Meu lugar para Anne (2015)

Brasil (RS)
Longa-metragem | Ficção
HD, cor, 77 min

Direção: Jorge Alberto Salton.
Companhia produtora: SHII Produtora Cinematográfica

Primeira exibição: Passo Fundo (RS), Teatro do Sesc Passo Fundo, 25 mar 2015, qua, 19h45

 

Quarto filme de um projeto cinematográfico realizado por Jorge Alberto Salton, médico psiquiatra e professor nas faculdades de medicina de Passo Fundo desde 1980 (professor titular na UPF, contratado no IMED e professor convidado da Federal de Passo Fundo) com temática da área da saúde. Apreciador do cinema desde a infância, Salton utiliza filmes em suas aulas de Psiquiatria, de Relação Médico-Paciente e de Ética Médica ao ponto de propor aos alunos da UPF a realização de um filme para abordar problemas de resolutividade em consultas curtas. Diga três (2008) inaugura a obra fílmica desse médico-cineasta que visa no cinema fins didáticos. Na sequência realizou Ambulatório das falsas crenças (2011) e Encontros em Berlim – Um filme sobre a compaixão (2012) com a participação de colegas médicos, alunos, parentes e amigos. Meu lugar para Anne é o primeiro que Salton dirige com atores de grupos teatrais de Passo Fundo e no qual roteiriza, edita e fotografa, porém, não atua, ao contrário dos outros três.

Por meio das interações de três núcleos dramáticos, a narrativa estimula reflexões sobre os dramas humanos. A história alude à lenda do Chafariz da Mãe Preta, localizado próximo à Praça Tamandaré, área histórica central, perto do Hospital São Vicente de Paula e do Hotel São Vicente, onde se desenrola o drama de uma mãe (Betinha Mânica) cujo filho adolescente está na CTI em virtude de queimaduras num acidente doméstico. O médico que a atende (Cristian Cardoso) sofre de fadiga por compaixão – estresse relacionado à empatia com o sofrimento dos pacientes – que o leva a buscar conforto nas confidências a um amigo, Chefe da Defesa Civil (José Tedesco), às voltas com a ameaça de invasão da cidade por texanos em pânico com ataques terroristas nos Estados Unidos. Através da personagem Anne, que faz a ligação entre as três histórias, o filme debate os graus de solidariedade quando os sofrimentos são coletivos ou individuais.

Em depoimento para o Portal do Cinema Gaúcho, em 29 de janeiro de 2021, Salton conta que elaborou o roteiro a partir da mãe: "Há muitos anos tinha publicado um livro sobre esta personagem. Eu trabalhava num consultório e saia para dar aula na FM e passava pela Praça Tamandaré, que é a praça que fica praticamente junto ao maior hospital da cidade, o São Vicente, e naquela praça ficam os familiares, sentados nos bancos, aguardando notícias dos familiares doentes. Eu cruzava por ali milhares de vezes e observava aqueles familiares. O romance é sobre uma personagem que faz parte da vida real: eu atendia uma pessoa, uma mãe que estava vivendo este drama, que ficava ali na Praça. O filho, infelizmente, faleceu. Eu pedi para ela se eu poderia usar a história para escrever o romance. Claro, eu mudei muito". A partir do argumento retirado de seu livro Árvore dos sussurros (Ediupf, AAAnnes, PF, 1995) completou o roteiro com o drama individual do médico pelo qual aborda todas as síndromes emocionais e ocupacionais que atingem os profissionais da saúde e o medo coletivo a partir de episódio da época, comentado na mídia, sobre a ameaça de uma bomba de maleta que poderia chegar aos Estados Unidos. Sobre o Chafariz da Mãe Preta, conforme o livro Árvore dos sussurros: "Uma escrava chamada Mariana quis morrer de desgosto porque seu único filho saíra de casa e não mais voltara. Conseguiu que Jesus a levasse e deixasse em seu lugar uma fonte de água. Quem bebe dessa água, um dia voltará" (p.107). A lenda é descrita no filme em diálogo do Chefe da Defesa Civil e a mãe, diante da fonte.

