fez a denúncia à autoridade.
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Ficha técnica
IDENTIDADES
Vergilina Alves Barbosa, José Alves da Silva, Hypolito Costabille (vigário), Leonidia Rabello.
DIREÇÃO
Direção: Francisco Santos.
ROTEIRO
Roteiro: Francisco Santos.
PRODUÇÃO
Produção: Francisco Santos, Francisco Vieira Xavier.
FOTOGRAFIA
Cinegrafista: Francisco Santos.
MECANISMOS DE FINANCIAMENTO
Companhia produtora: Fábrica de Fitas Cinematográficas Guarany (Pelotas).
FILMAGENS
Brasil / RS, em Bagé.
ASPECTOS TÉCNICOS
Duração: c.40 min
Metragem: 1.200 metros
Número de rolos: (4 partes)
Som: silencioso
Imagem: pb
Proporção de tela: 1.33
Formato de captação: 35 mm
Formato de exibição: 35 mm
OBSERVAÇÕES
Sinopse / Conteúdo. In: O Marido fera. O Diário, Rio Grande, 29 out 1913.
Em Rio Grande, "a banda Gioacchino Rossini abrilhantará a função". (O Diário, Rio Grande, 30 out 1913).
Em Santa Maria, primeiro é anunciada exibição para 4 de novembro, mas devido à chuva, é transferida para o dia seguinte.
Pesquisa de G. Póvoas:
na Biblioteca Rio-Grandense, Rio Grande, jan 2002, jan 2004: O Diário, Rio Grande, jul-dez 1913. / Diário Popular, Pelotas, jul-set 1913. / O Tempo, Rio Grande, jul-dez 1913. / Echo do Sul, Rio Grande, out-dez 1913. //
no Arquivo Histórico Municipal, Santa Maria, ago 2002: Diário do Interior, Santa Maria, nov 1913.
no Museu Hipólito, Porto Alegre, jan 2004: Jornal de Notícias, Santa Maria, out-dez 1913.
na Bibliotheca Pública Pelotense, Pelotas, 20 nov 2023: A Reacção, Pelotas, out 1913.
Título: Adotado a partir de anúncios em Echo do Sul, Rio Grande, 30 e 31 out 1913.
Títulos alternativos: Marido fera (O Diário, Rio Grande, 28 out 1913) | O Marido fera (O Diário, Rio Grande, 29, 30 e 31 out 1913) | O Crime de Bagé ou O Marido fera (Anúncios. Jornal de Notícias, Santa Maria, 3, 4, 10, 11 e 12 nov 1913) | [O] Crime de Bagé (Diário do Interior, Santa Maria, 2 e 6 nov 1913) | O Homem fera (A Reacção, Pelotas, 18 out 1913)
BIBLIOGRAFIA
Guia de filmes – Produzidos no Brasil entre 1911 e 1920: segundo fascículo da série Filmografia brasileira. Rio de Janeiro: Embrafilme, jun 1985, p.36, indexado em dois títulos: Marido fera + A Mulher do chiqueiro; tratam-se do mesmo filme.
SANTOS, Yolanda Lhullier dos; CALDAS, Pedro Henrique. Francisco Santos: pioneiro no cinema do Brasil. Pelotas: Semeador, 1995. 107p. il.
SANTOS, Yolanda Lhullier dos; CALDAS, Pedro Henrique. Francisco Santos: pioneiro no cinema do Brasil. 2.ed. Gramado: 24º Festival de Gramado – Cinema Latino e Brasileiro, 1996, p.61-63 e 76.
PÓVOAS, Glênio Nicola. Confusões, entraves, desafios na história da Fábrica Guarany. In: GUTFREIND, Cristiane Freitas; GERBASE, Carlos (org). Cinema gaúcho – Diversidades e inovações. Porto Alegre: Editora Sulina, out 2009, p.17-38.
TRUSZ, Alice Dubina. A produção cinematográfica no Rio Grande do Sul (1896-1915). In: SCHVARZMAN, Sheila; RAMOS, Fernão (org). Nova história do cinema brasileiro: volume 1. São Paulo: Edições Sesc São Paulo, 2018, p.52-89.
Noticiário:
No Rio Grande do Sul – Marido fera – Quatro anos de martírio. A Imprensa, Rio de Janeiro, 29 out 1913, p.2, ano X, n.1.912. [apresenta um resumo aparentemente bastante fiel do crime]
O Marido fera. O Diário, Rio Grande, 29 out 1913.
Diário do Interior, Santa Maria, 6 nov 1913.
Anúncio. Correio do Povo, Porto Alegre, 19 nov 1913, capa.
Anúncio. Correio do Povo, Porto Alegre, 20 nov 1913.
Anúncio. Correio do Povo, Porto Alegre, 25 nov 1913, capa (há também um artigo intitulado "Como nasceu o cinema").
Anúncio. Correio do Povo, Porto Alegre, 3 dez 1913, capa.
Theatros e diversões: Cinematógrafos – Cinema Iris. A Federação, Porto Alegre, 23 nov 1913, p.3, n.273.
Theatros e diversões: Cinematógrafos – Programas para hoje: Cinema Iris. A Federação, Porto Alegre, 25 nov 1913, p.5, n.274.
Theatros e diversões: Cinematógrafos – Programas para hoje: Cinema Iris. A Federação, Porto Alegre, 26 nov 1913, p.6, n.275.
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Exibições
• Pelotas (RS), Coliseu Pelotense, 17, 18 out 1913, sex, sab
• Bagé (RS), Coliseu, out 1913
• Rio Grande (RS), Polytheama Rio-Grandense, 30, 31 out 1913, qui, sex
• Santa Maria (RS), Coliseu Santa-Mariense,
5 nov 1913, qua
12 nov 1913, qua
• Porto Alegre (RS), Cinema Iris, 24-26 nov 1913, seg-qua (+ Amores de artistas)
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Arquivos especiais
Noticiário:
A Reacção, Pelotas, 18 out 1913, p.1.
Nesse último estabelecimento de diversões [Colyseu] houve ontem espetáculo com exibição da fita O Homem fera, apanhada pela empresa Guarany em Bagé.
O sucesso de bilheteria foi estrondoso, pois a casa ficou literalmente cheia.
Dar-se-á ali a repetição do emocionante filme.
Diário do Interior, Santa Maria, 6 nov 1913.
Foi passada ontem na tela do Coliseu a fita que relata o horrível suplício da mártir do crime de Bagé.
Theatros e diversões: Cinematógrafos – Cinema Iris. A Federação, Porto Alegre, 23 nov 1913, p.3, n.273.
Amanhã – Amores de artistas, drama em 5 partes; O Marido fera, importante filme dramático.
Theatros e diversões: Cinematógrafos – Programas para hoje: Cinema Iris. A Federação, Porto Alegre, 25 nov 1913, p.5, n.274.
O Marido fera, drama.
Theatros e diversões: Cinematógrafos – Programas para hoje: Cinema Iris. A Federação, Porto Alegre, 26 nov 1913, p.6, n.275.
O Marido fera, drama.