Ainda que pesem alguns problemas de gramática audiovisual e certas contradições ou incoerências no roteiro, Meu lugar para Anne tem as marcas de estilo que aparecem nos filmes anteriores como as citações literárias e a voz over que revela o complexo interior dos personagens. Alguns planos são perfeitamente compostos: da ponte Rio-Niterói, captada por Salton de um barco no mar para inserção no filme durante um Congresso de Psiquiatria no Rio de Janeiro e os trigais de Passo Fundo onde se desenrolam os diálogos sobre o problema dos texanos. O trigo é símbolo do desenvolvimento da cidade e Salton inseriu essas imagens, junto com as da Praça Tamandaré, Praça Marechal Floriano, conhecida como Praça da Cuia (instalada pelo pai Wolmar Salton quando foi prefeito entre 1956-1960), e das ruas que o médico percorre em seu trajeto para o trabalho, com o objetivo de valorizar a cidade.

Participam o irmão Carlos Armando Salton como o avô que conta para a neta a história da aquisição das terras que os texanos ameaçam tomar e Guto Pasini, enfermeiro que se compadece da dor da mãe, ator conhecido do teatro local por seu trabalho como palhaço.

O acompanhamento musical "Tema de Anne" foi especialmente criado por João Tavares Filho e os clipes musicais cedidos pela banda PRR, de Passo Fundo.

Meu lugar para Anne integrou o projeto Cine Sesc Brasil, além de ser exibido em universidades e especialmente em cursos e congressos da área da saúde.

Sinopse


Angelita aguarda enquanto seu filho adolescente Jackson é tratado na área de queimados do CTI do Hospital São Vicente de Paula, próximo ao Hotel São Vicente, onde está hospedada. Na Praça Tamandaré, ela senta no banco, deixa-se levar por divagações sobre seu filho e fala sozinha, despertando a curiosidade da jovem Bárbara sentada ao seu lado. Ao longo do filme, Angelita expressa sua angústia através de voz over: rememora o acidente que vitimou o filho; revisa seu passado e a relação com o marido; na Praça encontra o marido e as duas filhas pequenas que cobram sua ausência; no quarto do Hotel divaga sobre sua vida olhando pela janela; na cafeteria da Livraria Delta conversa com o enfermeiro do Hospital que a convida a sair a fim de distraí-la do sofrimento pelo qual está passando; em conversa com a recepcionista do Hotel lembra de viagem ao Rio de Janeiro feita no ano anterior com o filho; diz ao médico que vai assistir o jogo de futebol Inter x São Paulo que o filho queria ver. Com o Chefe da Defesa Civil, numa conversa no Chafariz da Mãe Preta – onde explica a lenda para ela – Angelita conta que o filho prestes a morrer quer que seu lugar na cidade seja destinado à Anne.
No meio de um campo de trigo, o Chefe da Defesa Civil conversa sobre o valor do terreno com o corretor de imóveis Bill, australiano que está na cidade negociando aquisições. O Chefe da Defesa Civil diz para a filha Bárbara que texanos assustados com ameaças terroristas nos Estados Unidos estão comprando terrenos e vão invadir Passo Fundo pela proximidade e facilidade de acesso pelo aeroporto. O pai do Chefe da Defesa Civil conta para a neta que as terras da família foram adquiridas pelo seu pai que era colono e ninguém vai tirá-los dali. O assunto é tema das conversas caseiras entre eles, que falam de política internacional e terrorismo. Bárbara surpreende o pai ao informar que está namorando Bill. O Chefe da Defesa Civil organiza um bloqueio dos moradores da cidade para impedir o desembarque dos americanos no aeroporto.
No Hospital, o médico Dr. Paulo fala para Angelita sobre a gravidade das queimaduras de seu filho, os motivos porque ela não pode entrar no quarto para vê-lo e que a comunicação deve ser por skype. Com seu amigo, o Chefe da Defesa Civil, em momentos diversos ao longo do filme, Dr. Paulo conversa sobre seus problemas conjugais, que é incompreendido pela esposa e de suas dificuldades em relação ao sofrimento dos pacientes. A rotina do médico é mostrada em situações de atendimento de Angelita, na sala de aula com os alunos e em dois clipes musicais da Banda PRR: enquanto ele sai de casa, dirige pela cidade e chega ao Hospital.
Pelo skype, Jackson, que é citado mas não é visto, passa a se comunicar com uma jovem texana chamada Anne. O Chefe da Defesa Civil se confronta com o dilema do pedido do adolescente que lhe foi transmitido por Angelita. Junto com o pai e a filha Bárbara, tentam furar o bloqueio organizado para que Anne possa sair do avião. No trigal da família, próximo ao aeroporto, o Chefe da Defesa Civil, sua filha Bárbara e o médico avançam e atrás deles corre o pai que cai e no cartaz que carrega está escrito: "Anne Welcome!".

Ficha técnica


ELENCO
Betinha Mânica (Angelita),
Cristian Cardoso (Dr. Paulo),
José Tedesco (Chefe da Defesa Civil),
Ana Marques (Bárbara),
Carlos Armando Salton (Pai do Chefe da Defesa Civil),
Guto Pasini (Enfermeiro em conversa na Livraria Delta),
Pimpa Slhessarencko,
Franciele Schambeck,
Cesar Scortegagna, Geancarlo Rotta de Camargo,
Daniel Vargas, Gabriel Terra, Fernando Schaffazick,
Renata Fauth Dickel, Vitória Lopes, Paulo F. de Oliveira, Fernanda Gabriela Matte, Emanuele Machado, Lara Welter, Marina Menegolla, Ney Eduardo Possapp d'Ávila.
Figuração (não creditados): Jorge Alberto Salton (passando no corredor do Hospital), alunos da Faculdade de Medicina e de outros cursos da área da saúde da UPF.
Arquivo (não creditado): Theobaldo Thomaz.

DIREÇÃO
Direção: Jorge Alberto Salton.

ROTEIRO
Roteiro: Jorge Alberto Salton.
Roteiro: EDA-Fundação Biblioteca Nacional nº 505.782, livro 958, folha 27.
Não creditado: História da mãe, baseada na novela Árvore dos sussurros, de Jorge Alberto Salton, por sua vez baseada no relato autorizado de uma paciente.

PRODUÇÃO
Produção (não creditado): Jorge Alberto Salton.

FOTOGRAFIA
Direção de fotografia (não creditado): Jorge Alberto Salton.

SOM
Som: som da câmera.

MÚSICA
Trilha sonora: João Tavares Filho.
Canções: Banda PRR: Paulo Reichert, Elias Duarte, Carlos Bolacha, Hélio Ribeiro, Bruno Philippsen, Alcemar Pitágoras.

Músicas:
• "Tema de Anne" (João Tavares Filho) [instrumental]
• "Odisseia" por Banda PRR
• "Reminiscências" por Banda PRR

ARQUIVO
Citações:
Gravuras:
Canto da sereia / eradaincerteza.blogspot.com.br.
Caronte. Gustave Doré, para A Divina comédia.
Sisifo / geekcafe.blog.br.
Livros:
ALIGHIERI, Dante. A Divina comédia – Inferno. Editora 34.
BALZAC, Honoré de. Falsa amante.
PINKER, Steven. Tábula rasa. Companhia das Letras.
CUNHA, Euclides da. Correspondência.
Jornal: O Nacional, de Passo Fundo.

FINALIZAÇÃO
Edição: Jorge Alberto Salton.

MECANISMOS DE FINANCIAMENTO
Companhia produtora: SHII Produtora Cinematográfica (Passo Fundo).
Apoio cultural: UPF Universidade de Passo Fundo; Sesc.

AGRADECIMENTOS
Agradecimento especial: Luiz Todeschini.
Agradecimentos: Hotel São Vicente, Garra, Hospital São Vicente de Paulo, Elizabet Cartelli de Carvalho, Luiz Carlos Carvalho, Produtécnica, Livraria Delta, Funerária Prado, O Nacional, RBS TV, UPF TV, Rádio Uirapuru, Rádio Planalto, Versa Magazine, Márcio Prado, Paulinho do Garra, Iliana de Fátima Artuso, Chico Garcia, Pedro Cóser, Mariana Coser, Rejane Salton.

FILMAGENS
Brasil / RS, em Passo Fundo, em locações como: Hotel São Vicente; Praça Tamandaré aka Praça dos Plátanos; Hospital São Vicente de Paulo; Delta Livraria; Aeroporto Lauro Kortz; Pingado Café; Faculdade de Medicina; Chafariz da Mãe Preta (no entroncamento das ruas 10 de Abril com Uruguai); funerária Prado – Serviços Póstumos; Praça Marechal Floriano;
Brasil / RJ, no Rio de Janeiro, Ponte Rio-Niterói (filmada da barca que faz a travessia).
Período: 2014.

ASPECTOS TÉCNICOS
Duração: 77 min
Som:
Imagem: cor
Proporção de tela:
Formato de captação: HD
Formato de exibição: Blu-ray

DISTRIBUIÇÃO
Classificação indicativa:
Blu-ray: Distribuição: Passo Fundo: SHII, sd, Coleção Filmes para repensar a medicina, v.5.

Contato:
prrbanda@yahoo.com.br

OBSERVAÇÕES
Cf. créditos iniciais:
// [desenho de uma câmera, por:] Terezinha Castro / terezinhasodesenho.com.br. //
// ANCINE nº 18914 //

Cf. finais: // Este filme é uma obra coletiva. Todos trabalharam gratuitamente. //

Grafias alternativas: Carlos A. Salton (iniciais) e Carlos Armando Salton (finais) | Rejane B. T. Salton | Bruno Philipsen

BIBLIOGRAFIA
SALTON, Jorge Alberto. Árvore dos sussurros. Passo Fundo: Armando Araújo Annes Casa Editorial, Editora Universidade de Passo Fundo, 1995. 121p. Contracapa: Tania M. K. Rösing. Primeira orelha: Eric Nepomuceno. [romance]
SALTON, J. A.. L'Albero dei sussurri. Passo Fundo: EDIUPF, 1997. Tradução: Nestore Codenotti.

Exibições


• Passo Fundo (RS), Teatro do Sesc Passo Fundo, 25, 26, 30, 31 mar 2015, qua, qui, seg, ter, 19h45

• Belo Horizonte (MG), COBEM 55º Congresso Brasileiro de Educação Médica, 2017 [55º foi em Porto Alegre]

• Passo Fundo (RS), Cinematógrafo Cineclube, anexo do Sindicato dos Comerciários, 18 jul 2018, qua, 19h30 (bate-papo com diretor)

Distribuição de c.50 cópias para os espectadores após cada apresentação nos congressos; por isso Salton não sabe informar em quantos lugares mais o filme foi exibido e/ou continua sendo; ele conta que recebeu vários retornos positivos por e-mails e retornos pessoais em encontros em congressos.

• YouTube, disponível em versão com 67 min

Como citar o Portal


Para citar o Portal do Cinema Gaúcho como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
Meu lugar para Anne. In: PORTAL do Cinema Gaúcho. Porto Alegre: Cinemateca Paulo Amorim, 2024. Disponível em: https://cinematecapauloamorim.com.br//portaldocinemagaucho/980/meu-lugar-para-anne. Acesso em: 22 de novembro de 2024.